Simplício, o Negro

Deixa a tapera denovo
E segue campeando ervas
É bom sempre ter reservas
Porque nada é desperdício
Pra está gente é municio
Que resolve de verdade
Que faz bem, barbaridade
Ia pensando Simplicio

Velho negro curador
Conhecido na campanha
Que tinha fama tamanha
Entendido no assunto
E levava sempre junto
Pra o caso de emergência
Um tal cidró, resistência
Só não curava defunto

Contava que era escravo
E ganhou a libertada
E foi por curiosidade 
Que aprendeu tal medicina
Atribui à mão divina
Também seu conhecimento
Demonstrando seu talento
Na região campesina



Sempre estava ocupado
Em suas lides de cura
Todos iram a procura
Do negro e na mesma oulada
Tomavam uma golada
De uma esquisita mistura
Dizia Simplício esta cura
Tem nome de chapoerada

E na chopoerasda usava
Boldo e a corticeira
Carquejinha e pitangueira
Cura tombo e cambará
Baicuru, caraguatá
Losna pra dor de barriga
Puejo, guaco , urtiga 
E raíz de combatá

Muitas vezes acrescentava
Fel da terra e abacateiro
Contra erva e sabugueiro
Juntando tudo fervia
De vez em quando mexia
Pra ver se estava no ponto
Finalmente quando pronto
A clientela atendia





Tinha cuera quase morto
Que a saúde era um estrago
Curou-se tomando um trago
Sem fazer uso diário
Um deles foi o Olegário
Já quase desenganado
Simplício lá também era chamado
De doutor veterinário

Chamavam o negro na estância
Porá atender animais
Que já nem podiam mais
Parar de pé, da fraqueza
Com habilidade e certeza
O tratamento aplicava
E dessa forma curava
Através da natureza

E assim era Simplício
Negro por demais buenacho
Chapéu preto, barbicacho
E sempre de pés no chão
Campeando pelo rincão
De bombacha esfarrapada
E a camisa remendada
Simboliza a tradição

Simplício, o Negro

Seiva nativa

Eu sorvo aqui nesse pago
Néctar de pura essência
A xucra reminiscência
Que deuses aqui plantaram
Quando formaram está terra
Totalmente primitiva
E esta seiva nativa
Num ritual batizaram

E assim nos foi legada
Esta bendita herança
E empunhando a mesma lança
E usando a mesma marca
De nossos antepassados
Conservando a indumentária
E a ciência milenária
Registrada numa tarca

Seiva nativa que sorvo
Nos longos tragos de mate
Medicina que combate
Se preparando a infusão
Com suas folhas dentadas
Cura de estômago as dores
E pra ingratidão de amores
O ideal é chimarrão

Seiva nativa é o próprio
Milenário umbuzeiro
Que o taura galponeiro
De costumes avoengos
Conhece o seu valor imenso
Por ser assim emponchado
É o galpão improvisado
Do vaqueano andarengo
Sempre nos encontraremos
Neste rancho novamente
Inesgotável vertente
De tradição que incentiva
A cultura galponeira
Com clareza sem igual
E que também por sinal
É a pura seiva nativa

Seiva Nativa

Abre a porteira, Rio Grande

Abre a porteira, Rio Grande
Está de volta o teu filho
Que um dia se fez caudilho
Vivendo longe do pago
Sem carinho e sem afago
Pelegueando por suporte
O atavismo de um guasca
Desafiando a borrasca
Brincando com a própria morte.

Era ainda piazito
Quando tudo aconteceu
Longe do pago cresceu
Fazendo pátria nos tentos
De recuerdos pensamentos
Pautados na tradição
Marte amargo, chimarrão
Do gaúcho é a disciplina
Pilchas, cavalo e china
Nasceu com esta vocação.









É assim quis o destino
Que fosse ele um gaudério
Desbravador de hemisfério
Campeador e vaqueano
Índio de raça e tutano
Um taura por excelência
Longe de sua querência
Mas com ela na memória
Falquejou a sua história
Com faconaços de ausência.

E bebendo água de sanga
Em folhas de caetés
Repontando jaguapés
Em lides que se distrai
De lança em punho ele vai
De encontro da peleia
Tirador laço e maneia
Pra usar na emergência
Quando a coisa fica feia

Quando é noite ele faz pouso
Debaixo de uma carreta
E a lua, china sotreta
Entre nuvens num agouro
Ao longe o berrar de um touro
Lembra a querência distante
E antes que o galo cante
Já bate os tições do fogo
O sono perdeu o jogo
Pedindo que ele levante

Mateia solito, o xiru
E a madrugada se amedronta
Vendo a barra que desponta
Do dia que já vem vindo
O sol num clarão surgindo
Galopeando no universo
Pelo varzedo disperso
Rebanhos em atropelos
Tropilhas em sinuelos
Que fazem caminho inverso.

