Espantar o Mau Vento
(Thiago Thiago de Mello)

Se você me tentar lhe tiro do sério
Púrpura névoa do puro mistério
Extraio dos seus caprichos a sua dor
Pra tingir de lilás toda zanga preta
E expor no varal qualquer turra ou treta
Que me esqueça a danada da irritação

Vou espantar qualquer mau vento daqui
Que faz meu dia parecer um néon
Me azucrina dando ensejo a um piti
- Sai daqui! Sai pra lá! - 
Depois não resta nada
As portas tão fechadas e sós
Somos voz 
De um cosmos sóis

 Se ela me descontar o aborrecimento
Das intrigas e birras que desenvento
Tiro minha implicância do coração
Ziquizira teimosa ninguém aguenta
Um imbrólio, o escambau, da maior encrenca
Que minha ladainha é a solução

Vou espantar qualquer mau vento daqui
Que faz meu dia parecer um néon
Me azucrina dando ensejo a um piti
- Sai daqui! Sai pra lá!
Depois não resta nada
As portas tão fechadas, as manchas tão deixadas
As luzes apagadas, os letreiros luminosos e sós

Espantar O Mau Vento

Dona da Casa
(Renato Frazão)

Cala, ioiô 
Tira os óio grande das iaô
Canta, iaiá
No batucajé das ialorixá

Senhora moça
Dona da casa
Vem acender o teu fogo
Na minha brasa
Me deixa ser teu senhor
Até amanhecer

Rainha, dona
Dessa senzala
Vem arrancar o meu grito
Que o dia cala
Dura palavra de amor
Até emudecer

Cala, ioiô 
Tira os óio grande das iaô
Canta, iaiá
No batucajé das ialorixá

Salve, rainha
Do meu estrado
Quero fazer do teu ventre
Meu solo arado
Deixa eu viver por um fio
Até incandescer

Mulher, amiga
Dona da guarda
Quem sonha corre perigo
Se o dia tarde
Açoita meu desvario
Até obedecer

Dona Da Casa

Vingança de Cunhã
(Frederico Demarca/Thiago Thiago de Mello)

Foi cunhã 
Que me viu lá beira
Foi cunhã
A que me fez boiar
Foi cunhã
Na manhã derradeira
Cunhatã
A que me fez voltar

Arrepio no meião do rio
Arrebol fez rajada no ar
Ela passa, eu desconfio
Que o mundo está quase a tornar
De ponta a cabeça, desvario
A caminho de acabar

Foi cunhã
Vi descer a ladeira
Foi cunhã
Para a beira lavar

Desconjuro no fundo do furo
Desnorteio buscando o luar
Desgraçada, aventureira
Que me veio amaldiçoar
Não troço mais graça alvissareira
Nem vou mais malinar

Foi cunhã
No alto da ribanceira
Foi cunhã
Meu caminho cruzar
Foi cunhã
Feito flecha certeira
Cunhatã
Nunca mais vou tocar

Fez feitiço pra me dar sumiço
Arapuca pra quando eu passar
Eu pra sempre serei bicho
Não posso mais gente virar
Caminho de boto é descaminho
Nas águas do Andirá

Noite de maré cheia
De estrela a nos alumiar
Toda gente se arrodeia
Querendo engerado me olhar
Não faço nem mal a ninguém
Não tem mais quem queira me amar
Não troço mais graça alvissareira
Nem vou mais malinar

Foi cunhã
Minha alma festeira
Foi cunhã
Mau olhado lançar
Foi cunhã
Feito a cobra rasteira
Cunhatã
Quis me escorraçar

Meia-noite, no breu um açoite
Lua cheia que Deus fez sumir
Serpenteia rara noite
A modo de me redimir
Ó minha mãe d´água milagreira
Me faça, guerreiro, resistir
À vingança de cunhã
Que prometo nunca procurei 
Feio cego frete ao sol
Sou peixe no seu anzol 
Mas eu mesmo me pesquei
Quando dei confiança pra cunhã
Inventei um fim pra mim

Noite de maré cheia
De estrela a nos alumiar
Toda gente se arrodeia
Querendo engerado me olhar
Não faço nem mal a ninguém
Não tem mais quem queira me amar
Não troço mais graça alvissareira
Nem vou mais malinar

Vingança De Cunhã

Anoiteça
(Renato Frazão/Thiago Thiago de Mello)

