Criaturas todos somos, todos Filhe de ninguém. 
Mas sejam avós ou pais, todos são Filhe de alguém. 

Letra e Música: Edgar Valente

“Quem tem mãe tem tudo e pai também. 
Quem não tem também tudo pode ter. 
Mas quem tem pode vadiar p'lo tempo, 
e voltar sempre a casa p’ra comer, 
e voltar sempre a casa p’ra crescer. 

Ó mãe! Deixa lá cheirar o tacho! 
Ó pai! Olha que eu não sei fazer! 
Vá! Que é p’ra ver se eu me despacho, 
que só tenho a vida inteira pr’a viver. 
Sou novo tenho mais o que fazer… 

Quem tem mãe tem tudo e nada tem! 
E quem tem pai tem tudo e nada tem também. 
Mas quem não tem não é menos que os outros, 
que por terem pensam ser alguém. 
Tendo ou não tendo são sempre ninguém! 

Ai mãe! Já deixei queimar o tacho! 
Ai pai! Não fiz como deve ser! 
Vá, que eu um dia logo acho, 
que tinha a vida inteira p’ra viver... 
E ouço o que estavas a dizer.”

________________
 
Vozes: Edgar Valente e Gil Dionísio 
Gaita-de-Foles Minhota: Ricardo Coelho 
Adufes: Rui Júnior e Tiago Vicente 
Bombo de Lavacolhos: Edgar Valente e Tiago Vicente 
Bateria: Fábio Cantinho 
Guitarra Portuguesa: Acácio Barbosa 
Bandolim: Alexandre Bernardo 
Baixo Eléctrico: Paulo Lourenço 
Guitarra Eléctrica: João Aguiar 
Taça Tibetana: Tiago Vicente 
Piano e Sintetizadores: Edgar Valente 

Conta com um excerto samplado do tema "Recolhimento", de Rui Júnior, manipulado por André Geada. 

Gravação: estúdios Musibéria e Kimahera. 
Captação: André Espada, Hugo Baletas, Paulo Lourenço 
Edição: Paulo Lourenço 
Mistura e Masterização: Tó Pinheiro da Silva 

artwork//Duck.Production (Catherina Cardoso e João Catarino)

Aurora

Filhe

Criaturas, todos somos. 
Pastores também, tal como Gado. 
Cada um em seu alento. A opção está no Cajado. 

Letra: Edgar Valente / Gil Dionísio 
Música: Criatura 

“Dantes o homem traçava o perfil, 
Com o castanho e verde dos campos, 
C’os pés na terra e cabeça nas nuvens, 
Cada homem, seu cantar. 

Agora trocou-se o céu à terra, 
Aos que cantam o mesmo canto. 
O que importa mede-se aos números, 
O que interessa mede-se ao espanto. 
E empilham-se nos prédios 
Onde viv'empoleirados, 
Seguem trilhos d’ um pastor 
Que os quére ver' embrulhados. 

É calado, sem cajado, 
O pastor de tantos santos. 
Conta contos, canta prantos. 

Sem querer caiu o espanto, 
Sem corrida fez-se vida, 
E de o mar que nunca viu. 

Alguém fale, ninguém ouve! 
Ninguém cale, fale o povo! 
Alguém faça, ninguém faz! 
Alguém mude, não há novo! 
Há quem roube, ninguém vê! 
Alguém sabe, ninguém lê! 
E se soube, sorte ser, 
Alguém paga p’ra esquecer! 

São mentes carregadas 
Do que devem despejar, 
Em corpos tentados, bailados parados 
De porto calado não sabem cantar. 
E deixam-se ao desalento, 
Deixam-se levar pelo vento 
E julgam-se de um contentamento 
Sem sequer o questionar. 

Corpos marcados, de bailes vincados 
E sem fazer perguntas. 

Sem fazer perguntas... 

Tanto verde pr’ ocupar, 
Tanta terra pr’ a cavar, 
Tanto velho p’ ajudar, 
Tanto novo a zarpar. 

Tanta terra pr’ ocupar, 
Tanto verde pr’ a cavar, 
Tanto velho pr’ a escutar, 
Tanto novo p’ acordar! 

Tanta terra, tanta terra! 
Tanta guerra, nesta terra. 
Pouca terra, pouca terra! 
Pouca terra, nesta guerra. 

Tanta terra, tanta guerra, 
Pouca guerra, pouca terra, 
Pouca terra, pouca terra 
Pouca terra, Pooou!... 

São mentes carregadas 
Do que devem despejar. 
Em corpos tentados, bailados parados, 
De porto calado não sabem cantar! 
E deixam-se ao desalento, 
Deixam-se levar pelo vento, 
E julgam-se de um contentamento 
Sem sequer o questionar. 

