Foi a primeira que gravamos. Um partido alto com aquele clima de final do segundo tempo, 1 X 0 para o adversário, pressão pra cima deles! O solo é de violão e tem uma introdução pseudo-caótica que lembra a bagunça da feira lotada de gente – ou a fila para o clássico, à entrada do estádio. Uma beleza!

Farinha d'água

Final de ensaio. As idéias de arranjos surgindo. Música complicada, cheia de guéri-guéri, mudanças de climas, tensões. Aí, paramos pra conversar e percebemos que teríamos mais trabalho em dar nome à canção do que em tocá-la. Foi quando o papo se aprofundou: nosso trabalho deve buscar a simplicidade, mesmo quando a sonoridade for meio complexa. “Essa aqui, por exemplo”, alguém disse: “é complicadinha e tal, mas tem que ser simples. Algo que faça sentido pra quem não é musico. Tem que ser ‘tipo’ musica para a sogra ouvir.” Pronto! Tava batizada.

Música Para Sogra Ouvir

Seu Chico é o velho Opará, como os índios chamavam o rio São Francisco. A nascente brota na região da Serra da Canastra. O "corgo" vai singrando a montanha, descendo a serra e se juntando a seus afluentes. É violão, piano e saxofone contando o curso do rio rumo ao norte. Norte de Minas, Bahia, nordeste. Então lá pra depois de Januária a viola entra na história, porque o que vem pela frente, Ibotirama bem sabe, é dureza. Mato seco, vida seca, barro seco. 
Bateria, percussão, vocalizes vem e vão, como o rio que serpenteia o sertão e mata a sede do homem; é o Surubim, o Piau, o Curimatã-pacu que mata a fome. Eis que então Xique-Xique avisa: Sobradinho, a represa, vem aí. E Seu Chico ganha força. É Petrolina, é Juazeiro, é cheiro de mangaba em Sergipe. Propiá, Penedo, Piaçabuçu, vôo quente do sopro no sax, são as Alagoas dizendo "aqui é foz, é sal, é mangue, é feira de som, de cor, de cheiro, aqui é o oceano. E sede? Sede nunca mais".


Seu Chico

No princípio era o ritmo. Aí, numa tarde de sábado, aquele calor seco de Brasília, eu e o piano tentávamos entender o que o Ismael queria com a harmonia. Entrei na onda de  influenciá-lo. Sem chance! Ela já tinha tudo na cabeça. Nos ensaios ficou claro que o desenho da melodia não aceitava nada do que tínhamos até então. Foi quanto a gaita entrou, passeando pelas paisagens cheias de alterações de compassos – metáfora das veredas que trilhamos, mudam-se as formas de contar o tempo, as paisagens e os caminhos.

Veredas

Essa bossa-choro tem uns diálogos interessantes entre violão e flauta. Conversa que se abre para alguns comentários pianísticos. Tudo ambientado na cozinha bem planejada e sustentada pelo baixo do Hamilton, somado à bateria do Pitt e percussão do Ismael.

Ladeira

Pense num passeio pelas ruas de Olinda! Aquele calorão, bonecos gigantes balançando os braços ao som do frevo, animação, dança, abundância de cores. Agora imagine, num piscar de olhos, ser transportado para a praça Tiradentes, em Ouro Preto. A arquitetura barroca, a poesia de Minas, a riqueza das melodias do Clube da Esquina. Essa é a viagem que propomos em Frevendo.



Frevendo Nas Gerais

Os caminhos da flauta em Cipó remetem à cultura popular e às influências do folclore nordestino. Mas nem tanto! O arranjo se apropria de elementos modernos, que se somam aos elementos clássicos do baião, tornando a canção meio híbrida. É o que se percebe já de cara, na pulsação do violão que, acentuado pela percussão, traz um caldo meio latino – antes começar o arrasta-pé. Timbres de piano elétrico e órgão parecem dar novas cores à poeira!

Cipó

Há Quem Tenha Saudade

Instrumental por vocação, o choro passa pela feira trazendo a malandragem típica do violão de 7 cordas. E como não poderia deixar de ser, vem com uma cara diferente – a   harmonia é, digamos, um pouco out – considerando a tradição do estilo. O movimento é a tônica. Do barco, do vento, das ondas, dos homens. 

Navegantes

Dia normal, daqueles com transito lento de manhã, contas vencendo, telefonemas, emails, ensaio – tudo pra ontem. Lembra de quando você disse que comeria de 3 em 3 horas? Esquece. Pois é, tava assim. Mas aí eu liguei o piano, fone no ouvido, madrugada chegando... assim nasceu a calma, novamente. Música que emerge do cotidiano, que brota do silêncio raro e convida à desaceleração.

Nova Calma

Essa é cheia de ginga e de gente. Dançante e alegre como o balançar das saias coloridas, dos sapatos empoeirados e dos cabelos soltos. Festa popular - interação e diálogo ao som do triângulo que assiste o bate-papo entre o bandolim e a flauta. Dedicada ao Caio, que já nasceu digital, interativo e cheio de ritmo. No baião. 

aFeira

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