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LETRA:
EDKNOWLEDGE
Como é que me redimo se nenhuma das provações por que passei 
Veio com um pedido de desculpa que me indemnize, recuso-me a 
Despedir da terra como um cretino que nunca
Se insurgiu contra o que impede que o meu destino se cumpra

Tanto que vi de penumbra que me é estranho se o dia aclara
Cheguei ao ponto de ebulição em que nem sativa acalma
Só quero aquilo que me era devido, desejos d'uma vida estável
Mas como é que me vingo sem um ferro no cinto e uma meia de vidro na cara?

A pressão de ser pobre é como uma cobra piton a
Apertar-me o pescoço e tentar soltar-me o esfoço 
Só piora o sintoma, fora de mim 'tou quase a 
Deitar fora o diploma e rezar a Nossa-Senhora

Que o meu desespero de ser rico não acabe com um escolta ou em coma
Será pedir muito que antes que a cova me envolva
Eu possa rir com modelos, cocktails e roupa 
Nova tipo que 'tou na Moda Lisboa?

REFRÃO
Can I live? Esta é a última etapa
Antes da loucura se tornar cura e ter fugir da senzala
Farto de bulir p'a ter nada e no fim sorrir, bater pala
"A minha missão no mundo é perar muito e fazer paca" (X2)

FRANK
Só respeitas quem é igual a ti, escravo do trabalho
O resto é parasita, carta fora do baralho
Se te digo que tenho uma visão respondes p'ó caralho
Visão não paga contas 'tás em busca de um atalho 

Que não existe, vai bulir para a fábrica, desiste
Veste a roupa de trabalho e vai para a linha, ouviste?
Toca a produzir, morre enquanto o patrão fica a rir
Se é esta a minha missão, então mais vale partir

Vida não é minha, outro é que anda a gerir
Nada é engraçado mas tenho que andar a rir
Porque a sociedade inteira anda a fingir
Sexo, drogas e ficção para distrair

Toda a frustração que nos anda a consumir
Mas quando eu falo ninguém quer ouvir, sem estômago para digerir
Tudo em negação, só zombies, tudo a dormir
Eu só digo a verdade não vim para aqui mentir...

EDKNOWLEDGE X FRANK - CAN I LIVE (Prod. JAVARDO)

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LETRA:
Eles miram-me os estofos mas eu kitei a nave
À prova dos shots para que ninguém m'a trave
Ninguém me deu propz nem precisei aplauso
Sigo o som das notas da primeira clave

Em loop todos anos que fiquei na base
A tentar tornar o meu engenho catarse
Mudei de flow, eles que opinem, na paz
Queres voar onde vou boy mas primeiro a classe

O percurso foi tão duro que o teu ódio não me impede
Isto é fruto do que eu bulo não é oração e fé
Tenho um escudo para tudo que me estorve atão inté
Só me mudo para o túmulo depois da ovação em pé

Clap, clap, clap
Somos de ligas diferente - isso é cap, cap, cap
Dizem-se underground mas o ego jet set
Ponho todos em fila depois *braat * taat * tat*

Psycho killer 
Vem dançar com monstros - Michael, Thriller
Achas-te com sorte - vai bro, fila-me
O background é das streets/the streets - Michael Skinner


Nunca mais
Eu volto para o sítio onde me fui abaixo
Quer desmonte uma bic ou eu puxe da vibe
O trono é do kid, eu só morro num beat se for suicide

Eles miram-me os estofos mas eu kitei a nave
À prova dos shots para que ninguém m'a trave
Ninguém me deu propz nem precisei aplauso
Sigo o som das notas da primeira clave

Em loop todos anos que fiquei na base
A tentar tornar o meu engenho catarse
Mudei de flow, eles que opinem, na paz
Queres voar onde vou boy mas primeiro a classe

O percurso foi tão duro que o teu ódio não me impede
Isto é fruto do que eu bulo não é oração e fé
Tenho um escudo para tudo que me estorve atão inté
Só me mudo para o túmulo depois da ovação em pé

EDKNOWLEDGE - SUCESSO FREESTYLE (LON3R JOHNY)

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LETRA:
Faz tempo…
Que eu não faço frente ao ser que trago dentro
Porque se demoro a fitar o meu lado negro há o medo que aumente
Qual quê, não há de ser, não há tempo… hoje já é tarde, tenho de levantar cedo
Suar, ser um pai decente - garantir que antes de lavar as mãos e dar graças
Quando sento à mesa há sempre um prato quente de caldo verde à frente, God damn...