Corpos marcados, de bailes vincados 
E sem fazer perguntas! 

Tanta gente sem casa! 
Tanta casa sem gente! 
E quanta gente se casa, de asa com asa 
só pr'a ser gente! 


P’a pastor sem cajado 
Sem pastor sempre ajuda 
C’o pastor guarda o gado 
E o gado nada muda. 

Ó pastor olh’ó gado, 
Não precisa d’ ajuda. 
Que o gado tem cajado, 
E tu ‘tás acabado 
E que ninguém t' acuda."

_____________

Vozes: Gil Dionísio, Edgar Valente e Eloísa d' Ascensão 
Flauta Pastoril: Ricardo Coelho 
Flauta de Mãos: Edgar Valente 
Baixo Eléctrico: Paulo Lourenço 
Guitarra Eléctrica: João Aguiar 
Bateria: Fábio Cantinho 
Bombos e Adufes: Edgar Valente e Ricardo Coelho 
Castanholas: Tiago Vicente 
Trompete e Tambor Falante: Yaw Tembe 
Guitarra Acústica e Cavaquinho: Alexandre Bernardo 

Gravação: estúdios Musibéria e Kimahera. 
Captação: André Espada, Hugo Baletas, Paulo Lourenço 
Ediçao: Paulo Lourenço 
Mistura e Masterização: Tó Pinheiro da Silva 

artwork // Duck.Production (Catherina Cardoso e João Catarino)

Pastor Sem Cajado

Pastor sem Cajado

“A primeira é p’os pardais”.
credits
from Aurora, released February 5, 2016 
Música: Tiago Vicente 
Arranjos: Edgar Valente, Fábio Cantinho, Paulo Lourenço e João Aguiar 
Letra: Adaptada da expressão tradicional “O primeiro milho é para os pardais.” 

Observação: Música gravada no Rancho Folclórico do Calvário, com 8 mãos a experimentar um piano square centenário.
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tags: experimental folk popular portuguese traditional protest world world fusion Portugal

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A Primeira

"Silva que estás enleada 
Silva que estás enleada 
desenleia o meu amor! 
desenleia o meu amor! 

Foste nascida e criada 
Foste nascida e criada 
nesses campos ao rigor 
nesses campos ao rigor."
credits
from Aurora, released February 5, 2016 
Música: Adaptação da Moda “Silva que estás enleada” por Edgar Valente e Gil Dionisio 
Letra: Popular 
Arranjos: Gil Dionísio, Yaw Tembe, Edgar Valente e Paulo Lourenço
tags
tags: experimental folk popular portuguese traditional protest world world fusion Portugal

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Moda Nova

“Ahh! Depois da tempestade, vem a bonança. 
Que, quem espera e não desespera, sempre alcança. 
Ahh! Depois da tempestade, vem a bonança, 
Que a água mole em pedra, tanto bate até que fura! (...) 

Oh Aurora, chega antes de eu me ir embora! (...)”
credits
from Aurora, released February 5, 2016 
Música: Edgar Valente 
Letra: Popular/Edgar Valente 
Arranjos: Criatura 

Observações: Apontamento inicial da guitarra Portuguesa diz respeito à interpretação de uma variação de Fontes Rocha; Virá ainda a ser incluída uma samplagem que remete à “Cava da Manta”, de Michel Giacometti.
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tags: experimental folk popular portuguese traditional protest world world fusion Portugal

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“A Menina da Paz, 
só quis dar um abraço 
p’ra que vissem o que a guerra faz 
desta Terra um embaraço. 

Que enquanto o mal se pagar com mal, 
ou com pedras de calçada, 
podemos continuar, 
caminhamos para nada. 

Temos servido a vingança fria, 
mas é hora de a levarmos ao forno. 
Que mãos quentes não vão mais longe, 
do que um coração morno. 

Homem que és escravo da razão, 
liberta a mulher que pensa com o coração! 
Porque o Universo tem muito mais para dar, 
dá voz à intuição, deixa as cordas vibrar. 

É mesmo verdade, podes acreditar, 
que por entre a Gravidade 
há um coração a querer falar. 

HEY! 

Deixem a Menina da Paz em paz! 
Que o que ela fez poucos foram capaz. 
Foi uma menina, podia ter sido um rapaz, 
Com noção do tempo que não volta atrás. 

Deixem a Menina da Paz em paz! 
Que o que ela fez poucos foram capaz. 
Foi uma menina, podia ter sido um rapaz, 
Com noção do tempo que não volta atrás. 

