Em 2011, a imprensa divulgou o número de dois moradores mortos vítimas do primeiro grande incêndio que atingiu a Favela. Alessandra Moja, no entanto, relata que o número pode ser bem maior, chegando a pelo menos 30, e dá evidências que ela e outros moradores testemunharam na ocasião.

Alessandra Moja fala sobre a retirada dos corpos dos escombros do incêndio de 2011

Alessandra Moja e Caio Castor contam que o Secretário Municipal de Habitação, em reunião com moradores da favela, ofereceu "indenização" pela amizade desfeita entre crianças obrigadas a deixar o Moinho com sua família, em caso de erradicação da favela.

Em reunião com moradores, Secretário de Habitação acredita que pode "indenizar" por tempo de amizade

Caio Castor, do Projeto Comboio, conta como em 2012, Gilberto Kassab, por meio da Secretaria Municipal de Habitação, oferecia bolsa-aluguel aos moradores da favela para que deixassem o terreno, afirmando que no dia seguinte à aceitação da oferta seus barracos seriam destruídos. Trata-se da mesma tática usada, hoje, por Fernando Haddad.

Oferecer bolsa-aluguel para tirar morador da favela já era estratégia usada por Kassab

Alessandra Moja, moradora do Moinho, conta como a Secretaria Municipal de Habitação atua com diferentes ofertas aos moradores da favela com o objetivo de dividir e influenciar suas opiniões a respeito da moradia definitiva.

Estratégia da SEHAB municipal para dividir opinião de moradores da favela

Em 12 de julho de 2013, os moradores do Moinho se reuniram com o prefeito, Fernando Haddad, o Secretário Municipal de Habitação, José Floriano, e com o Secretário Municipal de Relações Governamentais. Neste áudio, Floriano afirma que fará no Moinho aquilo que os bombeiros determinarem. Naquela época, a comunidade tinha posse de um laudo de 2012 dos bombeiros dizendo que o poder público precisava criar uma rota de fuga em caso de novo incêndio. Em sua fala, Floriano insiste que um novo estudo dos bombeiros precisa ser feito. O novo laudo sai em 1o. de agosto de 2013, recomendando a imediata desocupação do terreno onde está a Favela do Moinho.

Secretário Municipal de Habitação diz que fará no Moinho o que bombeiro determinar

Em 2012, durante sua campanha para prefeito, Fernando Haddad visitou os moradores do Moinho e prometeu reurbanizar a favela e regularizar sua questão fundiária. Eleito, Haddad não cumpriu a promessa até o décimo mês do seu primeiro ano de mandato. Em reunião com os moradores em 12 de julho de 2013, o prefeito garante que os moradores não sairão de lá e que a favela será reurbanizada, a não ser que haja um problema de ordem "técnica". Em menos de um mês, a prefeitura encomendou e recebeu um novo laudo técnico dos bombeiros sobre a Favela do Moinho. O novo laudo recomenda a desocupação imediata do terreno.

Haddad cita hipóteses em que Favela do Moinho não seria reurbanizada

Em conversa por telefone da reportagem do Arquitetura da Gentrificação com o assessor de imprensa da Secretaria Municipal de Habitação Nivaldo Carboni, este afirma que não tem qualquer informação sobre os planos para o Moinho que a SEHAB do Estado afirmou que a SEHAB do Município tinha. Além disso, o assessor afirma que todas as informações sobre o Moinho estão a cargo da Secretaria Municipal de Relações Governamentais - o assessor desta, por sua vez, diz que esta responsabilidade é da SEHAB municipal. Por fim, questionado sobre a nota da SEHAB municipal dizendo que a Favela do Moinho seria erradicada, Nivaldo Carboni diz que a informação não procede, mas que também não está desmentindo ninguém, dizendo que sim nem que não.

Secretaria de Habitação do Município dá informações imprecisas e desencontradas sobre o Moinho

Em 27 de novembro de 2013, a reportagem do projeto Arquitetura (AG) da Gentrificação conseguiu, finalmente, fazer contato com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Habitação (Sehab) após envio de email e vários telefonemas sem retorno. O AG buscava informações sobre a PPP de Habitação do Centro, projeto do governo do estado e do município em parceria com o governo federal e empresas privadas. O governo estadual há tempos vinha dificultando o acesso à informação pública aos cidadãos. Na conversa com a assessora de imprensa da Sehab, Valeria Scheide, ficam claras as estratégias usadas pelo poder público para dar à informação pública o status de privado. Entre as estratégias estão: tergiversação, o uso de informações contraditórias e a interrupção sistemática do interlocutor.

Assessoria de imprensa da Sehab estadual nega abrir informações públicas

Em entrevista ao Arquitetura da Gentrificação, o arquiteto Milton Braga, um dos responsáveis pelo projeto urbanístico da PPP de Habitação, afirma que as moradias previstas no projeto serão feitas em "vazios urbanos" - áreas vazias ou subutilizadas. Milton Braga integra o escritório MMBB, um dos que realizou o projeto urbanístico do Instituto Urbem para a PPP.

PPP de Habitação será realizada em "vazios urbanos", afirma arquiteto

Em 27 de novembro, após tentar, sem sucesso, falar com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Habitação, a reportagem do AG tenta contato direto com o subsecretário da Casa Paulista, Reinaldo Iapequino. A secretária dele atende, explica a demanda ao subsecretário e retorna à repórter dizendo que Iapequino sugeriu que se fizesse contato, primeiro, com a assessoria. A repórter, então, explica a dificuldade que vem tendo para conversar com a assessora de imprensa da Secretaria Estadual de Habitação Valeria Scheide.

Repórter explica a secretária de gestor que não consegue acesso a informação pública

A Repórter Brasil apresenta seu primeiro projeto de jornalismo financiado coletivamente. Trata-se de uma proposta de investigação organizada pela jornalista Sabrina Duran, que tem como objetivo mapear a gentrificação em São Paulo e formas de resistência a este processo.

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