Composição de Clóvis Sampaio, O outro lado da Bahia é um samba em homenagem aos Novos Baianos, trazendo a mistura de ritmos característica desse estado tão fértil musicalmente. Nessa gravação, Cida Martinez dá a "sua cara" ao interpretar a melodia de forma marcante, unindo seu talento ao belo arranjo onde várias vertentes do samba se unem - samba duro, chula, choro - tornando o resultado uma bela mistura que traduz a sonoridade ímpar da cultura musical baiana.

O Outro Lado Da Bahia (Cida Martinez)

Abro a cabeça e avalio o conteúdo
O que foi tudo passa a ter nenhum valor
Primeiro falo depois calo, fico mudo
E me desnudo mesmo sem tirar nem por
A mesma roupa que, de tanta ficou tonta
Como uma ponta que insiste em apagar
A esperança que, de verde virou chama
E que me chama como o Lobo a cantar

Decanto células que fazem do meu pranto
A voz que some no momento de somar
O sonho que transforma vida noutro canto
O derradeiro verbo a se conjugar
E quando vejo que o riso virou sério 
Não é por tanto e toda via vem com tudo
Pro desempate escolho o melhor critério
Abro a cabeça e avalio o conteúdo

*Voz - Sonekka

Album

Conteúdo (Clóvis Sampaio e Sonekka)

Às vezes acontece que nada nos acontece
é uma questão de ter lógica, ser louco e consciente
entendendo que o acaso nem sempre nos traz ao caso
e que a questão não se enquadra no óbito do processo.

Banhando-se em gotas nem sempre aparentes
num claro breu que cintila e que não sente
formulando um protótipo que se adeque à mísera condição
que nos persegue (de ser gente).

Sexo e música numa mistura enlouquecida
gueixas, Seixas, a mudar nossa vida
tanto Tom, múltiplas opções a guiar nossas ações   
mas nem assim conseguimos derrubar este mito tribal e sensual
de sermos dois, quando um já seria muito.

*Voz - Dalmo Medeiros (MPB4)
*Violão e Arranjos - Orlando Nascimento
*Percussão - Jorge Farofa

O Outro Lado

Rudá (Clóvis Sampaio)

Não há um mero ato 
sem que uma vontade incontrolável do fazer
diga a hora exata do opaco transparecer 
feito a cortina que abria	
o dia de banhar no sonho 
a mulher vestida de melodia e chuva
que caía sobre mim...

E ela estava nua quando a melodia 
agora só vestia  a minha alma crua 
o porquê desse meu ato ser mero ou sensato 
não explica a fúria do meu erro louco: 
-é tão mero o nosso ato de ter erros...
		
A mulher do mero ato é a mentira 
que desvenda o invisível que eu já vira 
mero ato pro meu peito, só o pranto
ato puro, do meu corpo, só o canto...

*Voz - Marcio Valverde
*Flauta - Kiko Souza
*Violão e Arranjos - Orlando Nascimento

Bia (Clóvis Sampaio, Edu Alves e Marcio Valverde)

Entre loucas, entre bocas
estamos eu e meus dedos nus.

Na poeira a peneira já não capta, 
e opta por olhar 
com seus seiscentos olhos quadrados
meus dois olhos nus, 
e dez dedos a dedilhar
a música impossível.

Tremo no tema, não teima, dedo meu.
Verso meu é mais que verso,
é também um pouco do nada.

Entre loucas bocas, poucas:
só a sua.

*Voz, Violões e Arranjos - Julio Miranda

Dedos (Clóvis Sampaio e Julio Miranda)

Tens um quê de blues que me confunde e inebria 
A forma mais suave e convincente de poder
Único futuro que é bem-vindo a esse mundo sem alicerce,
sem regra e sem prece, onde me agarrei, onde eu sou rei.

Teus pés são meu porto seguro, teus seios são minha prisão,
e ai de quem pensar em me dar habeas corpus;
vivo adentrando em várias portas, pisando palavras tortas
de inveja de Maria, por quem morro, peço e clamo: “Socorro”.