Parece voodoo, né? Desde que pus um pé fora do alpendre aos 13 que sabe a burla
Mesmo dos dias de sol eu só guardo a chuva
Por isso é que na minha cabeça faz sempre mau tempo, talvez, há meses que mal escrevo…

A minha vida interior tem de ficar contida
Já é desafio que chegue acordar com vida
Deitar todas as noites e duvidar se consigo a-
menizar esta pressão que a minha classe convida
Vontade de voltar atrás à minha fase sombria
Em que o meu único lema era I don't give a
Dançar no escuro de único alvo futuro
Desposar a Melancolia tipo Lars Von Trier...

Esta vida dura dura
E vem com o tipo de mazelas que nenhuma ligadura cura
Quem pode censurar se entro em quinta numa curva
E enfim, James Dean, troco os 30 por uma tumba

Quando era menino de verdade, não uma miniatura murcha
Além da vida pela frente ainda tinha tudo em curso p'a
Levar isto a um estado novo - ditadura lusa
E ser o mesmo que o Pushkin para a Literatura russa mas…

Faz tempo
Que tudo que tenho em minha posse é um leque de vogais
Para lidar com a realidade e os seus aspectos brutais 
Se nunca me tornar num monte de restos mortais
Que alguém pesque d'um cais também não peço por mais…

Podes achar a minha inclinação pela tragédia
Blasphémia, mas népia… é só o Rap d1 Gajo

EDKNOWLEDGE - FAZ TEMPO FREESTYLE (FERRY)

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Dave Id:
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LETRA:
A propósito do belo e aquilo que nos motiva
A idealizá-lo como uma virtude exclusiva
Daquilo que é bondoso e incorruptível
Há a origem da palavra em latim que o explica

Explica porque é que eu aos vinte e um um dia
Dei por mim a estudar livros de psicologia
A desculpabilizar a tua psique corrosiva
E acabei a saber mais de mim do que ti, anh?

Da minha parte é tranquilo fiz o máximo
Não sou eu és tu, tudo é finito, o clássico
Típico, não há nada aí de singular se isso
Fosse honesto e não em si sintomático

Muitos fazem o mesmo e não há problema, sórdido
É ser é um mecanismo de defesa compensatório
O tu seres impulsiva, eu ser o antónimo
Monta o palco perfeito para a tua cena de ódio

Narcisista que faz de conta, espero
Que a maneira altruísta como eu ajo esconda o ego
Se me sujeito às tuas fases de louca por mais que doa é porque
No fundo não serei assim tão má pessoa, certo?

É um simples artifício
Para mostrar a mim próprio que sou digno de sacrifício
Mas se insisto em ser o cessar-fogo
De cada guerra que encontro nunca vivo o armistício

E isso é um eclipse moral mas ainda mais é estético
Minorar o que valho tipo que me falta o mérito
Como é que te digo que o mundo não gira a tua volta
Quando eu próprio aceito ser um astro satélite?

Quando um laço morre urgia
Tentar perceber porque é acho logo que tu o querias
Que fui um dano colateral enquanto te autodestruias
E não o meu próprio algoz, a minha autoscopia...

Autoscopia

EDKNOWLEDGE - AUTOSCOPIA (ft DAVE ID) (prod MADKUTZ) (REMASTERED)

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EDKNOWLEDGE X DAVE ID - R E A D Y

Refrão:
Não é normal que me proteja e ainda sobeje o pouco o que dou
Nasci para morrer sozinho - hey, quem me deixou concordou
Não há ninguém que compreenda a minha veia de louco ou
Vendo melhor sou eu quem não me aceita como sou

Mais um acesso de verborreia mais um verso que pergunto quem ma-
tou a minha esperança no universo que me rodeia
Um processo que resume bem a obstinação que pressinto mas não
Me permite aceitar que o inferno que me seduz queima

Parece que deturpei a minha imagem de mim ao ponto
Que esta farsa que vivo aos poucos já só faz sentido aos outros
Palavras que digo, aos montes, a incentivar o que de melhor escondes
Sou eu a maquilhar as falhas de carácter que ignoro, ouve...

