Teus Olhos (Marcelo Camelo)

Será
Depois de muito muito tempo em alto mar
Houve algum barco que desistiu de voltar
Um marinheiro que perdeu sua paixão

Não quer falar 
A terra firme só lhe lembra desespero
E só consegue se enxergar no nevoeiro
Não sente gosto, cheiro nem decepção

Senta no chão
Com seu lamento, a sua barba o esconde
Sua tristeza rema sem saber pra onde
Seu desatino nao sabe que horas são

O seu adeus
Silenciado nunca teve endereço
Seu sofrimento nunca teve um avesso
Mas mesmo assim faz uma última oração

Mar gigante
Vida pequena
Se algo vale a pena
Me leva daqui

Mas se eu for só deserto
Me leva pra perto
Do fundo do mundo
Pra dentro de ti

Nó de Marinheiro

O cemitério de Paraibuna, no interior de São Paulo, tem no seu portão de entrada um letreiro escrito "Nós que aqui estamos por vós esperamos". No entanto, a espera só é mesmo um dilema no mundo dos vivos, e nos momentos de grande perda (como a de alguém que se ama), o que se pode esperar? Como se pode sentir?

 Esta é uma das minhas primeiras canções, escrita anos atrás para uma amiga minha que passava por essa aflição. Nunca mostrei a ela a música, nem a ninguém; agora fica o registro aqui. Espero que gostem!


 Nós que aqui estamos por nada esperamos

 Quando acaba a tarde
 Pra virar manhã pra sempre?
 Mais uma volta em nosso eterno carrossel
 Como é ter que ver a palavra saudade
 Ter que caber em um pedaço de papel? 

 Talvez não dependesse de nós
 Mas daqui pra frente vamos ter que fazer
 Outros laços em meio aos nós
 Mesmo que nenhuma voz nos tenha algo a dizer

 Como se sabe o que é frio
 Se nunca se sentiu calor?
 Como se corta ao meio um fio,
 Ou se explica a um cego como é uma cor?
 Como é que pode ser isolado
 O fato de que não há mais cantos?
 Portas e olhos fechados
 E num espelho embaçado uma cara de espanto

 Tudo bem, sempre tem um amanhã
 Mas será que tem mesmo?
 Talvez hoje eu consiga dormir
 Mas acho melhor deixar meu abajur aceso

 E no chão não há pedras na mão
 Mas tem horas que são para não se entender
 E se esconder no vão
 Desenhar com carvão
 O próprio coração
 Pra buscar um por quê

 E deixar amanhecer

Nós que aqui estamos por nada esperamos

Bailarina

Uma peça quebrada
A lágrima guardada
Eu pude consertar

Da língua afiada
Do golpe de espada
Eu pude desviar

As coisas mais sensíveis
Eu as vi possíveis 
No brilho do olhar

Mas por alguma causa
A sua música pausa
E eu não sei mais dançar


Me vira a cabeça
Me põe às avessas
Me joga no chão

A linda bailarina
Se fez minha sina
Me fez seu pião

Depois me pôs de lado
Surrado e quebrado
Não me deu um fim

Por favor me esqueça
Por pior que pareça
É melhor assim

Retratos guardados
Jornais empilhados 
Eu não quero ver

Tras um doce salgado
Um café gelado
Por mim pode ser

Sorriso emoldurado 
Um brilho arranhado
Faz anoitecer

Vem cantar a saudade
A canção covarde
Feita por você


Me vira a cabeça
Me põe as avessas 
Me joga no chão 

Saudade desatina 
Se faz minha sina
Me faz seu pião

E me deixa acordado
Surrado e quebrado
Achando que é o fim

Meu amor, apareça 
Por mais que eu te esqueça 
Eu não estou mais em mim

Autor: Djalma Rossi

Bailarina

Autor: Djalma Rossi
Integralmente produzida e executada por Gustavo Estábile
Agradecimento a Leone Oliveira por sugestões fundamentais no processo de produção

Letra:

Olha, Maria
É tão doído eu não poder fazer nada 
Jogo perdido
Dor de bandido que assaltou a casa errada
Devo dizê-la que é covardia
Ser barrado no portão 
De uma festa que só você ia
E a vida quis que eu não

Mas vem sem que eu queira
Queima feito lareira 
Que inflamava e não se via

Pois só de vê-la
Em mim nasce uma estrela
Em mim parte uma agonia 
De apenas ver sem poder tê-la, Maria

Olha, Maria
Este estado me leva de mal a pior
Planta sem dia, sono acordado, sorvete sabor jiló
Devo dizê-la, estou chateado 
Por algo que aconteceu 
Viram o você com um belo rapaz 
E esse rapaz não era eu

Maria

Autor: Djalma Rossi
Integralmente produzida e executada por Gustavo Estábile
Agradecimento a Leone Oliveira pelas sugestões fundamentais no processo de produção.

Letra:

O homem só
Saiu de casa e não levou seus documentos 
Já o pesava o que carregava por dentro
Brigou consigo e não queria mais voltar

Sob o sol
De mãos vazias só rezava pra que o vento
O carregasse da cidade de cimento
E acabou parando em frente ao mar

Molhou seus pés
Fez um pedido que há muito não fazia
Que maré cheia levasse a sua agonia
E a correnteza lavasse o seu coração

E derramou
No oceano um pouco mais de água salgada
Se prometeu que cada mágoa guardada
Escaparia como a água em sua mão 

Que a vertigem vaga firme os pés na areia
Que a noite doce hoje o traga a lua cheia
Que vida breve o vento leve feito poeira
O orgulho e o barulho que ele traz em suas veias

Que o passo o peso a pressa fiquem pra trás
Que o barco desgastado possa achar um cais
Onde é possível dizer que é cedo demais 
Sonhar que o dia vá nascer 
Com o céu lilás

Teus Olhos (Marcelo Camelo)

Bile

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