Nos anos 1950, o Brasil conhecia Carmem Costa, uma grande cantora, uma voz diferente de grande força interpretativa que lançou essa toada pelo selo Copacabana, em 1956, oferecendo a Capiba a mesma evidência dos grandes nomes da MPB. Esse era o único registro dessa música, que nos chega agora com nova roupagem, numa releitura bastante delicada, na voz da cantora Rogéria, sob um arranjo ousado e insinuante de Missionário José.

Começo De Vida - Rogéria

Uma demonstração inequívoca do Capiba romântico, essa música integra o LP Sambas de Capiba, interpretada por Claudionor Germano. Parceria com o poeta pernambucano Carlos Pena Filho, da qual frutificou também o sucesso A Mesma Rosa Amarela, que tornou seus autores figuras importantes no movimento da bossa nova. Mantida a tradicional batida que caracteriza esse ritmo, o arranjo de Paulo Arruda e a interpretação de Vanessa Oliveira sugerem, a partir dos primeiros acordes, um retorno aos bons momentos daquele movimento musical em que também o compositor Capiba teve presença marcante.

Claro Amor - Vanessa Oliveira

Inicialmente gravada como valsa, tornou-se conhecida depois como guarânia, na voz de vários intérpretes desde 1955, quando foi gravada pela primeira vez, por Orlando Correia. Sua última gravação recebeu a interpretação de Ney Matogrosso no CD Mestre Capiba, do violonista Raphael Rabello. Aqui, ganha uma nova versão através da sensibilidade da voz competente de Juçara Marçal, intérprete talentosa, de presença relevante, sob um arranjo que, apesar de não modificar a expectativa de uma tradicional guarânia, consegue ser moderno e sugestivo, revelando um sax com variações agradáveis.

Serenata Suburbana - Juçara Marçal

Mais uma vez se exacerba o espírito romântico de Capiba, desta feita, em pleno Carnaval, à espera da volta de um grande amor. Música lançada nacionalmente em 1950, na interpretação de um dos ídolos da Era de Ouro do Rádio, o cantor Carlos Galhardo. Nesse disco, uma releitura muito interessante, um arranjo em que Fernando Rangel consegue mostrar seu talento, sua sensibilidade e conhecimento musical. Uma interpretação muito feliz, na voz também romântica da cantora Cláudia Beija.

Quando Se Vai Um Amor - Cláudia Beija

Da primeira vez em que se tentou resgatar o ecletismo de Capiba — pois, até então, ele só era conhecido popularmente como compositor de frevos —, a Fábrica de Discos Rozenblit lançou, em conjunto com a Fundação Joaquim Nabuco, em 1982, o LP Capiba Ontem, Hoje, Sempre, com o cantor potiguar Expedito Baracho. Uma das faixas é Campina Cidade Rainha, na qual o compositor presta uma homenagem à grande cidade paraibana por ter vivido ali parte de sua vida. Aqui, a voz feminina, bela e afinada de Fernanda Cabral abraça a melodia como se por ela tivesse sido feita. Talento que, somado ao competente arranjo de Marcos FM, revive uma melodia praticamente inédita do Mestre Capiba.

Campina Cidade Rainha - Fernanda Cabral

Capiba é considerado o pioneiro da apresentação da música dos maracatus nos salões dos grandes clubes sociais. O folguedo vivia, então, uma época de grandes preconceitos na década de 1930. Quando o compositor, que era membro da Jazz Band Acadêmica do Recife, realizou turnê pelo Sul do País, levou esse maracatu na bagagem. Em 1937, em pleno auditório da Rádio Tupi do Rio de Janeiro, é lançado com explicações, inclusive sobre sua origem. Logo depois, foi lançado pelo selo Colúmbia na voz da cantora Mara Henrique. Agora, chega revestido por um belo arranjo de Juliano Holanda, tendo como intérprete uma cantora de voz bastante agradável, segura e afinadíssima chamada Karynna Spinelli, que conheci interpretando grandes sambas e aqui revela um pouco mais do seu talento.

Eh! Uá Calunga - Karynna Spinelli

Competindo em festivais pelo Brasil afora, Capiba conhece outros compositores. Entre eles, o carioca Délcio Carvalho, conhecido nas rodas de samba, de quem se torna parceiro nessa música. Inédita em disco, até seu lançamento em 2000, no disco A Lua e o Conhaque, com interpretação do próprio Délcio Carvalho. Essa nova leitura, trazida por Ylana Queiroga, insinua, na primeira frase da canção, um valseado, debruçando-se em seguida por sobre um ska, exatamente no momento em que a poesia da música diz “eu quero as emoções dessa estrada”. Um arranjo bem elaborado pelo jovem Yuri Queiroga, que termina com um sonoro trombone fechando com chave de ouro o arranjo que foi, sem dúvida, muito bem acomodado nessa música de Capiba, até então desconhecida do grande público.

