Vou me lembrar de você

É sobre nós?

Do álbum 'O Dia Mais Triste do Universo'. 
Terceira faixa.

Música Nipônica - Os Macacões

Rindo na cama

Querida Roxanne,

O vento frio de hoje a noite foi trazido por uma gentil dama. Ela trouxe junto a uma rosa vermelha, com um recadinho que rimava todinho.
Por um segundo, eu sorri e degustei tão calmamente cada doce palavra, e cada doce momento que eu tinha vivido com você, Roxanne.
Ela me falou umas coisas e eu falei outras, eu contei de como você nasceu e morreu e ela se compadeceu. Foi muito engraçado, até divertido.
Só que na verdade foi triste.
Ela se apaixonou por você, talvez porque eu esteja apaixonado.
Eu narrei tão lentamente e detalhadamente cada amor meu por cada parte sua. E ela sorria e via amor nos meus olhos.
Começou a pegar pesado, questionou cada ponto de cada palavra minha, já escrita e eu, tímido, assumi baixo:
-É para ela.
Ela riu, adorou me ver tão vulnerável.
- Roxanne era mesmo só luz, era o sol inteiro dentro do meu peito, mas deixou de ser. As coisas acabam e as vezes até dói ver morrer, dói viver até morrer. Mas acabam.
Roxanne morreu e me matou, nessa ordem.
Roxanne cantou para mim uma última vez, me deixou ouvir sua voz, riu de mim, me fez chorar, me criou esperanças para ser alguém um dia, Roxanne foi tudo em mim por bastante tempo, mas deixou de ser.

Agora a gentil dama parecia tão decepcionada. Ainda conseguimos fazer as pessoas torcerem por nós, não é engraçado?
Talvez não seja, porque a sua expressão agora me magoa tanto. Não por estar morta, porque nós dois estamos, mas por você não conseguir entender o que eu estou dizendo.
Roxanne, eu não a amo mais. Você morreu e eu morri, não existe amor. Mas eu sinto falta de te amar. Você sabe, aquela euforia, eu não sinto mais. E eu tento, tento, exaustivamente até acabar inventando a sensação, bem antes de dormir e penso "como posso ainda amar?" mas não amo.
Roxanne, não se magoe mais, nem me ouça mais.

Última carta para Roxanne

Você estava lá do outro lado da rua e o que eu precisava era de um abraço.
Me chamou e acenou de longe, eu queria que você viesse aqui,
Eu poderia até te chamar, mas passavam muitos carros na hora e você estava com seu amigo.
Foi assim a última vez que o vi.

Ainda moro naquela velha casa, ainda mais velha.
Estamos com problemas na eletricidade,
As luzes não acendem mais.
Nem eu.
Acho que o tempo passou rápido demais e eu só me dei conta agora.

Qual será a razão que nos fará fingir coisas em comum, para no fim ser o gostoso
"Estou com saudades"?
Na realidade, há tempos que não importa mais o que acontece para que eu te chame,
Só falo devagarinho
"Vem aqui, neguinho, vem?"


Amores restritos

Pelo começo, eu já sabia como seria o fim. 

Eu era tão bobo e amargo, achando que eu podia usar uma fórmula pronta para o amor.
Existia uma variante:
Nenhuma delas era você. 

Essa noite, eu estava louca para deixar de ser eu mesma.
Fiz alguns trabalhos, escrevi algo que deveria ser bonito, 
Conversei sobre coisas sérias e coisas banais com uns amigos.
Pensei na minha viagem, programada, no que que quero para a vida.
Em quantos filhos quero ter, com quem quero ter.
Será que a minha filha ainda vai se chamar Sol?

Divaguei por milhares de assuntos e pensamentos,
Sonhei calmamente com vozes ferozes e gritos ásperos.
Imaginei e desejei umas coisas que talvez não sejam certas,
Depois eu ri de mim mesma, policiando meus pensamentos. 
Dancei ao som do "Clube da esquina" sozinha e chorei de solidão.
Pareço boba, mas na realidade, eu me arrumo toda, na madrugada, 
Apenas para me olhar no espelho e falar "Eu sou Giulia"
Depois caio na risada e falo "essa não sou nem um pouco eu"
É, eu devo mesmo ser boba.
E tento, tento, tento, me achar em mim mesma.
Quando será que sou eu? Eu sou muito diferente de quando não tem ninguém olhando?
Zombo das minhas madrugadas e minto
"Essa noite desenhei, mas não gostei e joguei fora"
Mentira, só pensei por horas, sem nem ao menos perceber e saber o que era.

Outras noites, eu não posso pensar se não me rasgo inteira.

Leio até não conseguir levantar para apagar a luz.
Vejo um filme de ação, ou de terror, me escondo em uma série,
Jamais escrevo. Porque quando a gente escreve a dor sai, a lágrima cai.
E é nesse momento, que assinamos o atestado: 
Eu to sofrendo.
Nessas noites, as noites são regadas dos desejos mais destrutivos
E das forças mais amigáveis. Se agarrando a uma ordem de 
"Não se destrua" quando nem se tem mais argumentos contra si mesma.
Essas noites são as noites das pinturas.
Das cores, dos olhos.
São as noites dos sóis, a sós. Apenas só. 
É a noite que amanhece com os olhos colados.
A boca amarga, os ombros doloridos.
São os amanheceres com olheiras,
Sem a lembrança de quando dormiu.
Essas são as noites que os amigos chamam de drama,
São as músicas internacionais, são escuras e cheias de momentos deitados no chão.
Essas são umas noites tão difíceis, e tão trancadas. 

GiuliaCaroline