Isto por ego - rimo com um filtro sinistro e boneco
Insisto que aquilo que digo conecte e finjo ser crime não ter visto um copeque
Cinismo? check, lirismo? népia, um ciclo fatidico, se isto prossegue
Infinito por certo fico num limbo contínuo por zero, digo e repito mas não sigo o que prego

Fosse tão assim tão esperto e a minha tese era do MIT
Não me anulava quando uma tarefa média pede mais de mim
Ride or Die onde quer que a treva leve, my g
O som preferido do Pac é o Never Had a Friend Like Me

Contraditório vilipendio sempre com um cariz cómico 
Os defeitos que eu vejo nos outros, eu sei que os escondo mas não aponto a mim próprio 
Sou tão idóneo, bom capricórnio, "se eu fosse a ti" óbvio, não era o mesmo de todo, eu sento no trono do menos louco de todo o manicómio

Batam palmas à minha microcefalia
Toda a angústia que eu herdei, guardar para mim ou reparti-la?
Quem diria quando novo que esta psicose me havia
De fixar ao canto, Citalopram e psicoterapia

Refrão:
Não é normal que me proteja e ainda sobeje o pouco o que dou
Nasci para morrer sozinho - hey, quem me deixou concordou
Não há ninguém que compreenda a minha veia de louco ou
Vendo melhor sou eu quem não me aceita como sou

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EDKNOWLEDGE - MICROCEFALIA

Era suposto ficarmos juntos até termos ambos cabelos brancos
No entanto, perdemo-nos, tanto, que quando digo “amo-te” arrependo-me, num instante
Culpas-me do peso do mundo e com um relance, fervendo e em sangue 
Não demora nem um segundo para que me chames estafermo num pranto
Dizes que te olho sempre com desdém, cheio de moral, de cima a baixo
Não consigo não beber, obtuso, leio Bukowski a mais
Sou rude, altivo, rebaixo-te, imaturo e et cetera
Mas o sol não deixa de raiar porque queres, és Medusa não és Deméter
E este objecto grosseiro que conservo no peito mesmo duro não é de pedra
No final, a culpa é tua, sou Sun Tzu e queres-me Werther
Ou secalhar, a culpa é minha, eu é que não soube virar as costas
Quando era suposto brindar-te com rosas, voltar a conquistar-te com prosas
Encolhi os ombros, ficaste sem provas do quanto vales e significas
E num instante, tornámo-nos casais que se chamam nomes e batem portas
Mas se o amor não é como a tinta que na pele dura, eternamente
Numa próxima, se te der o meu nome, não o tatues a ferro quente


Edknowledge - Lupa

“He who makes a beast of himself, gets rid of the pain of being a man… cheers”

No meu peito há um intruso, pequeno passáro azul
É odioso, basta ouvi-lo cantarolar para que amue
Quanto menos dormente, mais dificil contê-lo
Tento matá-lo com fumo e baldes de whisky com gelo
Ignoro-o, porém, às vezes intrigo-me ao vê-lo
Tentar erguer alguém sem nenhum tipo de brio ou zelo
Diz que se me auto-destruo, não é absurdo que perca o tacto
E é o meu rancor obtuso que mais me atropela, facto
Sou eu que me recuso levar a minha novela a palco
E o único afecto que descubro é num bordel barato...
Tenho os dias contados
A ver o mundo desabar, a ver o que ainda sou em cacos
A mulher dos meus sonhos verdes, depois de ver as valas
No meu cemitério de raparigas, assustou-se, fez as malas
Não sou o monstro que digo obvio, só um saloio simplório
Que se vai tornando mais oco a cada gole de gin tónico
Sempre ao balcão de um bar, levo a vida num impasse
Não admira que me trocasses por um namoro de escritório
É curioso, sempre me julguei imortal até aqui
Mas venho a pensar na morte desde o funeral da Betty
Sinto que cavalgo no breu…
E não há rosa dos ventos nem lanterna que me ajude
Nunca serei muito mais do que um papalvo plebeu
E para tornar tudo pior hoje o meu cavalo perdeu…