E nesta vida aragana
Changuendo ou nas torderias
Na cintura as três Marias
É a arma que nunca falha
No bochincho, na batalha
Na claridade ou no escuro
Tira o cuera do apuro
Tanbien aca uso nosotros
Na lide de pegar potros
Faz bolcar um queixo duro.









Esteve muito distante
Pras bandas do iguairá
Além, aquém, acolá
Mas já estava decidido
Voltar ao solo querido
Ao rincão onde nasceu
Afinal, nunca esqueceu
Que é um filho do pampa
Onde a tradição que acampa
Sempre ali permaneceu.

E agora está de volta 
Para terra que tanto ama
Com reverência proclama 
Que até o seu chão sagrado 
Berço de taura aporreado
E nestes pedidos seus 
Súplica ao santo Deus 
Que o seu Rio Grande do Sul 
Tenha sempre o céu azul 
Porque somos filhos teus










Como é belo este lugar
Diz ele de si pra si
No catar do bem-te-vi
Na construção do barreiro
Nos planadores campeiros
O amor se manifesta
No alecrim, na giesta
No arroio preguiçoso
Nas lendas do boi barroso
Na china meiga e modesta

Se encosta no velho umbu
E contempla um arrebol fogaréu
Nas cordilheiras do céu
Descamba o sol flamejante
Parece que se incendeia
E forjando uma peleia
Nuvens guascas qual tambeiro
No estremo a lua cheia.

Como se fossem suspiros
Do dia que vai finalizando
Patos selvagens voando
Na direção do poente
Em silencio reverente
O taita faz uma prece
O pago todo esmaece
Num ritual legendário
Estandarte caudatário
Que a própria história enobrece.

Pampa, pago e querência
Nunca mais te deixarei
Pra ficar foi que voltei
Venho de la das lonjuras
De volta a tuas planuras
Que proporciona aconchego
Apresilhado é o apego
Que tenho por ti meu chão
Glorioso valentão
Com ressolona e pelego

Estou de volta, Rio Grande
Com a alma renovada
Solto em tua invernada
Igual potrilho aos pinotes
Xô égua, marcha e trote
Entauro se imagina
Vai sorvendo a sã doutrina
Apojo da liberdade
Essência, fraternidade
Meu Rio Grande baluarte disciplina.

Abre as Porteiras, Rio Grande

As engrenagens do pago

No horizonte o crepúsculo
De um novo dia começa
E o lusco fusco atravessa
O sol, disco maiúsculo
O guasca exercita os músculos
Pra combater a friagem
Vai contemplando as pastagens
Em quanto boleia o laço
Com destreza, sem embaraço
Pois do pago é uma engrenagem

E assim desperta o Rio Grande
Nos quatro cantos é igual
Terra firme, pajonal
Da cultura Ele é o estante
Fronteira que se expande
Orgulhando nossa gente
O gaúcho é combatente
E fez sua própria historia
Consolidando vitorias
No garrão do continente

Pra constatar esses fatos
Do pampa me fiz andante
Um centaura viajante
E fui colhendo relatos
Num vaguear em contatos
Com invernadas e estâncias
Experimentando fragrâncias
De rincões e em devaneios
Observo o pastoreio
Nas planuras das distâncias

A boicininga enrodilhada
Num tronco de guajuvira
Faz voar o batuíra
Que estava na ramada
A cochilha azulada
Nesta época de estação
Nos faz lembrar que é verão
E pra fugir do relento
Animais em movimento
Buscam a sombra de um capão

Por um momento me envolvo
Vendo um cusco em desatino
Perrengue, meio brasino
Acoando em sobra de corvo
Entretidamente sorvo
Todas as cenas campeiras
Enquanto surge a boieira
Com o seu brilho no infinito
E prossigo, a despacito
Minha ronda galponeira

E sem apertar estrada
Noite a dentro me boleio
Feito charrua campeiro
Repontando a madrugada
Passo chircal e aguada
Com imensas cabeceiras
E são por mim tais barreiras
Superadas com firmeza
Avisto tochas acesas
E em cortejos defunteiras

Quando afinal amanhece
Vão cessando os pirilampos
Sobre o orvalho dos campos
E num ritual feito prece
Todo gaúcho agradece
Olhando firme pro céu
Sobre o peito segura o chapéu
E ao Patrão superior
Faz seu pedido com amor
Pra que não vague a lo léu

