Sentado no caminho de escadas de pedras,
Risos e tirações nas várias conversas.
Papo de malandro, papo de gente boa, tipo fim de tarde.
Só maluco responsa, nem cola covarde.
Deste lado do morro o sol já não se vê.
Passa um morador e cumprimenta,
- Boa tarde!
E alguém responde:
- Boa tarde! Pra você.
Aqui parece que o mundo parou,
A paz vem soprando na brisa que balança o pé de pitanga.
O som mais alto do vizinho parece agradar os outros.
Todos ouvem o brega nordestino.
Porque aqui o Ceará é origem e destino.
Uns vieram jovens e outros ainda meninos.
Não troco isso por ouro ou mansão fora daqui.
Comento fotos de amigos que postaram a colheita de caqui.
Neste mesmo bairro, nesse meu lugar.
As vezes não sei se falo Tiro Naval ou se falo Monte Serrat.

Escadas de Pedras

Chuva, chuva, chuva

Musica de fundo: O passeio da Boa Vista (Legião Urbana).

Resto de fogueira,
Resto de comida,
Pedaços de madeira,
Lata de ervilha.
 
 
Pessoas que não são pessoas,
Esperam um olhar de milagre,
Sobrevivem aos dias a toa,
Sem sal, condimentos e vinagre.
 
 
Pare de besteira,
Pare de folia,
Faça uma feira,
Entregue a uma família.
 
 
Menos pobre assim ninguém fica,
Distribua duzias de abraços,
Sinta-se valiosa e rica,
Supere o seu maior cansaço.
 
 
Seja verdadeira,
Seja mais bonita,
Abra a geladeira,
Faça uma marmita.
 
 
Crianças moram na rua,
Sem cama, mochila ou escola,
Comem salsicha crua,
De sobremesa um saco de cola.
 
 
Primavera, verão e inverno,
Crack, maconha e cocaína,
Outono, cachaça e chinelo,
Policia, menino e menina.
 
 
Quem tem casa até se esconde,
Quando finda mais um dia,
E o mendigo não sabe onde,
Vai brotar sua moradia.
 
 
Sobe desce as biqueiras,
Tremendo cheiro de urina,
Quer palavras verdadeiras,
Uma luz quase divina.

Paisagem Logradouro

Moro na rua a pouco tempo,
Não acostumei dormir no relento,
Só durmo porque não agüento,
Perdi tudo, filhos e casamento,
Lar quentinho meu apartamento,
Essa vida já caiu no esquecimento.

Não ando, perambulo como zumbi,
Preciso tomar banho, e não sei onde aqui,
Fico ali próximo aos cortiços, no bairro da Vila Nova, 
Ali tem um bica, próximo a uma biqueira, 
Tenho medo de usar droga, 
Tenho medo de fazer besteira.

Até poucos dias atrás eu dormia bem,
Mas vivia mal, não prestava atenção  em quem,
Dava um braço pra não me ver assim,
Do jeito que estou a beira do fim.
Morto quase vivo, andando sem destino,
Nem sonho, isso ficou no tempo de menino.

Dependo das pessoas de bom coração,
Dependo mais do sim e menos do não,
Mas de moeda em moeda, sobrevivo,
Nos dias alívio, nas noites frustração.
Quem eu sou? e por que eu? pergunto.
Almoço? jantar? só pão com presunto.

Ao lavar os pés e o rosto nas águas da bica,
Decidi experimentar a tal, a maldita.
Droga furiosa, venenosa, a pedra, a brita.
A nave me tirou todas as expectativas, 
O crack numa outra realidade, outra vida.
Vida? morri naquele dia, naquela subida.

E noites já não foram suficientes, 
Eu já era no primeiro dia dependente,
Meu corpo inteiro ferido e dormente,
Chorava quando conversava com um crente,
Lembrei de Deus e pra Ele ninguém mente,
Lúcido eu era até inteligente e gente. 


Medo De Usar

Maldito Funk Ostentação

Mil Vidas em Monte Serrat

Atividade Sinistra

Tráfico trágico,
No oriente médio apenas lunático,
Ocidental capitalismo maquiavélico,
Errático, modo de vida submisso.
 
Menor infrator que carrega seu rádio comunicador,
Interfere na vida do morador,
Sem nada nas mãos e nada de amor.
Vem com papo de "desculpa então",
Lei do cão, quando há tanto corrupção,
Sem emprego meu pai não liga pra minha vida,
Quer mesmo é dinheiro e alimentação,
Quem garante lá em casa o pão sou eu,
Diz o menor que a infância já perdeu.
 
Trágico tráfego,
Nas influências da guerra miliciana,
Favelado vendido, alucinado se engana,
Errático, caminha vendado na prancha.
 