Edknowledge - Chinaski

(Refrão)
Quando me dizem que eu preciso de likes, rimo demais pr'o que devia
Soa me tão ridículo - não sei se digo bye ou se ria
Sempre que 'tou a isto de chegar o destino parte-se, a sorte esquiva-se
Desci tão fundo cheguei ao ponto que não existe baixo, só cima
Live life, God giveth
Não me encaixo, sorte minha...
Como é que havíamos de ser iguais, eu pertenço a outro tipo de animais - Godzilla

Let's go, ready? Floss
Preciso pouco, a sério, um Porsche, fios de ouro e uns ténis fortes
Um pouco de Mary, Don Peri e completo as hostes
Não há guita em ser complexo, só há uma lista em que eu quero ter o meu nome e é da Forbes

Antes de Fausto ganhar o saber de tudo corria o mesmo risco que sempre
Vem com os sintomas de não ter tido um sistema límbico decente
Tudo aquilo que já desde pequeno eu queria ter, o mais ínfimo por cento
Manifesta-se se eu o decretar - dizia um excerto que li d'O Segredo

Mas poupar punches para 'tar ali não compete a um Cassius Clay
E o que tentam mostrar com flex só revela um complexo de Zé-Ninguém
Nem de bicos de pés nos ombros de gigantes eles medem um metro e meio
Então fica com o teu piso novo bruh que eu quero um prédio inteiro

Numa era de insólitos onde governam os simplórios
Onde, confesso, nem eu sei se prefiro ser wack a incógnito
Numa selva de cimento mas sendo uma fera de circo, óbvio
Simpatizo com o que a Greta diz mas num level simbólico
Também queria mudar o ambiente que herdei o meu era me inóspito
E quando tinha dezasseis anos yah eu também era psicótico…

(Refrão)

Resumo do que cuspo - Desde puto bulo cego
Sem nenhum burburinho nenhum su-cesso
Um muro no mundo entre puro e bootleg
Até adulto descobrir que é tudo fruto de ego
Focar que os movs dão em tudo que quero
E que há mais no rumo do que o Futuro der
Tentar me infiltrar no grupo certo
Porque talento e orgulho igual a lucro zero

Aos anos que já rimo e até hoje o meu único plano de marketing
Foi tornar-me discípulo de Pun e Rakim
Dizem que não conseguir olhar o espelho é o preço de ter sucesso
Mas até que o Sentimento regresse
A minha resposta é 'tranquilo, eu já não reconheço o meu reflexo'

(Facas nas costas suporto-as, ninguém
Me atrasa na rota pelas notas de cem
'Tou farto da sorte, que ser pobre me refreie
Então abram me a porta, eu porto me bem)

EDKNOWLEDGE - GOD GIVETH (prod. NETUH)

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LETRA:
No vazio juro adio o meu óbito a custo, o meu hobby traduz-se 
Em esmiuçar o escuro para me sentir próximo da luz
Phones e capuz - O Homem que era Quinta-Feira
Sigo na beira, enquanto a minha veia carótida pulse

Corvos e abutres miram um peso-morto, moribundo
Até este tronco florir rumo entre lobos, surdo e mudo
Colhi tudo que me foi destinado, mesmo nas
Noites que divago eu já não perco sono - fumo e durmo

Sempre me custou perceber para que é que o mundo me quer vivo
Sabendo que surto de febre e tudo que quero firo
Todos tão seguros e eu cru, defectivo
Nulo de fé tipo True Detective

Abrir portadas e enfim voar
Estimular o pouco que ainda resta antes de estiolar
Em busca de uma musa que me tire o ar
Singular de bartender que dá pena num filme Noir

Síndrome de estranho, circulo desfeito 
Sabendo que nunca vou desenhar um círculo perfeito
Fiz da virtude defeito, pior não tive nenhum proveito
Um dia livro-me dos freios - aí torno a casa

Mais uma tentativa sem ter êxito volve a farsa
Nem o sangue é derramado, claro, nem se entorna o cálice
Quem desdenha vocifera, quem se importa cala-se
Uma piada infinita - David Foster Wallace

Edknowledge - Vazio (prod. Alpha Studart)

