O novo álbum do MARTIATAKA, “Coração & Tripas: pequeno monumento acústico ao country gótico”, foi gravado em cinco dias no Estúdio Versão Acústica, de Emmerson Nogueira, com produção de Nando Costa. O repertório é formado por 14 canções: 12 são releituras que cobrem todas as fases da carreira do grupo, e duas, “Cão” e “Armadilha”, para não perder o hábito, são inéditas e confirmam o constante estado de ebulição e criatividade do MARTIATAKA.

Não me importa

Mundo Bar

Bem perto

Cão

Diabo de mulher

Música nova

Armadilha

Pedra de gelo

Vertigem

Eu quero ser melhor

Martiataka – Karma, baby!

A força que move os corpos há mais de 40 anos continua ativa e intensa. Essa força estranha, transformadora e instigante já fez Lennon e McCartney virarem mitos, tornou os Stones um estilo de vida, Dylan um messias, Hendrix um gênio, os Pistols heróis, Kurt Cobain um mártir e uma infinidade de vidas modificadas em sua essência pura. E no rastro desta força mágica é que os mineiros do Martiataka se inspiram e buscam a energia da criação para produzirem um som sintonizado com o que de melhor o rock já ofereceu em toda sua existência.

No atual trabalho “Karma, baby!” eles soam atuais, mas mantêm o espírito blues eletrificado e acelerado que não pára de se transformar e revolucionar em dezenas de anos e anos de distorção e muito volume. É como se você tivesse um encontro com os mesmos três acordes de sempre, a voz rasgada, os refrões contagiantes e uma batida forte e seca. Os ingredientes podem parecer conhecidos, mas nas mãos de W. Del Guiducci (voz), Fabricio Barreto (guitarra), Thiago “Jim” Salomão (baixo), Victor “Frango” Fonseca (bateria) e Fausto Coimbra (guitarra), tornam-se criativos e inovadores, oferecendo um retrato atualizado do “espírito-rockeiro-selvagem”, estilo motoqueiro do deserto. Uma mistura de riffs mágicos a la Stones com uma mordida de Stone Temple Pilots e pitadas de Guns and Roses dos bons tempos do “Appetite for Destruction”. Talvez você sinta ainda a presença do Black Crowes e respire um vapor vindo da fonte New York Dolls.

Melhor que falar sobre o EP é ouvi-lo, de preferência bem alto. São três músicas: “Karma, baby!”, “Quer saber” e “Bem perto”, nas quais podemos sentir a evolução e amadurecimento da banda que aos poucos vem se tornando uma das maiores do estado, com apresentações ensandecidas e mantendo uma coerência com o estilo adotado.

Quem gosta de música boa e quer viver o lado bom da vida pode escapar um pouco da rotina e colocar o velho jeans, as botinas, uma camiseta preta colada e sair por aí ouvindo esses sons, pode ser naquela Harley retrô ou num opalão customizado. Aliás, essa é a maior proeza do Martiataka: eles conseguem “customizar” uma sonoridade universal e implantar uma marca própria, como se “tunassem” o bom e velho rock. Seja você um fã dos originais ou um entusiasta das revoluções musicais, uma coisa é certa: você precisa destas músicas, que aliás, são poucas. Elas deixam um gosto de quero mais... Fica a ansiedade para um novo álbum cheio.

Assim é o rock, assim é o Martiataka e assim somos nós. Sempre em frente. Sempre iguais, mas sempre diferentes. Felizes por estarem vivos e ainda mais felizes por fazerem valer a pena essa existência, transformando os sonhos, ansiedades e até mesmo desesperos em canções pulsantes. Dividindo essa experiência com todos aqueles que quiserem fazer parte da mágica...

Anderson Badaró, dezembro de 2010

Martiataka - Quer Saber

Martiataka - Bem Perto

MARGINAL – A VERDADE E A ATITUDE DO MARTIATAKA
Por Eduardo Monsanto

Uma das poucas vantagens de envelhecer é ter história pra contar. E meninos, eu vi: num longínquo abril de 2001, estive na rave em que os bandoleiros de Marte tomaram o planeta de assalto pela primeira vez (Há testemunhas...). E depois de presenciar o big bang que originou o Martiataka, nunca me decepcionei com eles. Em uma década, gravaram dois CDs e outros dois EPs e participaram de várias coletâneas. No palco, sempre trouxeram a atitude que medalhões do rock nacional esqueceram em algum canto dos anos 90. 
Del Guiducci é o mestre de cerimônias neste altar ornado por guitarras, tatuagens, jaquetas de couro e amor à música. De aparência frágil ao primeiro olhar, ele cresce quando solta a voz rouca e possante disfarçada na magreza emoldurada por costeletas. Mais do que isso: ali está um poeta, letrista do cotidiano que parece fruto de uma poção mágica preparada em tacho de cobre. Ali, há Jack Daniels, Batman, Wolverine e as lições de vida que teve com o avô, homem sabido da Miragaia (se você nunca ouviu falar na Miragaia, vá ao Google). Del Guiducci é a coisa real.
	E os demais integrantes do Martiataka também são feitos deste mesmo (abençoado) barro. O guitarrista e gaitista Fabrício Barreto gosta de subir ao palco com um quepe militar que remete de bate-pronto ao clássico “Apettite for Destruction”, quando Guns N´ Roses era Guns N´Roses. E como Slash, é uma fonte inesgotável de riffs criativos, trocando solos acelerados e barulhentos pela procura da nota certa. Com ele, menos é mais. Sempre. 
O baixista Thiago “Jim” Salomão também não sobe ao palco pra ser coadjuvante. O som que tira de seu Fender é rotundo e marcante, fazendo lembrar craques do instrumento como John Entwistle (The Who) e Glenn Hughes (ex-Deep Purple). Victor “Frango” Fonseca (bateria) e Fausto Coimbra (guitarra), aquisições mais recentes da banda, tiraram de letra os frequentes shows de abertura para medalhões do rock brazuca no Cultural Bar, em Juiz de Fora. 