Ah, de cada mil loucuras minhas, todas são você.
Ah, vem me ensinar a ser mais seu do que eu já sei, do que eu já sei.
Acho que nem daqui a dez encarnações, e nem que eu faça mais e 
mais canções, chegarei aos teus pés, minha eterna confusão e cura.

*Voz - Tate Lima
*Contrabaixo seis cordas e fretless - Luciano Calazans
*Arranjos - Orlando Nascimento

Álbum Desconhecido (9/11/2006

Inveja de Maria (Clóvis Sampaio e Edu Alves)

Pra onde a gente tem que andar?
Pra frente!
Pra alguém não atropelar
que atrás vem gente.
Se precisar escapar:
-sai pela tangente.
	
Para não se embriagar de aguardente.
Pra não ter que ocultar a dor que sente.
Pra não querer disfarçar o amor crescente
que te deixa com esse ar adolescente.

Vamos nos acostumar, que é bom ser gente.
Pra sofrer ou pra amar, ao menos tente!
Pra depois não reclamar, que isso é ser gente.

* Voz - Roberto Patiño
* Violão e Arranjos - Orlando Nascimento
* Percussão - Jorge Farofa

Isso é ser gente (Clóvis Sampaio)

Um conto, um canto e um ponto.
Perto de um parto, um porto: Portugal.

Cabral quebrou a cara e a vela;
a cor, Cabral de Melo de cor
azul, vermelho quase não verde 
quanto pessoa, primeira, segunda, terceira
e Fernando também Pessoa.

Cabral, Brasil, Pessoa e Porto.
Onde Gal encantava um inglês bucólico
num Tom alcoólico que, certamente,
não era o meu.

*Voz - Marilda Santana
*Violão - Orlando Nascimento
*Bandolim - Luiz Caldas
*Flauta - Kiko Souza

Vinho do Porto ( Clóvis Sampaio e Luciano Salvador Bahia)

Pano de prato, bico de pato
Caneta Bic pra riscar esparadrapo

Um fino trato vestindo um trapo
Dinheiro roto pra comprar amor barato

Tem camundongo, pernilongo e barata
Perdi o traço, foi roído pela traça

Acerto o passo pois só fica o que não passa
É que a cabeça não é pra carregar lata

E a pá lavra o que a terra há de comer.

*Voz - Sonekka

A Pá Lavra (Clóvis Sampaio e Sonekka)

Cães e gatos morrem ao atravessar a pista: cães e gatos não pensam.
Homens também morrem ao atravessar a pista: homens pensam que pensam.
Homem encontrado morto num quarto de hotel, por não ter cumprido a função de macho, e por não ter sido um pouco bicho se tivesse observado os cães e gatos que promovem homéricas orgias a qualquer hora e em qualquer lugar, e têm a grande vantagem de não pagar nem quartos nem parceiros e entre eles não existe falso moralismo, e a poligamia é permitida e legalizada!

Ah, eis a grande superioridade da chamada irracionalidade.
Ah, eis a grande superioridade da chamada irracionalidade.

Tão evoluída estrutura social do dito inferior reino animal.  Por mais estima mútua que nós nos tenhamos eles dão graças a Deus por não serem um de nós. Cães e gatos não devem porra nenhuma ao governo.  Cães e gatos não pagam absurdos de impostos e quando, muitas vezes, eles latem ou miam estão é mandando todo mundo se fuder!

Ah, eis a grande superioridade da chamada irracionalidade.
Ah, eis a grande superioridade da chamada irracionalidade.

Cães e gatos unham e mordem quem os incomoda e não podem ser processados jamais. Não precisam ter qualquer obrigação de voto nem hipocrisias sociais. Cães e gatos são feitos de instinto; homens são movidos a poder.  Homens pensam que sabem sobre a vida, cães e gatos é que ensinam a viver!

Ah, eis a grande superioridade da chamada irracionalidade.
Ah, eis a grande superioridade da chamada irracionalidade.

*Voz - Edu Alves
*Guitarras, Bateria, Efeitos (todos feitos nas guitarras)- Cássio Calazans

Cães e Gatos (Clóvis Sampaio e Edu Alves)

Página contendo músicas do compositor baiano Clóvis Sampaio. As músicas são apenas registros, não tendo qualidade técnica para execução pública.