Acabou
Calado nosso amor cedeu
Tanta dor
Só quero que anoiteça
Esquecer e depois lembrar
De como eu fui feliz

Junto a ti
Foi tudo ou nada por um triz
Desamor?
Prefiro que enlouqueça
Sem perder a razão
E te entregar o que sobrou

Caminhos gastos, ilusão
Foi o que em mim ficou
Tudo que um dia floresceu, ressecou
Já não me basta ter-te sem guardar
E no fim te errar
Quando quis apenas acertar


Anoiteça

Pagode do Sumaré
(Diogo Sili/Renato Frazão/Thiago Thiago de Mello)

Ritmo global
Lá vai, Brasil
Som universal
Lá vai, Brasil

Rock de caramuru
Funk de arrastapé
Punk do Iguaçu
No pagode do Sumaré
Samba de quintal de apê
Tecno de Marajó
Tango candomblé
Bate estaca de curió
Índio karaokê
No pagode do Sumaré

Vai levando som
Ai, ai, Brasil
Vai que fica bom
Cai, cai, Brasil

Black de Cafarnaum
JackSoul de Jequié
Sampler de Olodum
No pagode do Sumaré
Baile funk em Parintins
Bolero de bambolê
Traz os tamborins 
E agradece ao mano Caê
Somos de New Orleans
Somo tudo emipebê

O pagode é a canção expandida
Dentro do computador
Máquina de amor
Coração de hardware
O pagode é a visão distorcida
Do espelho retrovisor
Mexe o caldeirão 
Que hoje é dia de tereré
No pagode do Sumaré

Tem cara de cão
Ai, ai, Brasil
Rabo de pavão, Brasil
Selva capital
Sonho de Cabral
Mas não para em pé
Vai, meu Brasil
No pagode do Sumaré

Pagode Do Sumaré

Quero Quero

Flor Voadeira

Cantadeira
(Renato Frazão/Ruba)

Carro de boi
Chão pro roçado
De tão seco se foi 
Ficando talhado
Céu de abril
Canção de barro
Não se ouve nem pio
Sol queima calado

Cantadeira
Berro de amor no fim da estrada
Solidão ficou
Gemendo feito cabra desmamada
E é só que eu vou

Cantadeira

Pássaro Preto
(Gerson Deslandes/Renato Frazão/Thiago Thiago de Mello)

Rastro de nuvem no céu dos sabiás
Asa de luz, fino véu, passa num zás
Diz que sem ela o sertão não é sertão
Minha janela só vê escuridão

Ela se foi, derradeira, pra nunca mais
Minha paixão passageira, lua fugaz
Vai azulão, companheiro de solidão
Vê minha ingrata que mata meu coração

Antes que a tarde se vá, voa e me traz
Ela de volta e aí não foge mais
Tempo certeiro que é dessa missão
Pássaro preto te entrego essa canção

Pássaro Preto

Sanguessuga
(Renato Frazão/Gerson Deslandes)

Ela me pluga
Me beija, me suga
Me sanguessuga demais
Procura outro rapaz
Se já não mais me deseja

Depois me aluga
Me molha, me enxuga
Me desenruga o viés
Chega causando um revés
Quando a cidade madruga

Me deixa todo feliz
Me arrepia a raiz
Fico logo freguês
Fico louco de vez
Estalando o verniz

Ela me funga
Me entorna e resmunga
 Me excomunga feroz
Despeja na minha foz
Seu rio de água morna

Me subjuga
Me acua na fuga
Me centrifuga febril
Depois me troca o refil
Nunca a danada refuga

Me deixa todo feliz
Me arrepia a raiz
Fico logo freguês
Fico louco de vez
Estalando o verniz

Sanguessuga

Doce Guarida
(Renato Frazão/Thiago Thiago de Mello)

Cai a tarde, já me ponho só
Pouso na janela um girassol
Lembro claro o som
Da algazarra de andorinha

Foi alarde dentro do arrebol
Céu de argila trouxe um temporal
Era um tempo bom
Minha infância, prenda minha

Doce guarida, manancial
Volta remida
Solta no vendaval

Longe mas nunca distante
Basta se ouvir a canção
Dessa criança
E seguir adiante
Firmando os pés no chão
Firmando os pés no chão
Lançando o corpo ao céu

escambo

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