EDKNOWLEDGE - UNDERGROUND

Era assim que era suposto? Exausto e depressivo
‘Inda no auge dos meus vinte, cheio de tiques, pregas no rosto?
Espectador deste circo de feras nos ombros
Enquanto do fundo da minha cabeça lhes vocifera um monstro?
Na esperança que cada blunt que fumo de rodada
Me expurgue da culpa que eu sanguessugo do karma
Mas antes de tudo gostava, de não me sentir um insecto
E que me parecesse absurdo o Abutre do Kafka
Só que… do alto da minha sorte
Por mais que a vida me traga acima e a Laura diga adoro-te
Há uma ave de rapina a postos que me chaga, bica, absorve 
E custa-me viver com a ideia que só a mato com a minha morte
A luz ao fim do tunel é um comboio e eu digo óptimo, venha
Nada me vale partir sem que eu próprio tenha
Penélope à espera, o que aprendi com Ulisses
Foi para quê eu fugir, sou vítima do que o meu ódio ceia (Odisseia)
Sempre que dou asas a alguém
Sei que já não os torno a ver, porque é que imito Dédalo?
Elíptico, mega do-rmente e consternado
Ao mesmo tempo que combato o meu líquido céfalo
Estilhaçado, em mil cacos, assim ando
O Idiota de Dostoievski com uma máscara de tirano
Ainda que quase gatinhando, o percurso faz se caminhando
Mas eu vou entre labaredas sem nenhum fato de amianto
(Este demónio não me deixa) faça chuva, griso ou vento
E só me resta uma esperança que eu não localizo ao tempo
Rodeado pelos fantasmas de quem eu nunca quis ausente
A distribuir Xutos e Pontapés pela Chuva Dissolvente
Coleccionador de ossos, queria ter outra carreira
Em que os corpos que eu toco não acabem sempre todos na lareira
Porquanto estico a corda, até ao momento que tombe a cadeira
E fique claro de uma vez - não podia ser doutra maneira

Para que quero eu folga nesta corda se megalómano
Me leva à porta festas, borga, Hendricks, vodka
Erva, pólen e desta forma, medra, torna-me
Mescla de homem, Edward Norton e Dexter Morgan

Edknowledge - O Abutre

(Edknowledge)
Na impossibilidade de eu vir a ser tudo o que eu quis espero
Que o futuro me julgue mais p'lo que escrevo do que o que eu fiz - zero 
Em retrospectiva sinto que ser puro fez-me ingénuo
Demasiado humilde às vezes esqueço tudo o que eu fiz certo

Disse "quero-te", e eu só tenho a minha palavra
Dediquei-te a vida numa fase em que o cheiro a tinta me bastava
Empunhei a minha caneta como quem desembainha uma espada 
De benjamim a cadáver, gastei saliva para nada

Mea culpa, em vez de um trono eu pus-me num cadafalso 
Ontem pesadelos, hoje são sonhos de adulto que eu paragrafo
Tendência de perscrutar nos sítios onde a luz não clama palco
Implica se calhar que sou mais Lobo Antunes que Saramago

Tudo aquilo que eu trago preso, culpa, frio, um mau começo  
Vocalizo mas faz-me peso, nunca vi o lugar que mereço
Queria tanto fazer da musica carreira
Mas se esta é a única maneira de fazer jus a ti eu pago o preço

(Erre K)
Custe o que custar ajusto o meu lugar 
Ou puxo o meu legado pra fora 
Embora faça do sol o meu luar
Aprende....quem se rende defende-se com o que ganha… sendo
Indiferente p'ra quem tem alma e na sua palma a prende…
Acendo a chama sem que veja nesse trono assento
Esmola é mola na corda e eu não ponho o sonho ao vento
Eu nunca estive ausente 
Mas preferia do que passar pela agonia de ser artista que na sua escrita mente
Eu não me amparo na aparência nado na transparência
Dá-me essência e certamente eu vou te dar licença...entre…
Tantos entretantos e ainda assim… aqui ciente
Sempre louco o suficiente p'ra não mudar os planos
São muitos anos sem desviar a rota
Suor e sangue sem mudar a roupa
Quem não entende p'ra julgar aponta
É na descontra… 'tou nesta sombra
P'ra mim só conta ver que nunca fiz de conta

