São teus olhos que enxergam além
São tuas cartas que chegam a ninguém
É o tédio que faz-te dormir
São os sonhos que ousam cair

É miragem, é montanha
É a cidade feita estranha

Prosa de Céu Cinzento

Se eu estivesse cercado por outras pessoas
Numa avenida desprovida de boas coisas
Eu estaria a contemplar o prédio
Ah...

E se estiver encucando alheios afazeres
Transitando entre metáforas e deveres
Eu vou estar a contemplar o prédio
Ah...

Orações de metrô pra suspender o caos
Pulos de alegria, arriação natural
Um escarro ao céu em oposição ao tempo
Para mofar observando os prédios
Nas beiras das ruas, a fantasiar...

O Prédio

Eu não pude ver o dia nascer
Mas pode escrever que eu espero
A noite chegar pra nos apagar
Ao véu do luar
Eu confesso que desejo pesadelos
Que te façam vir pra o sonho seguir

Veja o sol se pôr fadado ao amor
O longínquo ardor do ocaso
Ancorar no fel de um cego escarcéu
Por tudo o que é meu
Eu declaro que espero pensamentos
Que tragam-te aqui pra nunca sair

Equinócio

Sem Título

Teu cheiro ficou
No meu peito me lembrou
De um dia ao luar
Que ouvia-nos cantar

Teu cheiro me levou
Do jeito que pegou
Se um dia te chamar
Não hesita em amar

Poesia do Teu Cheiro

Vou registrar teus cantos e risos
No fundo do meu peito
Pra quando eu precisar do amor
Encontre na estrofe mais perfeita
Da noite em que vi tua luz entrar

Tão alto quanto os sonhos
Almejo subir como um balão
Pra poder te olhar todos os dias
Mostrar que meus abraços e beijos
Sem os teus parecem solidão

Luz (Paradoxo do Fim do Túnel)

Peço ao vento que traga a calma da noite
Pra te aquecer
Que os ouvidos de uma cidade à deriva
Deverão crer

Ócio atento ao que vai pra longe
O horizonte quer se esconder
Ancorado ao sinal dos tempos
Lamento não merecer

Cai sem medo, pesadelo
Que uma música estranha vá nos render

Uma Cantiga Ao Tardecer

Ah, e sobre aquelas nuvens
Na máquina do céu
Quase espreitando no breu
Daqueles dias rasos e fáceis de prever
Nessa escória irão chover...

E quanto às velhas marcas
Foram embora sem aviso prévio
Pensei que a órbita dos sonhos
Viria nos moldar
Só mesmo em rezas longínquas...

Encerramento

E a meia noite chega
Solito aqui eu vou
Tédio se aconchega
Supondo o que eu sou

Chovo por meio instante
E algo me faz sorrir
Lembro de um horizonte
Onde não posso ir

(Mesmo estando entre os planos de Natália...)

Expresso da Madrugada (Natália)

Tua presença reverbera a minha
Em belos planos pra vociferar de dor
Se a tarde falecer a te iluminar
Alheio aos danos, quero admirar se for

E eu te levarei pra casa
De leve aos âmagos e movido a vapor
Mesmo que entre o pouco e o nada
A estrada errada eu já prossigo a teu favor

Sábado

E a casa cheia a me esquecer
Matando aos berros por não ceder
Ao vil descaso de nos ferir
Então declaro me dissolver
Num traço de chuva quando amanhecer

Eclipse

E ainda que nada seja como foi ontem
E mesmo que não sejamos como nós antes
E o tempo sobre aquele lugar a dois ande
Não partir

E mesmo que teu caminho seja a pé
E ainda com meu caminho sendo até
E mesmo o nosso caminho sendo a fé
Nunca ir

Não cair

Ontem

Quando a notívaga estrada de pedra luzir
E a ponta das quietas asas, singela se abrir
Eu vou levar-te o Sol
Se prometer não se esquecer
Daquela longínqua e turva
Que escala montanhas, sentindo nos olhos a contemplação

Julinha (Aquela Longínqua e Turva)

No meio da noite tuas roupas jogadas na praia
E eu acho que és fruto do tempo que a vida levou
Teu corpo me avança e engatilha os pincéis em minha alma
Ao ponto de que já não quero lembrar onde estou

Júniper

Debaixo da chuva os teus peitos me fazem de casa
E eu busco pousada entre eles, dizer que teu sou
Ninguém sabe ao certo dizer de onde veio essa calma
Que tu sabe levar embora pra tua imensidão

Júniper

Teu vento me apressa a um impulso e não dá pra esperar razão
Porque eu sou a quebra da quebra da quebra
E tu, um mar sem fim

Letra e composição: Luís Gabriel de Abreu

júniper, o.

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