O álbum
	Dei a sorte de receber uma advanced copy do novo álbum, “Marginal” (2012). E comparando com “Rock N´Roll Combustível” (de 2005, discaço) e “À Moda do Caos” (de 2009, mais sujo e agressivo), dá pra cravar tranquilo: “Marginal” é o Martiataka alcançando sua maturidade. Refrões marcantes, elementos que não tinham sido utilizados em álbuns anteriores (teclados, metais, dobro...), vocais versáteis, qualidade sonora e dinâmica nas composições. É de longe o melhor disco que o quinteto de Juiz de Fora já produziu, e seguramente está entre os melhores lançamentos do rock nacional em 2012. O faixa a faixa explica por quê.  

“MARGINAL” FAIXA A FAIXA

1 – Urgente
Um riff pegajoso (no melhor sentido da palavra: gruda como chiclete) abre caminho para o grito de Del Guiducci, que dá boas-vindas como um morcego saindo da caverna. A letra herética deixa a canção ainda mais atraente: 

“Eis a minha língua,
me entregue sua hóstia;
O seu corpo é minha Igreja,
então me abra suas portas!”

O clipe de Urgente é um sucesso nas mídias sociais, destacando o ator juiz-forano Tairone Vale no papel de um zumbi.

2 – Diabo de mulher
A letra que fala sobre as semelhanças entre o belzebu e o sexo (nada) frágil é embalada por guitarras com cara de Soundgarden e linha de baixo com pitadas de Steve Harris (Iron Maiden).  

“Me prendeu em sua pele,
Que diabo de mulher
Ela é maluca, eu sei,
Mas me diga qual não é!”

3 – Yeah, yeah, yeah (Marginal)

Aqui está um hino sem querer. Uma ode à liberdade, ao espírito dos motociclistas e dos roqueiros. A melhor canção do disco dá até uma certa vontade de comprar uma Harley-Davidson...

 “Eu não sei nem se tem som,
se vai ter cicatriz ou marca de batom
Se é no bar, ou é na rua, 
Vai ter telhado? Ou só um palco iluminado pela lua?”

4 – Serena
Tempero de southern rock, com direito a violão dobro e slide guitar. Um dos grandes solos de Fabrício Barreto no álbum. 

“E ninguém pode ouvir eu sei
Você se desesperou
Suspensa sobre o abismo que você
Mesma criou”

5 – Não me importa

Mais um grito de liberdade contra amores que machucaram:

“O pior ódio já se chamou amor
e nem mesmo isso em mim sobrou”

6 – Lugares escondidos

A canção, com pegada classic rock, é um convite ao risco. Em “Lugares Escondidos”, Thiago “Jim” Salomão imprime seu fraseado inconfundível em mais uma linha de baixo. Gaita e teclado também oferecem um tempero diferente ao som do Martiataka. 

“Deixe a máscara lá fora
Use só quando for embora”

7 – Eu Nunca Soube Dançar

Martiataka com metais? Não é que deu liga? O casamento do som cru dos mineiros com instrumentos de sopro é um dos pontos mais altos do disco, remetendo a “Pornograffitti”, do Extreme, álbum clássico dos anos 90. 

“Eu não, eu nunca soube dançar
Eu não, mas ela quer me levar
Eu não, talvez eu queira tentar
Pra te ganhar e te fazer sossegar”

8 – Nada vai me parar

Gaita, backing vocals, teclados, palmas e um delicioso sabor de Lynyrd Skynyrd embalam esta canção pra cima. 

“Eu tenho tempo mas não vou esperar
Aqui sentado até tudo mudar
Pois sou meu dono
e nada vai me parar!”

9 – Danny Trejo
Ator de filmes B, o californiano Danny Trejo virou ídolo dos meninos do Martiataka por suas performances em “Machete”, “Um Drink no Inferno” e “A Balada do Pistoleiro”. Os papéis truculentos de Trejo inspiraram um breve retorno à fase mais “suja” do disco anterior, “À Moda do Caos” (2009)

“Bang! Bang Bang!
Meu bem, eu tenho que matar alguém!
Bang! Bang Bang!
Meu bem, eu tenho que matar!”

10 – Revanche
O cowbell do baterista Victor “Frango” Fonseca conduz a faixa, que remete ao som do Hellacopters, deixando de lado o piano que marca a extinta banda sueca. Na letra, metáforas levam o relacionamento para a mesa de pôquer. 

“E agora sem você
Não tenho mais com quem blefar
Minha dupla não tem chance
Quero uma revanche pra recomeçar”

11 – 20 cavalos

A figura esguia de Del Guiducci faz lembrar Scott Weiland, e “20 Cavalos” traz a agressividade do Velvet Revolver, com direito a megafone e mais uma canção com cheiro de gasolina e pé na estrada. 

“Se o tempo é cinza
a liberdade é azul
Não importa se é dia ou noite,
Rumo ao norte, rumo ao sul”

12 – Sem juízo

Um maluco tenta convencer outra alma sem juízo a cruzar o país de carro. Metais, gaita e urros embalam a road song que tem mais uma linha de baixo inspiradíssima. Assim como em “Mundo Bar” (canção de 2005 obrigatória nos shows do Martiataka), a banda produziu mais um hit espontâneo.

A última frase do disco é uma pergunta: “Acabou?”
A resposta? O Martiataka está só começando. 

Eduardo Monsanto
27 de março de 2012


Martiataka - Marginal - 10 - Revanche

Martiataka

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