Porque o Universo tem muito mais para dar, 
dá voz à intuição, deixa as cordas vibrar. 
É mesmo verdade, podes acreditar, 
que por entre a Gravidade 
há um coração a querer falar.”
credits
from Aurora, released February 5, 2016 
Música: Edgar Valente, Paulo Lourenço e Gil Dionísio. 
Letra: Edgar Valente e Gil Dionísio
tags
tags: experimental folk popular portuguese traditional protest world world fusion Portugal

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Menina da Paz

Menina Da Paz

“O Tempo perguntou ao tempo 
quanto tempo o tempo tem. 
O tempo respondeu ao tempo 
que o tempo tem tanto tempo 
quanto tempo o tempo tem. 

O meu tempo é o meu tempo, 
o teu tempo eu não sei. 
Que o relógio não marca a cem por cento 
o tempo que bates por dentro. 
nem marca o meu também. 

E o meu tempo é o meu tempo, 
o teu tempo eu não sei. 
Que o relógio não pára, é como o vento, 
mas tu páras um momento 
se quiseres e eu também. 

Que o relógio não é dono do tempo, 
nem o tempo do momento, 
o tempo não manda em ninguém. 

Que o relógio não é dono do tempo, 
mas tu és dono do tempo 
se quiseres e eu também. 

E mesmo que entres em contratempo, 
Que não te cause tormento. 
Que o tempo é o momento, 
e enquanto passa o tempo 
entro só no passatempo. 
troco o passo tac-tic, 
Apanh’ o compass’a tempo 

E o meu tempo se mantém.”
credits
from Aurora, released February 5, 2016 
Música: Edgar Valente 
Letra: Edgar Valente e Eloísa d’ascensão 
Arranjos: Criatura
tags
tags: experimental folk popular portuguese traditional protest world world fusion Portugal

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O Tempo

Tempo

“Está uma roda parada por falta de mandador? 
Mas agora cheguei eu, siga a roda faxabor! 

Eram 12 raparigas todas vestidas de bronze 
Deu-lhe o TRONGOMONGO numa não ficaram se não ONZE. Dessas onze que elas eram uma foi lavar os pés 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não DEZ. 
Dessas dez que elas eram uma foi dar esmola ao pobre 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não NOVE.. 
Dessas nove que elas eram uma foi fazer um biscoito 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não OITO.. 

Dessas oito que elas eram um foi solar no trompete 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não SETE. 
Dessas sete que elas eram uma foi cantar os reis 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não SEIS. 
Dessas seis que elas eram uma foi comprar um brinco 
Deu-lhe o TRONOGOMONGO nela não ficaram se não CINCO. 
Dessas cinco que elas eram uma foi cagar no mato 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não QUATRO. 

Dessas quatro que elas eram um foi solar outra vez 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não TRÊS. 
Dessas três que elas eram uma foi passear p’la ruas 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficaram se não DUAS. 
Dessas duas que elas eram uma foi apanhar caruma 
Deu-lhe o TRONGOMONGO nela não ficou se não UMA. 

Essa uma que ela era, ela foi jogar ao pião. 

Deu oTRONGOMONGO nela e acabou-se a geração. 



E já está! PORRA!”
credits
from Aurora, released February 5, 2016 
Música: Acácio Barbosa e João Aguiar 
Letra: Popular, adaptado por Edgar Valente 
Arranjos: Criatura

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Algaraviada

Fruto de uma odisseia entusiasta de quase dois anos de trabalho, começou por ser a criatura pessoal de um único músico, mas ao ganhar vida moveu quase meia centena de pessoas, transformando-se numa banda que é também um coletivo, unido pela vontade de recriar a Música Popular Portuguesa no século XXI. São músicos, criadores, artistas, homens e mulheres. Jovens, os pais da Criatura, regidos até então pela mão de Edgar Valente. E junta-se ainda o Cante Alentejano do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa e a percussão de Rui Júnior.

Dos corpos que teimam em cantar, surgem os contos, os cantos e as histórias da pele e dos seus bailes, bem vincados, onde o tempo se estende e se transforma, num espaço limitado por fronteiras mas livre de expandir a energia que nele se gera. Aqui a língua desmultiplica-se nos tantos nomes quantas as formas possíveis de se ser tradição. São as ideias e os caminhos, saberes antigos e sabores do futuro, gerações diferentes e das suas respectivas sensibilidades e sentidos. É movimento. É, acima de tudo, um trabalho feito de amor à Terra, da música, da arte como ponto de partida para chegar ao homem, do homem que se revisita, que se transforma, que canta pelo despertar.

Com o álbum de estreia, "Aurora", a ser lançado ainda este ano, a Criatura que há um ano teve o seu parto em Serpa e em Junho passado a casa regressou, conta com uma aparição no Festival Bons Sons já em Agosto e com a estreia em Lisboa no dia 24 de Julho!

Criatura

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