Sem Pressa De Chegar - Ylana Queiroga

A palavra saudade é uma constante na obra de Capiba. Nostálgico em diversos momentos de suas composições, unia o gosto pelos sons melódicos e harmoniosos. Nessa música não foi diferente, quando lançada, em 1963, pelo cantor Carlos Nobre. O mesmo acontece com essa interpretação e esse arranjo. Momentos de música quase erudita nos transportam para a bela poesia da letra, na suave e personalíssima voz de Solis, cantora que tive um enorme prazer em ouvir. O arranjo de Ivan do Espírito Santo veste, como uma luva, os belos momentos em que a intérprete se debruça sobre a melodia.

Resto De Saudade - Solis

Toada afroxangô da obra de Capiba, lançada, em 1966, pelo intérprete baiano Edy Souza. Concorreu ao I Festival Nacional de MPB da TV Record, tornando-se uma das classificadas. Mostra o espírito sempre jovem e competitivo do autor. É mais uma de suas músicas pouco conhecidas, lançada apenas uma vez pelo selo da gravadora Codil. Regravada agora, recebe um arranjo sólido e bem elaborado dos violeiros Caçapa e Hugo Linns, que mostra bastante compreensão da obra do compositor Capiba. A interpretação, da cantora Alessandra Leão, sugere afinidade total com os objetivos dos arranjadores, tornando-a uma música ainda mais bela.

Dia Cheio De Ogum - Alessandra Leão

No início da década de 1960, quando era lançado o sistema de Alta Fidelidade, a Fábrica de Discos Rozenblit lançava o LP Sambas de Capiba, fase bossa-novista e romântica do compositor, na voz de Claudionor Germano. Dentre os sambas, destacavam-se Não Quero Mais (1930) e Ai de Mim, parceria com Carlos Pena Filho. Os versos do poeta do azul e a música do menino de Surubim são agora revelados sob uma ótica totalmente diferente, muito personalizada pela intérprete Nana, que também é autora do arranjo. Uma concepção que, confesso, surpreendeu-me pela ousadia e ao mesmo tempo pelo resultado bastante competente e bem resolvido, constituindo-se em mais uma surpresa desse disco.

Ai De Mim - Nana

As composições que foram gravadas no disco Capiba, Elas e Outras Canções, vêm apresentar o compositor Capiba distante do clima carnavalesco pernambucano que tanto inspirou suas músicas. No álbum, ritmos como samba, bossa nova, maracatu, canção e toada. A principal intenção desse projeto é divulgar canções do repertório do compositor, rearranjadas e interpretadas por músicos e cantoras da música contemporânea brasileira.

Ficha técnica
Realização e coordenação geral: Sambada Comunicação e Cultura
Direção musical: Marco Cesar
Produção musical: Missionário José
Produção executiva: Paloma Granjeiro e Pedro Rampazzo
Produção fonográfica: Discos Legais Produções
Seleção de repertório: Paloma Granjeiro, Pedro Rampazzo e Renato Phaelante
Gravação: Christiano Lemgruber e Marcílio Moura (Fábrica Estúdios – Recife/PE)
Gravação Ai de Mim: Nana (Cafofinho da Nana – Salvador/BA), Antônio Arruda e Carlos Cacá Lima (YB Studios – São Paulo/SP)
Gravação Serenata Suburbana: Antônio Arruda e Carlos Cacá Lima (YB Studios – São Paulo/SP)
Mixagem: Marcílio Moura (Fábrica Estúdios – Recife/PE)   
Masterização: Pablo Lopes (Fábrica Estúdios – Recife/PE)
Textos: Renato Phaelante
Ilustrações do encarte: Julieet
Design gráfico e capa: Daniela Brilhante
Comunicação: Sambada
Making of
Direção: Pablo Lopes
Captação de imagens e edição: Luciano Valença
Supervisão de finalização: Rafael Reines

Agradecimentos
Alexandre L'Omi L'Odò, Beto do Bandolim, Bozó 7 Cordas, Camila Souza, Daniela Brilhante, Fábrica Estúdios, Fundarpe, Jeff Moura, Julieet, Governo do Estado de Pernambuco, Marcílio Moura, Marco Cesar, Maurício Cavalcanti, Missionário José, Pablo Lopes, Renato Phaelante, Secretaria de Cultura do Recife, Zezita Barbosa.


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