Dos amores mais vendidos  

Um amor sem conservantes logo pode se estragar 
E o que um dia já foi doce pode amargo então ficar

Mantenha seu amor guardado no congelador
Ou então experimente outro com um novo sabor
Achei um coração barato numa promoção
Mas era de segunda mão

Se perder a validade ou deixar de funcionar
Jogue fora, compre um novo e coloque em seu lugar

Um amor que apodrece leva o gosto de quem vai
Dos amores mais vendidos, há o que quebra quando cai

Corações estão na moda, várias cores e padrões
No varejo ou atacado, qualidade e preço bom 


10 - Dos Amores Mais Vendidos

Epístola de um Homem a si Próprio

Pensando, eu, em mim mesmo e na minha vida então me vejo
Perdido entre os caminhos construídos em meu peito
Estradas tortuosas, vales, ruas sem saída, imensidão
Certezas esvaindo-se e loucuras transformando-se em razão

Por trás de um sorriso também pode haver maldade
Há lágrimas que vertem no auge da felicidade
Os fatos se deformam e, nem sempre, o que enxergamos é o que é
Criamos, desta forma, muitas das nossas verdades e nossa fé

Duvide, experimente, dê mais chão ao improvável
Há dentro de si mesmo mais que o inimaginável
Em todo ser que existe há um universo a decifrar e compreender
Cada um de um jeito, cada qual com uma maneira de viver

Procure entender mais sobre o que está acontecendo
Não fique estacionado pronunciando julgamentos
Superficiais, ultrapassados, tendenciosos ou vazios
Pois toda ampla certeza e o impossível estão distantes por um fio


06 Epístola De Um Homem A Si Próprio

O Apocalipse Segundo um deus Bêbado 

A Associação dos Descrentes no Homem  previu que não vinha o futuro 
E propôs uma fuga por cima do muro da Terra aos seus sócios, 
Somente aos que tinham em dia o carnê. 
 “Mulheres e crianças primeiro, andem logo!    Mas sem desespero.”

A Clínica dos Desavisados mostrou-lhes que estavam entre as quatro paredes 
E, mesmo os cansados, saíram correndo com a vida nos braços 
E o tempo espremido entre as palmas das mãos. 
Nas costas levavam mais medo que fé e alguns davam ré.

Vendo este planeta em tamanha histeria Deus foi se medicar
E injetou-se na corrente sanguínea algo pra se acalmar.

Inventaram uma lei, sancionada unanimemente, 
A qual transformava o culpado em inocente 
Uma vez fosse parte daquele Congresso dos Homens que Fazem as Regras dali. 
E, inconstitucionalissimamente, afiam seus dentes. 

Um trampolim foi instalado na peatonal 
Pra que os transeuntes dêem um salto na vida e alcancem o que queiram na parte de cima, 
E possam, entretanto, entreter-se com isso.
Uns acomodados plantados na chuva pra ver o que vai dar.

Curiosamente os culpados de tudo acordaram 
E foram julgados - os pobres coitados - pelos ancestrais 
Daqueles que um dia lhes eternizaram com a culpa de tudo.
Espelho, poeira, carreira e canudo pra turma do fundo.

Diante tanto caos e orgia no mundo Deus quase chorou
Deixou sua bola furada num canto e se mandou.


05 Apocalipse Segundo Um Deus Bêbado

Atos de uma anti-hepática

A festa, em seu decurso, foi normal
Mas com trago liberado eu me estraguei
Nem sei quanta bebida misturei
Mas resultou quase fatal

Detesto admitir que me entreguei
E apelei covardemente a um sonrisal
A droga efervescente me fez mal
 Me fez rever o que traguei

    Quero dormir um pouco mais
    E não ouvir nem ver ninguém
    Juro, não bebo nunca mais 
    Estou muito anti-hepática

No fim todo vexame é sempre igual
E a ressaca não tem pena de ninguém
Ou bebe quando acorda e fica bem
Ou o dia inteiro passa mal

    Quero dormir um pouco mais
    E não ouvir nem ver ninguém
    Juro, não bebo nunca mais 
    Ando muito anti-hepática


04 Atos De Uma Anti - Hepática

Cidade dos Normais
Tudo está certo, foi comprado o silêncio
E vai chover na Cidade dos Normais.
Estamos blindados pelo tempo imperfeito
E aqui dentro há verdades irreais.

Empedernido, olha o olho de vidro
E só enxerga o que é feito pra se enxergar.
Emoldurado, o prefeito quadrado
Com as ideias herdadas de seus pais.

Ouvi dizer que um dia aqui o vento ardia
Mas foi só um dia, comumente um dia.

Estereotipado, movimento parado,
Um cumprimento educado e nada mais.
Conveniente toca a banda contente
Uma canção que a gente sabe cantar 
 
O céu está perto, 
Não há nuvens nem vento 
E vai chover.


03 Cidade Dos Normais

Observo mutantes

É assim, mas nunca mais igual já foi
Vamos nos transformando e evoluindo
Deixando algo pra trás pra dar vazão ao que vem vindo
E então será como se estivesse sempre ali.

Caleidoscópico, observo mutantes
Espelhostrábicos resvalam-se os disfarces 

Onde andarei ano que vem?!
O que será de nós?! Não sei.
Quais novidades nos trarão transformação?!

Habito este museu de novidades
Labirinto eu mesmo e aonde vou
Sinto repudio ao que amei um dia
E há coisas que eu odiava e sinto amor

Homem-primata ou Super-man?!
Predestinado ou me inventei?!
Quais são as chances de tornar-me o que julguei?