EDKNOWLEDGE X ERRE K - LOBO ANTUNES

Precisamente quando penso que não consigo ir mais fundo
O meu espírito vai-se e nisto, raios!, culpo-me…
Verme sem desculpa, abjecto, cheio de luta
Como se neste canto do universo não houvesse lei de Newton
Numa prece, mãe desculpa-me, ando fugido de mim próprio
Nunca quis que ter nascido fosse um motivo de divórcio
Munido de mil ódios, rugidos impróprios
Ecoam pelas paredes do meu cubículo e olho-me
Como um extra no De Olhos Bem Fechados
Só que um remake do filme feito por um Kubrick simplório
E por mais tempo que eu entregue a filosofá-lo
Não me interessa ser imortal, vou num maço por dia
E o único rasgo de folia, que adormece que vivo num vale
É tar high e pensar na morte - a minha Pedra Filosofal
Sem fumar ou dar um traço ou me exalto ou dá-se o caso
De ficar comatoso, estômago froxo, no quarto a olhar o espaço
Panaceia bege que me protege da pasmaceira
Atravesso a passadeira e peço que um autocarro passe…
Olha para mim, vês pena - a que tenho de mim próprio
E a que uso para combater esta languidez extrema
Sintomas estranhos, mil outros anseios
Estronda em mim a força e ira de mil bombardeiros
Yeah, sou um Homem do meu Tempo
E trago uma besta às costas como o Nicolas Cage

Edknowledge - Homem Do Tempo

Puxo pelos pulmões, é desta que o faço
Tatuo com uma aresta de vidro o braço…
Para mais, não me resta nenhum laço
No terraço a fumar o último Chesterfield do maço…
Acho… que já nem aperto o cinto do carro
O meu sangue frio, tanto viu, que ferve acidulado…
Cada pedra que vir guardo
Consegues imaginar o que acontece se vir um lago?
*Splash* dei-me à sombra em tantas letras
Que não viram a luz do dia, todas nas gavetas
Desasado, vou arrastando as penas
Não reescrevo o livro, não tenho força nas canetas
É preciso que um tipo de turbante e de hábito
Me diga que o que sinto é profano e errático?
Se trocasse os meus anos pelo cancro linfático
Do meu tio eu rezava “que avance e rápido”
Sádico, antipático…
Um mililitro de morfina, o filho in vitro ressuscita
Tudo OK mãe, um tiro não é nada
Há sangue nos carris, e eu nem sei harmónica
A minha mente anda mei’estranha, tórrida
Desde que deixei a Mónica, sem jeito, atónita…
Prematuro, infantil-esco
Com o peso no peito de um elefante i-menso
Penso.. e enquanto isso, bebo
À memória de quem nunca viveu distante de si mesmo…
E isso diz tanto de si mesmo
Como o que eu fui e o que sou hoje, diz tanto/distante de mim
Escrevente conta-feridas, vendo outras vidas
E todas se me afiguram doentes, compartidas
Que o universo abençoe as minhas
E de quem enlameou o meu tapete de boas-vindas
Mansarda

Edknowledge - Quantas Vidas Passaram Freestyle (Mansarda)

Do meu hábito incauto de tentar amigar vampiros
Aprendi que pouco sirvo pr’além de afiar caninos
Uma costela d‘anjo negro, revela quando bebo
Um animal lascivo a que não resta sangue frresco
Só gangrena e pus, amo ser embuste
Mal na manhã seguinte o sol levante, esqueço-a e fujo
Rujo, como um louco, conto na minha hora final
Ter escrito obra rival à de Kant, Sena e Proust
Mãe morfina, deito-me e a meio sinto an-seio, ira
O peito incha, um estranho grita-me, em surdina, odeio isto
A - passagem do tempo, mascara o tormento
Mas eu vejo um desfiladeiro que gira num eixo de vidas em ruína
Em nome dos querubins que há em Sodoma, perdidos
Eu escolho flagelar-me mesmo que tudo corra nos trinques
A modorra define-me, com requintes de grotesco
Únicos picos que conheço - da minha coroa de espinhos

Foste a espada trespassada no meu peito de pedra
Apunhalada tão fundo que nem sequer Artur me tira
A tua pose de princesa não era a prometida
Porque insistes engolir sapos e só és bela adormecida
(Espelho teu, espelho teu) A desordem cria caos
E tu danças entre escombros quase melhor que a Pina Bausch
Não importa quem devoras na performance, seria mau se
Não te sentisses em casa entre cobras e lacraus
Uma fome de briga tal que me torno num Hitler mal
A minha sorte decline a voz da minha morte querida fale
Diplomático, tudo que pode feri-la calo
Antes pinto como me vejo porque torna a ferida calo (Frida Khalo)
O crime de usar máscaras o carnaval iliba
E Carpe Diem serve, torna espalhafato em vida
Um dia que eu deixe que uma dama me passe em cima
Tu conheces, é do Porto, chama-se Ana Matos e rima

