Cabaçal Beta

As tradições Cariri e a cultura do nordeste do Brasil
Entrevista de Junúr para a RFI - Rádio França Internacional.
Paris, 8 de Julho 2015 - por Adriano Salgueiro
O cantor, poeta e brincante do Ceará, Junú e os seus amigos músicos Roberto, Igor e Mariana efectuaram de 13 de Junho à 13 de Julho uma tournée europeia que passou por Paris. Pela ocasião nós acolhemos nos estúdios da RFI Junú e os seus companheiros para falarmos da sua carreira, da cultura e história Cariri e dos ritmos do nordeste brasileiro. O nosso encontro foi pontuado por uma revisita acústica de algumas das composições de Junú.

Entrevista de Junú para a RFI - Rádio França Internacional.

Nova Juazeiro

Faixa inedita de Junú

Natureza - EP "Forró Eletrônico, Toadas Digitais"
Música - Geraldo Junior e Beto Lemos
Produção Geraldo Junior e Ricardo Cotrim
Arranjo - Beto Lemos e Geraldo Junior
Edicão - Ricardo Cotrim
Mixagem e masterização - Pedro Tie
Voz, sintetizadores e bases - Geraldo Junior
Guitarra - Beto Lemos
Foto - Clarice Lissovsky

Natureza

Eram tantos os sinais de tua natureza
Anunciando as chuvas, os estios,
Em seus ciclos, os fins e recomeços.

Não sei porque insisti
Não observei o meio.
- Talvez abrupto, pela ação do tempo
Ou quem sabe em transe,
De som em sonho, encantado.

Observando as estrelas,
Segui, fiz meus sacrifícios.
Sangrando em tua dor
Ou cantando em teu sorriso,
Fiz tudo o que foi impreciso.
Não me arrependo por isso.

Vez em quando ainda pendo
Mas tenho teu equilibrio
E solidez, e esperança
Estou na maciez de tua lembrança
Acalentado. Amamentado
Como uma criança

Natureza (Single)

Junú toca a música Joana Madrugou, aprecia sua com Beto Lemos, no Projeto Praça do Circo Voador 2016


Joana madrugou,
Quais canções foram tocadas?
Em quais desejos, harpejada
Acordada, ela sonhou?

O que compuseram seus segredos?
Do juízo até os dedos
Da cabeça ao coração

São vidas, lembranças?
Em suas mãos, inspirada?
Tão linda! Em seus anseios
Insone, debruçada.

Joana Madrugou ao vivo no Circo Voador

Fim de Tarde (Desmatamento)

Baião Glitchstep

Baião Quebrada

Lembranças do Encantado

Experimentações eletrônicas do nordeste contemporâneo.

Transcendendo

Meu canarinho minha beija-flor
Traga noticias do meu grande amor
Que foi embora e nunca mais voltou
Meu canarinho minha beija-flor


Meu Canarinho, Minha Beija-Flor

Ela me dará outra canção?
Meu peito involuntário se contrai
Aguardando em paciência e oração
Ela me consome o coração
 
Mas o que construí
Não se desfez
 (Ai!) Não se desfaz
E ha de não se desfazer jamais!

O passado, os ancestrais
Deuses tortos
O Horto, um cais.
Da igreja da sé à matriz do juazeiro
É o caminho de um mundo inteiro

A partida, a chegada
O reencontro, o confronto
O crescendo na orquestra!
Eu fico tonto.

Me prometeste uma existência longa e de prazer
Viver o amor, a bel felicidade
Warakidzã, o sonho, o rito de passagem
Rompendo os ciclos de nossa imortalidade

Que nos atrai
E se refaz
E nos disfarça
Só para nos reconhecermos mais

Ancestrais!
Minha menina, te dou tudo o que quiser!
Porque por ti, conheço o perfume da flor
Sou cariri minha sina me fez cantador 
Vi a mãe d’água!  Sei teus segredos, mulher!

Ela me dará outra canção?...

Mas o que construí
Não se desfez
Ah! Não se desfaz
E ah de não se desfazer jamais!

Ancestrais

Perguntais como se chama

Perguntais como se chama
É tão galante o menino
Eu me chamo rei dos peixes
Jesus, cordeiro divino

Levanta, Pedro alevanta
Dessa cadeira divina
Pergunta a nossa senhora
Se tem santo na matriz

São Pedro se alevantou-se
Procurou o santo e não via
Nossa senhora chorava
Quando o divino saía

É tão galante o menino

Eu me chamo rei dos peixes
Jesus, cordeiro divino

Tanta flor, tanta beleza

Tanta flor, tanta beleza
A flor mais mimosa é a minha

Meu reisado se conhece
Pelo som da violinha

Reisado é bom

Reisado é bom, Reisado foi minha infância
Ainda hoje eu tenho lembrança
Do Reisado que eu brinquei

Chegou a vez eu hoje vou recordando
E a velhice adesmanchando
O que a mocidade fez 

Peças de Reisado

É meio dia, é sol a pino
Eu já transpiro e vou dizer! 

O meu lamento não tem história
Não tem memória, o mundo não se acabou
Daí por diante segui pensando (segui cantando)
Não acabou, mas está se acabando

No meio dia de um vinte e três de junho
Já a alguns anos depois do final dos tempos
Tanto calor mexeu com a minha cabeça
Eu estou vendo! Quase não me arrependo

Lá vem a banda, talvez seja uma miragem
Dobrado e marcha, mas parece um funeral
São deserdados, esqueléticos soldados
Numa parada, um desfile ou coisa igual

Não tem beleza, a miséria em suas faces
Verdade e lenda se (ajuntaram) arranjaram num só hino
Vão celebrando vitórias que nem sei se temos
O purgatório já não cabe um nordestino  

No Juazeiro, à cidade
Eterna Vigília reveste,
Paira no ar um fantasma
De paraíso ou de peste,
De juízo final no fórum
Da injustiça terrestre.
 
