Sim,  quanto mais caio em mim
Mais eu me levanto
Sou entre um abismo sem fim
E um sem-fim de espanto
Vou e a descida que em mim
Impus tão frágil tombo
Se virarmos a cabeça assim
É como alguém voando

Alguém Voando

Futuro de 1993, floresta Amazônica.
O último ser humano, não se sabe por nossos radares se macho ou fêmea, se esconde por entre o labirinto de árvores.
Antes de transformarmos a Terra em combustível para nossa nave, precisamos retirar todas as formas humanas do material para não corrompê-lo.
Felizmente o último ser humano não sabe que nós Reptilianos sentimos o cheiro da respiração e corremos duas vezes mais rápido que aqueles pés primitivos.
Hoje, dez de nossos mais fortes répteis caçadores irão para o coração dessa selva e quem trouxer o corpo do ser humano totalmente carbonizado, etiquetado e embalado à vácuo, recebera o dobro da ração.

A Captura E A Morte Do Último Terráqueo Pelos Crueis Reptilianos

Quando ela sai daqui, sobe no seu lençol
Dizendo coisas que eu já ouvi
E que eu já falei também
Em noites de luar
Onde escrevi meu corpo no dela

Ouça, mas ouça bem, você vai me escutar
Em toda canção que ela sorrir
Em toda insensatez, em todo desgosto
Em todo olhar vazio, vazio, pro teu rosto

Eu vou estar sempre ali
Nas canções e nos papéis
E sempre vou servir
Como uma escala de zero a dez
Dentro dos lábios, sim,
Dentro da pele e dos anéis
Nunca terei um fim
Enquanto você não chegar aos meus pés.

Canto de desamor

Estados Unidos, 3148
Os robôs são enviados para o Oriente Médio com uma única missão: a dizimação total de toda vida que suas visões de calor conseguirem receptar. A missão é um sucesso. Os robôs, máquinas de limpo genocídio, aniquilam toda possibilidade de vida do antigo inimigo da América do Norte, os Neo-Ingleses, já que em 3120 a América do Norte foi tomada pelos Neo-Árabes e os Neo-Ingleses todos foram fugidos para o Oriente Médio. Porém os Neo-Árabes não sabiam que um robô, com sua avançada Inteligência Supra Humana, se apaixonaria por uma Neo-Inglesa. Também não faziam ideia que este robô tentou proteger seu amor e tentou conversar com os demais robôs de forma diplomática. Também não sabiam que essa mulher era na verdade uma hacker androide que destruiu rapidamente todos os robôs. E não faziam ideia, por fim, mas fariam o quanto antes, que aqueles trezentos robôs eram apenas latarias vazias, cujo interior estava estufado com dois ou mais Neo-Ingleses, provando como a História é cíclica, numa manobra que os futuros poucos historiadores chamariam de Neo-Robotic-Cavalo de Tróia.

A Destruição De Todo Oriente Médio Pelos Robôs Norte Americanos

Damn!

Coberta

brokenwaltz

Um Grito

meus dentes brancos como as lampadas
rangem seus lampejos
lambem entre beijos
os tijolos os tesouros
os besouros das paredes
das paradas dos porretes
as paredes as paredes que construimos pra pular;

meus dedos brancos como as lâminas
sanam empecilhos
sangram supercílios
breves lutas, leves ruas,
greves nuas nas paredes
nas paradas nos porretes
as paredes as paredes que construimos pra pular

a música jamais será do povo
e a voz do povo não é a de Deus
do Deus do povo talvez seja
mas não do Deus que rege os teus
o povo canta e Deus sussurra
que a voz dele não cantaria assim
e as paredes, as paredes, perseguem nuvens sem-fim

o som jamais será prisão
o som, o som jamais serão
o pão, o teto e o chão
o som jamais serão
e as paredes e as paredes
que construimos pra pular
a música sempre passara
a música trespassará
Trespassará o intransponível
a música sempre será invisível.

asparedes

Penínsulas Etéreas

Meu filho vai brotar de mim só
Como uma flor, um nó
Que não se desfaz mais

Meu filho, só posso sentir bem
Quando você diz: Vem
Que eu vou te ninar

Meus filhos, meus doces filhos
Sempre tão bonitos cá dentro de mim
Meus filhos quero seguí-los
Depois de baní-los do santo jardim

Minha filha vai pingar de mim sã
Como a luz da manhã
Dobrando no mar

Minha filha, que trará no peito a lua
Serei sim toda tua
Quando me acordar

Meu corpo tão cheio de mitos
Não cabe num grito, nas ondas, no cais
Meu corpo será dos meus filhos
Grasnando feridos o meu NUNCA MAIS

Bartolomeu e Catarina

Um homem que todo dia morre e que todo dia renasce de dentro da própria voz.

Alguém Voando

Horácio Dib

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