**Master - Manula Rap4Real https://www.facebook.com/ManulaRap4Real/

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Edknowledge - Do meu hábito incauto

A minha introdução formal, vim do fundo do chão, um vale
Onde Lúcifer caiu e só é solução purgá-lo
É um mundo cão, absurdo o quão eu busco em vão mudá-lo
Se a luta só avulta a minha corrupção moral
A profusão do mal faz com que o escuro perturbe o
Meu intento de alumiar o meu percurso defunto
Não há Chave da Saída, urge pôr-me a mim primeiro
O teor do meu Dealema faz do Mundo Segundo
E desde puto imberbe, rumo incerto
Entre uma pena suspensa e não ter luz e tecto
Entre o ser Kool G Rap, fazer do porvir rap
E entrar parlamento adentro, deixar que a uzi *braap*
Quebra o espírito o effort mínimo quase arcaico
E mesolítico que poem na minha arte e pior gera dígitos
Não há rapper lírico, gangster, tímido, metafísico, wack ou de elite
Que me faça qualquer sombra quando eu pego a bic tipo...

Têndencias suicidas, deixo que o carapuço as esconda
Mesmo que o tempo sare as feridas, eu escarafuncho a crosta
Não há de raiar novo dia enquanto eu barafusto na sombra
Para que um novo eu ganhe vida preciso que Zaratustra morra
Dei o corpo e pago, oco a um ponto 
Que já não consigo comigo, como e calo
A dama estranha o meu torpor, olhar absorto e vago
Sou eu a pensar que a minha mãe fez o aborto errado
Tanto sufoco inato tornou-me arisco e colérico
Tento fugir do destino sabendo que arrisco o fim do Édipo
Pudesse voltar atrás, pegar no bisturi do médico
E os meus pais eram felizes sem ter tido um primogénito

Introdução Formal

Edknowledge - Introdução Formal (Prod Javardo)

Por estultícia, por cegueira
Olhei o abismo nos olhos e o que havia de luz neguei-a
Tal a ironia com que a vida nos premeia
Que fui privado desde o inicio - nasci na Cruz Vermelha tipo...
Eu nunca tive posses, tive vozes, escrevi odes a psicoses, revi mortos de cirrose
Receosos de mim, só que...
O que me levou o avô paterno
Fez de mansarda palácio, do meu bungalow castelo
Comatoso até que o mundo revire as odds
Mas se domesticas corvos qual é a pomba que pousa perto
Há controlo sobre o afecto mas sobre a fúria não
Por isso é que escuro e acção resulta em escoriação
Mais uma provação, óptimo
O meu sangue gelado tornou o meu coração nórdico 
Aquilo que escrevo nunca foi uma escolha estética
Se me visto de preto estou de luto, não sou gótico
Até que destino me chame a um destino distante
Eu fantasio com o fim, aqui só vi vexame
Fui me interessando por tudo o que A Negativo
A minha mente em conluio com o meu tipo de sangue
Minto me quando finjo ser tétrico, contra tudo
Porque, se existe, o plano é chegar à velhice com saúde
Mas se entretanto me vires assim, cabisbaixo
'Tou à procura do caminho - no chão é que se encontra tudo
Aos nove deixa marca
Fingir que não está ninguém em casa para que não cortem a água
Farto de ser pobre jantar Corn flakes da caixa
Ao mesmo tempo medir forças com o homem da casa
(...)
O meu jab era nice mas o do velho era mais
Quem acha que me demove de ir a combate engane-se
Desde pequeno que me proponho fazer tombar gigantes
Parece que foi há mil anos mas ainda hoje há instantes 
Em que oiço algo e quando dou por mim estou a acordar de noite, punhos em riste, no meio disto
Cuspo em beats foleirices que purguem o bicho
Por quem disse que já me chega ser soturno
Falo de mim mesmo que não entendam o que eu murmuro
A mão com que escrevo não é a mesma com que esmurro
Na direita o meu passado e na esquerda o meu futuro

Edknowledge - O Meu Fogo (Madkutz prod) [Garmønbøzia EP 3/5]

