Quando o vento abranda sem nos avisar,
Se deixarmos de ser nós a controlar,
Uns e outros voam numa só direcção,
Aquela onde somos presa de leão.

O que é que queres fazer com o teu alfabeto,
Que tudo faz menos crer no teu dialecto,
A tua rede não mostra ser fraca,
Mas, na sede de se libertar,
Há sempre alguém que escapa.

De aspecto lavado, luzes a brilhar,
Histórias bonitas, poemas de encantar,
Toques milagrosos, maneiras de convencer,
Diz-me, olhos nos olhos, o que é que queres dizer!

Provo arritmia para compensar,
As águas paradas em que nos pões a flutuar,
Eu estou por perto, queiras ou não,
Eu só te pergunto: “- O que é que queres fazer irmão?”
 
Diz-me lá então o que tu queres fazer com o teu alfabeto,
Que tudo faz menos crer no teu dialecto,
A tua rede não mostra ser fraca,
Mas, na sede de se libertar,
Há sempre alguém que escapa.

VISÃO PERIFÉRICA

Arritmia

Temos uma cara,
Que vai mudando a forma,
Que guarda o tempo em linhas,
E as transporta,
Está ligada ao coração,
Desde a criação,
Que ela quer voar...

Quando algo em ti está fora de mão,
Quando o que sentes,
Não bate certo com a razão,
Quando a tua cara mostra,
Que está ligada ao coração,
Desde a criação,
Se ela quer voar,
Não há volta a dar.

Entre muitas caras,
Há uma que tu tens à borla,
Por ela não pagas nada,
Ou tens que dar algo em troca,
Se a ligares ao coração,
Vais sentir a sensação,
De voar... de voar.

Se a ligares ao coração,
Vais sentir a sensação
De voar... de voar.

Tu tens uma cara à borla,
Se perdida já não volta,
Tu tens uma cara à borla,
Se vendida, já não volta.

Tu tens uma cara à borla.

Cara À Borla

Se a gravidade,
Te cola ao chão,
Se a claridade,
Não rompe a escuridão,
Muda a função dos teus sentidos
Para um modo de visão periférica.

E no teu ritmo,
Vais descobrir,
Que agora só o que te resta é assumir,
Que está na tua mão,
Dares asas à imaginação teleférica.

Em cada eterno navegar,
Há uma terra vista do alto mar,
No mapa não vem,
E o céu é incapaz de mostrar,
Por isso, tanto faz...

Segue o teu caminho,
Dá a volta ao destino,
Há peças do teu jogo de montar,
Que tu podes encontrar,
Se olhares à tua volta,
Com a visão periférica.

Visão Periférica

NÃO PASSA DISTO
(Fernando Soares)

Sou cara,
Sou capa,
Sou torre,
Sem escada,
Sou Lua,
Mas estou sem prata,
Sou carta escrita à pressa,
E sem data,
Sou JET,
Sou SET,
Sou mais um pixel,
No ecrã da TV,
De facto,
Eu sou,
Mais uma capa,
Separada da espada.

Com blá, blá,
Com etecetera,
Cultiva-se a irrelevância,
Na superfície do planeta,
Como se de algo extraordinário
Se tratasse,
E quando a flor,
Atrai pela cor,
Mas trai no odor,
Dá cera amarga,
Em vez de mel.

Não passa disto,
Não passa disto,
A dura realidade,
Não passa disto.

Fiquei...
Parado a olhar para a cor de uma tela,
Tempo demais,
Fiquei...
Ausente da minha vontade,
Tempo demais,
Fiquei...
Com o sonho preso num copo,
Raiz retida no asfalto,
Na dobra da esquina,
Com a face virada para o alto,

Fiquei... (patati-patata)

Por mais amor que a flecha traga,
Vem para trespassar,
No fim só fica a dor,
Por mais fulgor,
Que o som do fogo, à noite,
Dê ao céu,
Só vai restar
Carbono, cinza e breu.

Sinceramente não tenho vontade,
De rumar à Lua nem a Marte,
Longe do que me apaixona,
Eu e a saudade,

E sei que quando a flor,
Atrai pela cor,
Mas trai no odor,
Dá cera amarga,
Em vez de mel.

Fernando Soares: vozes, guitarras, teclados.

Não Passa Disto

Foi de súbito que sentenciei
A beleza que formulei,
Comandado, decidi,
Aventurar-me só em ti.

E a dedicatória que te vou fazer,
Tem palavras fáceis de ler,
Faz (um pouco de) pouco do pouco que sei dizer,
E eu só te quero dizer.

És especial,
És uma fonte de água de Graal,
Por causa de ti pareço irreal,
Por causa de mim não me curo desse mal,
És o sonho que me faz dormir até tarde,
És solução para o fogo que arde,
Para mim os teus passos são de longa duração,
Quando te atravessas na mais curta direcção.

E contigo em mim, custa-me anoitecer,
Tal como amanhece, passo a amanhecer.
Sou uma maré que, cheia, não vai vazar,
Para te poder ter, um dia, no meu alto mar.

Se isto tudo é fruto de te ver, de te olhar,
Como é que seria se eu te pudesse tocar,
No fundo, no fundo, cansei-me de interiorizar,
Hoje quero mais poder-me recombinar.

Água De Graal

QUANDO É QUE ME DÁS
(Fernando Soares)

2ª-feira... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
3ª-feira... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
4ª-feira... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
5ª-feira... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
6ª-feira... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
Fim-de-semana...
"super-liga" na TV, "fast-food" é no "comercial", internet, jornal...
Por caridade...
Quando é que me dás?
Quando é que me dás?
Quando é que me dás o teu amor?
Quando é que me dás?

Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro, Dezembro,
Podia apenas dizer,
Passou um ano,
Doze meses é o mesmo,
Às vezes não, é um engano...
Segunda, Terça... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
Quarta, Quinta e Sexta... dos arredores para a cidade, da cidade para os arredores...
Fim-de-semana...
"super-liga" na TV, "fast-food" é no "comercial", internet, jornal...
Quando é que me dás?
Quando é que me dás?
Quando é que me dás o teu amor?
Quando é que me dás?

Fernando Soares: vozes, guitarras e percussões.
Ao Rui Júnior (Tocá Rufar), pela cedência do adufe e do bombo tradicional, um muito obrigado.