Começa tudo denovo
Gado, ave, que alvoroço
E embaixo de um tronco grosso
A garnisé pôs um ovo
Grita alguém dentre o povo
Pelo alarde é o primeiro
Um pilungo aguateiro
Pelo terreiro dispara
E um piazito é quem separa
Da vaca mocha um terneiro

Um outro diz, faço changa
Cada qual tem seu trabalho
A china por um atalho
Vai buscar água na sanga
Uma indiada se arremanga
Para arrancar peludo
Assim vou fazendo estudo
Desse torrão missioneiro
A bravura do campeiro
Inigualável escudo

Pampa xucra, essa glória
Com fogo está gravada
Desde eras passadas
Construiu a sua história
Imortalizada na memoria
Do caldilho, índio vago
Chama ancestral e afago
Reminiscência e brasão
Esta xucra tradição
É a engrenagem do pago.

As Engrenagens do Pago

Estampa de liberdade

Velha Querência Gaúcha 
que me aquece e me afaga 
cavalo Poncho e Adaga 
Coxilha Pampas e Rincão 
chapéu Mago e chimarrão 
e os preceitos de um gaúcho 
É honrar a tradição

Por isso levo as bandeiras 
Neste guapo território 
como fez Sepé e Osório 
legisladores a Parte 
orquestrando a mesma arte 
Com sintonia afins 
Trabuco lança e Clarins 
forjando nosso estandarte

Foi nas manhãs avoengas 
entre nuvens de fumaça 
que surgiu a nobre raça 
neste pago que é Vivenda 
do Caudilho que se faz lenda 
abrindo rumos picadas 
repontando madrugadas 
nas Brumas abrindo Sendas




Bendito Solo Tu és 
estampa de liberdade 
de paz de fraternidade 
em tudo te considero 
Chão Nativo quero quero 
continentino abrigo 
e reverente eu te digo 
sou um gaúcho sincero

É coisa linda de ver 
na tua verde Planura 
a majestosa figura 
do camperaço a cavalo 
que com Armadas e pealos 
bem na Linha do Horizonte 
traz o dia num repente 
no Cantar firme de um galo

Nos teus Campos correm livres 
manada xucras tropilhas 
saboreando flexilhas 
que produz a terra Buena 
a alma Pampas serene 
num silêncio matinal 
e a liturgia ancestral 
e o repicar da chilena





Templo Sagrado e bivaque 
do índio e do Jesuíta 
da saga cosmopolita 
dos andantes de primeiro 
do Imigrante Pioneiro 
que soubestes acolher 
em teu chão se fez nascer 
o atavismo galponeiro

E quanta beleza xucra 
compõe tua geografia 
tão perfeita é assimetria 
de Arroios sancas e rios 
da natureza avios 
que eu pago se incorporou 
E o xiru Guapó domou 
teus Campos e cerros bravias

Foi o charrua e 
o minuano o minuano e o charrua 
que sob o olhar da Lua 
nasceram juntos contigo 
que sem temor ao perigo 
na Querência foram brechas 
com lanças tacape e flecha 
combateram o inimigo





Nos heróis que tu forjou 
ensinastes a disciplina 
A lição continentina 
De zelar os teus valores 
poetas e pajadores 
governantes e Tribunos 
de ti todos são alunos 
mesmo sendo professores

Solo Pampa de invernadas 
e do aqguerrido vaqueano 
índio mestiço aragano 
campeador por excelência 
fiador de competência 
com alma de liberdade 
tem apego e lealdade 
aos teus costumes Querência

Nas tuas distâncias e galpões 
tem Fandangos e quermesse 
indumentária que aquece 
a tradição deste pago 
pilchas que traduz afago 
nos momentos de tristeza 
palco xucro de nobreza 
que nos acolhe sem embargo





No sorriso da chinoca 
o pago dá as boas-vindas
morenas mestiças lindas 
que toda a beleza encerra 
no hay brasino que berra 
se fez monarca chão puro
E amansando queixo duro 
fez que a paz vencesse a guerra.

Estampa de Liberdade

Flor do pago

Morena nem imaginas
O que eu sinto por ti
Desde o dia que te vi
Vou tentando em meus apelos
Te apartar do sinuelo
Pra te levar de carona
Chinoquita temporona
Ao vento vão seus cabelos.

Se me permitir eu vou
Te fazer muito feliz
É tudo que eu sempre quis
Por ti eu paro rodeio
De pulso firme, peleio
Pois tu és mulher lindaça
Ameríndia nobre raça
Da cor da cuia é o teu seio.

