Tarde de Sol 
Milonga de Maurício Marques
Flauta: Raul Costa d'Avila
Violão: Maurício Marques

Música Popular Brasileira

Tarde de Sol (Milonga) - Maurício Marques

Johann Sebastin Bach (1685-1750)
Registro ao vivo no Auditório II do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas. Projeto TIMBRAR BACH 
Com Lúcia Cervini ao piano e Raul Costa d'Avila na flauta.
Dezembro 2016 - Pelotas - Rio Grande do Sul

Timbrar BACH

Siciliana - da Sonata em Mi b Maior - BWV 1031 - J.S. Bach (1685-1750)

Sobre “Omolu” - Prelúdio com espírito de prece 

Mesclando crenças que configuram o sincretismo religioso, “Omolu” é um prelúdio com espírito de prece devotado ao Orixá da cura. 

Expressões do catolicismo como “com clamor de intercessão”, “fervorosamente” e “piedosamente” compõem a narrativa sacra, que se faz necessário ser conduzida com compaixão, lucidez e espontaneidade, aliadas à fé e esperança pelo fim da trágica pandemia que assola a humanidade. 

Os silêncios, representados pelas pausas e sinais de suspensão de som, aliados às articulações e recursos das técnicas expandidas, reforçam a expressão de lamentação e a intercessão da divindade pela mediação, pedida com insistência e humildade ao longo do prelúdio.

Omolu - Prelúdio com espírito de prece - Raul Costa d'Avila (1961)

Sobre “Afetos” – Dois mov(e)mentos para flauta solo

Quando os dois temas surgiram, a primeira ideia para o nome foi “Semeando afetos”. Logo depois achei que o título não seria adequado e desconsiderei a ideia inicial. Duas semanas mais tarde fui visitar uma exposição em Belo Horizonte (MG) com o título “NISE – A Revolução pelo Afeto”. Uma belíssima homenagem à cientista Nise da Silveira, uma mulher genial que através de sua sensibilidade, competência e extrema habilidade para lidar com o ser humano, soube reposicionar o entendimento da loucura na história da humanidade por meio de ferramentas artísticas, revolucionando tudo pelo afeto.

Lá, entre tantas coisas que vi e senti, me emocionei muito quando deparei com um texto intitulado “Cartas a Spinoza”: “[...] O afeto, para Spinoza, do verbo ‘afetar’ é aquilo que nos move, que toca, que mexe com a pessoa, com sua alma. Esses afetos podem ser de qualquer natureza e são únicos em cada um de nós; existem no espaço da nossa subjetividade. [...]”

Imediatamente lembrei-me do título que desconsiderei, pois o que acabava de ler ia ao encontro daquilo que senti, que me moveu a criar os dois mov(e)mentos. Foi um momento duplamente impactante: me emocionar com o trabalho e a dedicação de Nise da Silveira, e refletir sobre o afeto. Assim, reconsiderei o título inicial optando apenas por “Afetos”, presumindo que estes poderiam ser semeados pelos sopros de cada um daqueles que possam vir a tocá-los, de forma única, no espaço das suas respectivas subjetividades.

A ideia que tenho para estes dois afetos – Prelúdio e Capricho – é que eles sejam tocados na sequência, pois embora contrastantes são complementares. O primeiro (Esperanza), introspectivo, místico, fervoroso; o segundo (Catavento), flutuante como o vento, imaginoso.

Por fim, creio que somente experimentando será possível perceber se estes afetos, semeados pelos sopros, poderão ou não promover mov(e)mentos para que possam, de alguma forma, tocar, mexer com as pessoas, com suas almas, como nos legou Nise.