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Quando a mulher o deixou o meu avô foi-se abaixo
Zangou-se com o meu pai e deixou de apoiá-lo
A partir de certa idade desamores são fatais
Ver nele o jeito dela era desconsolo a mais
De forma a minorá-lo, dum estoicismo raro 
que se consome a si, afoga a ira em vodka e vinho rasco
Homem timorato feito alcoólico, poético 
Cirrose e depressão parte do meu código genético 
A lição que herdei com este óbito pretérito
- É inútil querer fugir ao que o Destino decrete
Parece supersticioso só que visto de perto
Anos depois nasço eu e o mesmo ciclo repete-se
Foi-me inscrito nos genes, diz-me que espere
Da garrafa que levo à boca, podia mentir que quando falta fé dá força 
Mas não quero que a minha filha veja o pai como essa afronta 
Que se acobarda e cede à sombra

Se não for para inspirar-te
O Olimpo está cheio há de haver outra divindade 
Que não te roube a dignidade, a consanguinidade 
Não é um crime que te iliba de responsabilidade

"Je suis responsable"

Sei o que é sentires-te incapaz de olhar o espelho
Fica a impressão que do lado de lá jaz um estranho
Preferes a nuvem que te faz o olhar vermelho
Mas com um passado tão igual não há moral p'ra dar conselho 
Os meus anos de avanço tornaram-me intransigente 
com tudo o que tinge a cinzento a minha vida vigente 
Quer te sirva de exemplo ou te sintas isento
Espero que tenhas o juízo que eu exijo a mim mesmo
E conheço tão bem esse pequeno anseio
Que é esperar por algo, no fim, sabendo que não vem
É diferente ver a luz e deixar que te encandeie
Dizes que o teu pai bazou? Boy o meu também 
Perdi meses de vida, nesse mesmo registo a
Tentar tornar o meu desespero bebível 
Mas eu prefiro inocular-me com veneno de víbora
A conformar-me e deixar que o mesmo erro se repita

Edknowledge - Consanguíneo (Madkutz prod) [Garmønbøzia EP 2/5]

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O motivo do meu hiato, correndo o risco de ser ingrato
Sem renunciar ao mundo não teria tido o mesmo impacto
Imagina-me neste sitio, o mesmo triste, desempregado
Com um recém nascido a meu encargo

Eu que... além do riso esporádico
Abrigo um frio gélido sem registo nos árcticos
Preciso mudar, isso... é um dado adquirido
Até lá, assimilo os meus traços asininos no meu retiro monástico

Reviver o passado é uma tortura sórdida
E dificil ver o futuro sem uma estrutura sólida
As mãos calejadas, uma corcunda horrível
De carregar os pecados que se tivesse kumbu absolvia

A intenção é nobre, a ideia progressiva
Mas esta areia movediça não me progredir bruh
É este o purgatório que a igreja profetiza?
Podem me condenar por tudo desde que não seja por preguiça

Quando o bom senso ausenta, o consenso aumenta
Entre as vozes que me dizem que vou ser um monstrengo aos 'enta
Ao perceber o que fiz com o tempo - mau lema
De aceitar que me digam que tenho de me contentar, pena...

Farto de chegar ao fim do dia vencido
Com fantasias vãs do que podia ter sido
Feitas as contas eu só queria ter tido
Uma infância onde chegar aos 20 nao fosse um brilharete tipo...

Vindo os 30 - sintoniza um Zé Ninguém de fato a
Tentar convencer-se que o mero empenho o salva
Podia ser dono do Universo inteiro que nada
Me tira a sensação que alguém me deve ninguém me paga

As falhas que retive do meu pai a denegrir
A minha mãe e o meu irmão são iguais às que registo
Nestas páginas, a negrito, até que eu caia ou me dedique
A ver corais de recife numa praia em Tenerife

Esta é a vibe a que dedico toda a raiva de menino
A quem calha a sorte prosaica de ser cobaia do destino
Desde as saias duma aia que de high não se restringe
A aguçar-me este apetite auto-destrutivo

O que escrevo é um eufemismo, nunca uma hipérbole
Uma luta muda, que nunca purga, dura p'lo eterno
Por culpa do intérprete, perdura num loop contudo
Para ser justo - que é que é mais uma fagulha no inferno?

Edknowledge

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