Gaúcha te peço, venha
Faz tempo estou te querendo
Venha depressa, correndo
Para o calor dos meus braços
E sentir os teus abraços
E também te ouvir dizer
Que só eu seite querer
Que sou a luz dos teus passos.



Tu és a chinoca linda
Que preciso ao meu lado
Tu és a rosa do prado
Que decidi conquistar
Para o rancho vou te levar
Mesmo que aja combate
Junto tomaremos o mate
Quando comigo morar.

E te darei meus carinhos
Beberei na tua fonte
Depois me diga, me conte
Bem baixinho ao meu ouvido
Que sou teu amor querido
Pois tu sabes que te amo
Teu nome no pampa eu chamo
Por ti estou decidido.

Se no olhar dos meus olhos
O meu pensamento lerdes
Verás com seus olhos verdes
Com clareza e disciplina
Que penso em ti campesina
Pois me atiça e me assanha
Com teus retovos de china.






Em meu catre provarei
Que o meu amor é sincero
Amada prenda te quero
E outra não mentirosa
Diz que me ama confessa
Chinoquinha encantadora
Musa, deusa sedutora
Vem para os meus braços depressa.

Gauchita já te vejo
Pelas manhãs no galpão
Preparando o chimarrão
Com água pura de sanga
E tem sabor de pitanga
Os beijos dos lábios teus
Sem teu amor os dias meus
Sãomais pesados que a canga.

Chinoca quando tu passas
Gingando tua cintura
Quase me leva a loucura
Teus quadris que vai e vem
Eo meu olhar vai também
Sempre te acompanhando
E assim fico admirando
Toda a beleza que tem.





Um raio de sol atrevido
Nestas manhãs latejantes
Em prismas insinuantes
Parece até que palpita
Em tua veste bonita
Revelando transparente
Os teus vales e vertentes
Em tua saia de chita.

Muitas veze me deparo
No pingaço em forquilhada
Com o chapéu tapeado
Macambuzio até parece que vejo
A china que mais desejo
Que és tu morena flor
Preciso de teu amor
E o doce mel do teu beijo.

Tu tens o sangue gaúcho
Do charrua e do minuano
E do ancestral vaqueano
Herdastes a fibra e a destreza
Como as primeiras donzelas
Deste pago sentinela
Que te realça a beleza.






O meu rancho te espera
Chinoca, todo enfeitado
Tudo tenho preparado
Preciso do teu afago
Senão me perco, me estrago
Num gauderiar sem rumo
Porque eu não me acostumo
Longe de ti, flor do pago.

Flor do Pago

Luz Cinzenta

Nas Rédeas do Pensamento

Ao te contemplar meu pai
Tristonho e acabrunhado
No banco que está sentado
Sinto uma dor em teu peito
Analiso os meus conceitos
E ao teu ver assim velhinho
Muitas vezes tão sozinho
Pelas manhãs e a tardinha
Eu percebo que a culpa é minha
Pois precisas de carinho.

Tu foste um homem forte
E por sinal destemido
Agora quase vencido
As forças te abandonaram
Nas suas lições ficaram
Já mais deu chance a fracassos
Hoje cansaram seus braços
Em sua exemplar trajetória
Coroando de vitória
Na firmeza dos teus passos.







Longe vai teu pensamento
De volta aos tempos de infância
E já não existe distância
Entre o passado e o presente
Por momentos fica ausente
Deste fardo que é o futuro
Segue a galope seguro
Nas rédeas da imaginação
Vai meu pai que a mente é chão
Sem alambrado e sem muro.

Cavalga meu pai, teu flete
Nos tentos do pensamento
De crinas soltas ao vento
Sem buçal e sem maneia
Nas recordações tenteia
Um naco de esperança
De outra vez ser criança
No rincão onde nasceu
Pois foi ali que sorveu
A disciplina, o respeito e a confiança.










Veja meu pai seus amigos
Que a tanto tempo não via
Conheça tua Maria
Minha mãe e que venero
Fale com Tibúrcio e Antero
De carreadas, fandangos
De danças, bugios e tangos
De guitarras, gaita e violão
Cavalos, adaga e facão
E de guascaços de mangos.

Continue neste êxtase
Pois isto te revigora
Galopando campo afora
Na imensidão da saudade
Xomisco barbaridade
Outra vez se faz falheiro
Um galo rei do terreiro
Calçando esporas de prata
És assim que tu retratas
O gauchismo campeiro.

Num tropel de bate cascos
Tu imaginas tropilha
De pensamento, memoria
Segue revivendo a história
Que construiu peleando
Bravamente e despertando
Com as manhãs galponeiras
Apascentando tambeiras
Domando potro e castrando.