A cidade se recolhe
Serene mobilizada,
Numa muralha ou num manto
Guarda a tenção domada,
Como se só ela soubesse
Da mensageira velada.
 
Conserva o nervo-energia
A espera da pancada,
Da ameaça que pende
Como pendão ou espada.
Na prontidão se retesa
Em arco e flecha apontada.


Pro fim da vida até que morte nos ampare
Será que existe pra esse mundo uma salvação
Se não, eu fico aqui vagando pelo tempo
Com minha alma afoita por revolução 

A Alma Afoita da Revolução

Quando a verdade descer nos meus olhos
E o destino vier nas encostas
O sol me trará novamente
A luz que preciso pra me encandear

Aí serei como o fogo
Descendo no alto da serra
Trazendo na roda do tempo
As horas que marcam o desencantar

Vem que o destino chamou
E é chegada a hora de revelar
Vem que que o fim desaguou
E a grande pedra vai rolar
Eu ja traguei do meu fumo
Guardado comigo o ano inteiro

E agora revela o teu sonho
A baleia que irá despertar
Com a virgem trazida em seu dorso
Ela nos guiará

Warakidzã - Senhor do Sonho

Warakidzã

Treme-Terra (Ou Grito de Guerra)

Estava na desalegria
Vagando pela cidade
E o mormaço da saudade
Me pegou ao meio dia
Chega dava uma agonia
O calor e a solidão
Queimavam meu coração
Mas eu não esmorecia

Caia em mim
Chuva que lhe quero bem
Caia em mim
Chuva que quer me molhar
Leve eu e meu amor
Quando rio lhe levar
Leve eu e meu amor
E conte os segredos do mar

Eu cantava meu repente
Quando ouviu um chamado
E fiquei emocionado
Quando olhei para o poente
Linda flor vinha contente
Carregada de alegria
Meu amor, ela dizia
Como esta linda a nascente

Caia em mim
Chuva que lhe quero bem
Caia em mim
Chuva que quer me molhar
Leve eu e meu amor
Quando rio lhe levar
Leve eu e meu amor
E conte os segredos do mar

Linda flor minha canção
Se passaram tantos anos
Desde que desencontramos
Que em meu peito faz verão
Mas sempre que eu lhe vejo então
Fico logo em tempestade
Trovejando de vontade
De ser chuva em teu sertão

Caia em mim
Chuva que lhe quero bem
Caia em mim
Chuva que quer me molhar
Leve eu e meu amor
Quando rio lhe levar
Leve eu e meu amor
E conte os segredos do mar

Num Trovejo de Vontade

Investindo cantigas de alegria
Cheio de sorte bateu palma e dançou
Dos índios herdou a sua sina
Soprou pife e não mais desencantou

Segue o tempo de lâmina cortante
Debandando outros rumos da historia
Nos mostrando que as lendas Cariris
Ainda vivem num encanto a sua glória


Entoando uma gaita, hoje pife
Invocou os seus Deuses numa dança
E previu de um tempo em que se vissem
Forçados a sumirem sem lembrança

Poditã vou fumar minha esperança
Pois por ti sou pajé e raizeiro
Warakdzã me veio e disse em sonho
Badzé vai baixar no meu terreiro

Mãe Iara serpente sagrada não perdi minha fé
Ê mãe d'água és Deusa sem mágoa que habita o sopé

Na zabumba de dançante pancada
Segue o tempo numa louca melodia
Meu suor então mostra em minha face
Um semblante que eu desconhecia

Monto um vento que corre pra chapada
Vou a mata entregar-me ao que me chama
Numa fonte então vejo a minha imagem
Sou caboclo minha alma não se engana

Mãe Iara serpente sagrada não perdi minha fé
Ê mãe d'água és Deusa sem mágoa que habita o sopé

Filhos da Mãe D'água

Música de Geraldo Junior e Antônio Queiroz

Cantoria de Reis

Álbum gravado em 2007 no Ibbertsom Estúdio no Crato CE - Região do Cariri.
Produzido por Geraldo Junior
Arranjos de Beto Lemos
Direção Beto Lemos e Geraldo Junior
Gravado, mixado e masterizado por Ibbertson Nobre.

Minha Violinha

Nordestino (Na Beira do Mar)

Briga de Foice

Chuva de Janeiro

Álbum gravado em 2003 no Estúdio Pró-Audio em Fortaleza CE

Geraldo Junior - Voz, flauta, pífano, percussão e performance
Dude Casado - Guitarra, violão, baixo, sanfona e voz
Antônio Queiroz - Baixo, pífano, flauta, violão e voz
Ramon Saraiva - Guitarra, baixo violão e voz
Evaldo Rodrigues - Percussão
Junior Casado - Percussão
Pantera Monteiro - Percussão

Participações especiais:
Waldonys Menezes - Sanfona
Beto Lemos - Percussão
Telminha e Andréia - Vocais
Xavier Francisco - Percussão
Gil Duarte - Flauta
Franzé Ramos - Guitarra

Tocaia

JUNÚ desenvolve um trabalho livre de fronteiras estéticas e linguagens artísticas, muito próprio, nascido na fonte das manifestações populares do Cariri, sempre teve o seu olhar contemporâneo.

O cantor, compositor e instrumentista natural do Cariri - CE, apresenta um trabalho que reforça sua identidade plural e múltipla, transbordando o estereótipo de gênero e o do sertão nordestino para propor outros olhares sobre as tradições.

Junú

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