02 Observo Mutantes

Giovanni Caruso – voz, violão, baixo, piano, guitarra;
Escambau Paraguaya – voz, percussão, acordeão;
Zo Escambau – voz, guitarra, violão 12;
Ivan Rodrigues – bateria;
Lucian Araújo – órgão;
Yan Lemos – voz nas faixas 1, 2, 3, 7, 9, 11 e 12;
Nicolas Salazar – pandeiro na faixa 4 e sax na faixa 3;
Raule Alves – trombone nas faixas 3 e 4;
Sixto Corbalán – Arpa nas faixas 5 e 13;
Eber Soares – Cello nas faixas 5 e 13;
Vanessa Chaves – trompete na faixa 13;
Emerson Caruso – solo final na faixa 11.

Gravações realizadas em 2013/14
por Sanjai Cardoso na Jamute Áudio em Curitiba,
por Marcos Palyga em Lodegarbett Estudio em Asunción (PY)
e pelo Escambau em estúdio caseiro. 

Gravuras - Ananda Kuhn
Capa – Ramiro Pisseti

Todas as músicas de Giovanni Caruso
Arranjo na faixa 5 – Escambau Paraguaya
(*letra da faixa 12 - Maria Ilma Caruso) 

Produzido por Sanjai Cardoso e Giovanni Caruso.

A todos os colaboradores e fãs d’O Escambau.
Agradecimentos especiais a James Feeler e Jorge Garbett.


01 Entranhas (ou Introdução Ao Novo Tentamento)

A Parábola dos Errantes

Doutor analista diz saber a solução...
Só pra ele mesmo é que não.
O pastor diz que o dinheiro é o que nos faz sofrer.
Todos, menos ele, podem crer?!
A polícia diz representar a nossa lei,
Mas não serve de exemplo pra ninguém.
#
Eu mesmo me digo que preciso ser mais eu,
Mas não lhe permito ser você.
A TV me recomenda usar moderação
Mas me oferta em dobro a tentação.
Num dia a ciência afirma que a coisa faz mal
Depois volta atrás diz que faz bem.
#
Nossos governantes dizem ter a solução
Só pra eles mesmos, seus irmãos e alguns parentes
E outros mais contudo é isso e nada mais.


09 Parábola Dos Errantes

Macaco Evoluído do século XXI

Macaco evoluído, tão diverso, tão comum
Ainda é agressivo em pleno século XXI
É preconceituoso com o que não sabe entender
Mas julga-se o mais divino entre os seres

O bicho se perfuma pra não sentir seu fedor
Tem o instinto irrepreensível diante de suas paixões
O humano é um ser complexo e, às vezes, racional
Que não se considera um animal

Astronautas, cirurgiões
Assassinos e ladrões
Brancos, negros, transexuais
Vegetarianos, canibais
Religiosos, cientistas
Guerrilheiros e artistas


Este exótico símio tem vergonha do seu corpo
Produz o impossível a favor de seu conforto
É um animal sensível, criativo e inteligente
Mas também é o câncer deste mundo doente

Aeronaves e remédios
Armas, carros, filmes, credos
Ferramentas, propriedades
O dinheiro e as vaidades
O comércio, a escrita
As verdades e as mentiras


MACACO EVOLUÍDO DO SÉCULO XXI

Fogo

Andando na rua, com os olhos descalços,
Confesso a mim mesmo: “Pra que tantos carros?”
“Por que tanto lixo espalhado no chão?!”
Tropeço em gente dormindo.

O gosto do asfalto está dentro de mim.
Os prédios brotando qual fosse um jardim.
A onda de medo não extorque meu brilho,
Só sei que no vento eu me espalho.

# Fogo!
É o que me dizem meus amigos de respeito
É que eu trago labaredas em meu peito
É que eu explodo quando entro em combustão (2x)

Me inflamam as chances e as novas ideias
Meu cérebro arde, meu peito incendeia
Diante o improvável e a simples beleza
Não sei se compete ao meu signo?!

O fato é que o álcool me deixa vibrante
As causas e efeitos não são como antes
Procure entender meus sinais de fumaça
Não sei meu futuro de cor.

#Fogo!
É o que me dizem meus amigos de respeito
É que eu trago labaredas em meu peito
É que eu explodo quando entro em combustão (3x)


#Fogo! (Ao vivo na Capela Santa Maria)

Desaforo Privilegiado 

Enquanto ele inventa respostas, 
Nós, cansados de ouvir, 
Mas obrigados a engolir (uma vez mais!) histórias tão iguais, 
Ficamos só torcendo pro seu enterro. 
Como é que alguém que rouba não vai preso?!
Porque é que um criminoso segue impune




E os donos do poder são sempre isentos, ilesos?!

Enquanto eu procuro respostas,
Eles - que sabem mentir! - procuram encobrir
Sua excrotidão e a verdade da nação,
A qual só resta um simples lamento.
Como é que suportamos tão calados?!
Como é que não prendemos fogo em tudo?!
Por que este privilégio inviolável pra eles?!

Enquanto você vira as costas, eles...


Desaforo Privilegiado

Escambau / s.m. (origem obscura) Seja lá o que for, é o que você quiser, venha de lá o que vier e muito mais e assim por diante... Série de outras coisas não mencionadas...

" ...o ESCAMBAU é um circo de sonhos, uma ferramenta onírica que retrata verdades e meias-verdades, um absurdo caleidoscópico, uma sala de espelhos imaginária que se instala no inconsciente de quem está desfrutando tanto o disco quanto o show."

ESCAMBAUoficial

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