Gerente do movimento criado de pequeno,
No morro onde trabalha, vive no maior veneno,
Cospe maribondo, quando moribundo seu braço direito,
Vai pra vala numa troca de tiros alucinada, bala, muita bala.
Quem ouviu de longe ouviu, se safou com a casa intacta,
Ainda há corpos no chão, inocente ou não, a guerra nunca acaba.
Quem se importa? A revista que vende cada exemplar a dez reais,
Ou o jornal que num preço promocional ou a preço de banana,
Inflaciona o preço da droga no alpinismo funesto e oportunista,
A favela quer ter a voz, sem saber falar direito,
Do seu direito pouco se sabe, só "véve" melhor quem se endireita,
Não vai no caminho só, a venda do pó pra morrer na sarjeta.
 
 
Sem precisar ou não,
Meio sem explicação,
Dinheiro trazido na mão,
Deixado de baixo da palavra da salvação,
Mãe que agradece a benção,
Sabe qual é a maior decepção,
Na escola sem lição
Ou na esquina metendo o oitão.
Quero ter meus bagulho, meus baratos,
Entrar ainda menor num trampo da hora,
Quero incentivo de vida e melhora.
Progresso sem saber qual é a sequela,
Oportunidade igual pra toda gente,
Pra mim filho de pobre trabalhador,
Pro filho de pobre delinquente.
 

Tráfico Trágico Tráfego

Da demoníaca garoa és a terra que o concreto já cobriu,
Favela maravilhosa e bela, cartão postal do Brasil,
Do minhocão suspenso, vira atalho a um lugar qualquer,
Corcovado que não tem corcova nenhuma,
Pão de açúcar sem sabor de nada,
Paulista dos dias mais intensos, e no domingo parece pluma.
Parece abandonada.
Rodovias, helipontos, marginais acadêmicos,
Upp, biscate, HK espécie de um Rio endêmico.
Tanto aqui quanto lá quem ama ama, quem odeia odeia.
Desde o calçadão em Copacabana ou na Serra da Cantareira.
As areias da praia do Arpoador também tem latinhas de cerveja igual ao Guarujá,
Os hospitais 5 estrelas daqui morrem pessoas como em qualquer lugar.
Mar revolto sem caravelas, graças a Deus, ninguém mais para invadir.
Caveirão subindo o morro, em todas favelas, pelo menos um corpo vai cair.
Tantos carros nas avenidas, quantos odeiam as buzinas, motoqueiros no corredor, motociclista meu senhor!
Vem levando, vai trazendo ferramenta, armamento, simpatia e documento.
Mototaxi sobe a Rocinha, mil vielas, mil ladeiras, mil histórias verdadeiras.
Quantos morros aqui ou lá, quantos morros estão a reivindicar?
Saneamento, iluminação, policiamento, saúde e educação.
Quantos políticos aqui ou lá, sobem mil morros a ofertar, ofertam o que não podem cumprir.
Fazem choram de emoção quem não tem motivos pra sorrir.
Quero poesia, alegria nas flores do Jardins, igualmente periferia lucrativa e sem fins.
O Fim não justifica os meios, mas inteiro o corrupto permanece,
Quem de longe vê sabe que nada acontece,
Após uma longa prece um tiro num pino de pó, rosto adormece, vai meter o louco, roubar a brisa do outro.
Vira ladrão e no passeio turístico no camburão.
Vai boiar no Tietê ou fritar e ferver no microondas da Firestone,
Indigente numa cova comum, apenas numero sem nome.
Ponte aérea de mestiço, sai do Rio o funk carioca, MPB e bossa nova,
Sai de São Paulo a ostentação, jazz, e o heavy metal da moda.
Salada de fruta de gente, misturado o povo contente, discuti, desliga, disputa.
Desperta, está alerta pra todo tipo de luta.
Do futebol ao futevôlei, e o manguezal em destruição a troca de money.
Tem crescido em absurdo a quantidade de multinacional.
Tem morrido tudo que é peixe, caranguejo, tem patrocínio ao carnaval.
Do interior na cidadezinha tem aquele senhor que cria galinha,
Ouve a moda de viola e não fala frigideira, mas sabe o que é caçarola.
Gosta de cantar a beira da fogueira,
Visita de vez em quando a cidade e os parentes distantes,
Gente entojada, parecem arrogantes, se diverte com os casos e acha um barato.
Entende e reflete família as vezes só é bom em porta retrato.
Viadutos, passarelas, metrô e trem ajuda a chegar ou partir.
É tanta gente que vai e tantas outras que vem.
O povo que devia ser santo, tipo mártir.

Fugir do fim de semana cinza, parar pela estrada e escapar da chuva,
Seguir ao litoral fluminense , bem vindo a rodovia Dutra.
Há quem foge das praias cariocas, sem tanto pretexto ou pretensão,
Nem muito por zelo ou opção, por questões de trabalho,
Não muito emoção e mais pela razão.
São Paulo é capital do capital, 
Porém pelo Rio vale seguir do Leme ao Pontal.
Pelas estradas vem e vão homens de bem e são...
São ferozes no transito, são covardes e vão fechando,
São tristes em carros e levam pânico, são mágicos e dinâmicos.
São mais do que mais, são empresários e mecânicos.
Venham de chinelo ou sapato italiano, 
Venham de sentimento aberto, sentimento praiano.
Sintam, sintam o coração pulsando.
Sejam todos bem vindos, Welcome.


Medes

Popular tracks