Abraços

Raul Costa d'Avila
Pelotas, março de 2022

Afetos - Dois Mov(e)mentos - I. Esperanza - Raul Costa d'Avila (1961)

Afetos - Dois Mov(e)mentos - II.Catavento - Raul Costa d'Avila (1961)

Sobre “Vozes de um Rio” 
Dedicada a meu professor Expedito Vianna (1928-2012), “Vozes de um Rio” foi inspirada num trecho do escritor Guimarães Rosa (1908-1967) escrevendo sobre si mesmo: “[...] porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem [...]”.
 A ideia foi homenagear meu querido professor, procurando explorar a sonoridade da flauta como Expedito gostava muito de fazer com competência e profunda dedicação em suas aulas. 
Fã do tenor italiano Beniamino Gigli (1890-1957), Expedito ficava impressionado com os harmônicos que surgiam da voz de Gigli quando este mudava as vogais. 
Neste contexto, naturalmente tentei explorar a sonoridade da flauta e seus matizes, procurando explorar ainda o uso do vibrato de forma mais controlada, criando para isto um sinal que foi inspirado nos exercícios cotidianos que Expedito me pedia para fazer em suas aulas, conforme anotações que ainda guardo. 
“Vozes de um Rio” é um mergulho nos mistérios e encantamentos do som da flauta, em suas profundezas − e quem sabe ainda em nossas profundezas também?! É uma proposta que beira ao improviso, procurando contextualizar poesia (sonoridade da flauta e palavras de Guimarães Rosa), onde ousei equilibrar intuição, espontaneidade com racionalidade e emoção.
						Raul Costa d’Avila

Vozes de um Rio - Raul Costa d'Avila (1961)

Sobre o “Capricho Seresteiro” para flauta solo

A seresta faz parte da minha história de vida e do meu processo de aprendizado da flauta com meu pai. Além de ter participado de muitas serestas com ele, em 1977, em parceria com dois amigos violonistas participei de um concurso de Serenata na cidade mineira de Cataguases, quando esta celebrava seu centenário. Assim, tocamos valsas pelas ruas da cidade – inclusive “Primeiro Amor”, de Pattapio Silva, ícone da história da flauta no Brasil, que viveu grande parte de sua vida em Cataguases – e recebemos o primeiro lugar.

Portanto, minha relação com a seresta é de longa data, tendo uma memória afetiva especial por este importante gênero musical brasileiro e pelos seresteiros que a tocaram e ainda tocam essas melodias de surpreendente lirismo e poesia.

Este é o meu quinto tema dedicado ao gênero e, desta vez, em forma de “capricho”. Como se sabe, na música, capricho (ou capriccio) é um tipo de composição que tem a forma livre por característica, sendo muito explorado para instrumento solo e orquestral.

Desta maneira, tendo o lirismo seresteiro como inspiração, “moldei” caprichosamente esta seresta me permitindo dar asas à imaginação e criar mais uma vez algo destinado à flauta solo com ares de uma noite de luar. Ao mesmo tempo, penso que é uma possibilidade de instigar as novas gerações de flautistas a explorarem o gênero e, quem sabe ainda, a experimentarem criar temas com motivos seresteiros.

Dedico este “Capricho Seresteiro” à amiga e colega Valentina Daldegan como forma de gratidão pelo apoio e incentivo que vem me dando ao meu processo criativo de meus “poemas sonoros”.

Abraços e sucesso a todos que desejarem se aventurar, seja tocando ou compondo!

Raul Costa d'Avila
Pelotas, 21 de agosto de 2023

Capricho Seresteiro - Raul Costa d'Avila (1961)

Allegro - Sonata em Dó M BWV 1033 - J.S.Bach (1685-1750)

Adagio - Sonata em Sol menor - BWV 1020 - J.S. Bach (1685-1750)

A ideia deste poema sonoro foi criar algo que pudesse retratar a água fluindo pelos caminhos dela e, perante toda a tragédia que inevitavelmente que estava acontecendo no Rio Grande do Sul (Brasil), lamentasse profundamente o que estava causando, mesmo que a culpa não fosse dela, mas sim do homem.

The idea of this sound poem was to create something that could portray water flowing along its paths and, in the face of all the tragedy that was inevitably happening in Rio Grande do Sul (Brazil), deeply lament what it was causing, even though the blame was not its, but rather that of man.

Lamento das Águas - Raul Costa d'Avila

Flautista, professor no Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas. Autor de poemas sonoros para flauta solo, choros, valsas e canções sem palavras.

Tarde de Sol (Milonga) - Maurício Marques

Raul Costa d'Avila

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