Quisera eu não te despertar
Desta viagem mental
Deste turbilhão manancial
Das alegrias vividas
Que nunca foram esquecidas
Por ti meu pai, meu amigo
Meu escudo, meu abrigo
Jamais esqueço de ti
Por isso é que estou aqui
Neste momento contigo.

Mas a vida é um segmento
De êxtases bons e ruins
Ela é toque dos clarins
Para o despertar da existência
E néctar em efervescência
E constante ebulição
Traduzindo, é a perfeição
Da obra que abraçaste
Que do eu avô legaste
Sou meu pai, a continuação.

Nas Redias do Pensamento

Poncho Esquecido

Quem será que foi teu dono
Velho poncho esfarrapado
Na parede pendurado
E a tanto tempo esquecido
Pelos anos esquecido
Relíquia feita de lã
Coberta de picumã
Ficaste enegrecido.

Te olhando bem de perto
Se constata a harmonia
A arte e a geometria
Com que foi confeccionado
Pois trazes entabulado
Desenhos na tua estampa
Do mais remoto passado.

Realmente é mistério
A quem foi que pertenceste
O certo é que aqueceste
Guapo ou moula não se sabe
Talvez antes que o rancho desabe
E que tu sejas corroído pelas traças
Alguém te guarde e de ti faça
Um troféu, antes que acabe.



Imagina que nas noites
Do inverno sempre tirano
Nos açoites do minuano
Emprestastes o teu calor
Já tiveste o teu valor
Aquecendo namorados
Cambichos apaixonados
Sendo refugio e ninho de amor.

Foram mãos habilidosas
Que teciam com encanto
E agora no campo santo
Nas mansões celestiais
Fazem ponchos angelicais
Ao patrão da grande estância
Chinocas exuberâncias.

Nas rondas das noites antigas
Foste a cama, foste o teto
O aconchego discreto
Do gaúcho primitivo
Desde a ele o incentivo
Pra enfrentar madrugada
Foi proteção nas geadas
Conforto e lenitivo.






Fostes nas revoluções
Nas refregas barbarescas
E nas peleias mais grotescas
Escudo, bandeira de abre alas
E estes furos de balas
Testemunham o que eu digo
Foi baluarte e abrigo
Com os heróis tu te igualas.

Neste rancho quase tapera
Já retorcido e escroncho
Eu encontrei este poncho
E assim fui analisando
Sua história eu fui rastreando
Escaramuças, pendengas
Clarinadas avoengas
Em tua estampa brotando.

Igual a ti, velho traste
A tantos seres humanos
Que depois de tantos anos
De luta e dedicação
Não tem direito ao pão
Nosso de cada dia
E já não tem serventia
Pra essa tal sociedade
Poncho tu és na verdade
Reflexão, liturgia.

Poncho Esquecido

Querencia

Sacristia de Guapos

Desde os primórdios dos tempos
Esta terra fez história
Estampa, legenda e glória
Bem antes dos invasores
Com seus povos coletores
Muito antes de Sollís
Nos tempos dos sambaquis
E os baluartes primores.

Eram tempos de começo
De inscrições em caverna
Da noite grande quase eterna
Principiou-se o debuxo
Que na culatra e sem luxo
Atravessou o oceano
Galopeando o meridiano
Para forjar-se gaúcho

E foi depois que emergiu
Da Baia dos perdidos
Dos pavilhões destruídos
Entre o velame tão roto
A saga de São Caboto
De um guasca ouvi os relatos
E ali no porto dos patos
Aportou brito Peixoto

E nos caminhos de tropas
Foi ele sempre um destaque
Um imponente bivaque
Nos campos em cima da serra
Uma klegenda que encerra
As fibras de um campechano
Destemido vaqueano
Que se forjou nesta terra

E na lendária laguna
Entre coplas de Vivaldi
Veio Anita Garibaldi
Reforçar este heroísmo
Num legado de civismo
Ele guerrilhou guapo
Ela musa dos farrapos
Tendo o mesmo idealismo

E a mulher catarinense
Parecem deusas de atenas
Ruivas, negras e morenas
É a mistura em proporção
E as louras, que sedução
Lindas, assim no mais
E quem me seva o chimarrão
É a rainha dos ervais

Tu és berço de valentes
Que a peleia bruta enfrentaram
Que o sangue derramaram
Neste solo que é sagrado
Parece que ouço o brado
Por entre as serranias
Do monge João Maria
Profeta do contestado


Neste momento litúrgico
Num silêncio que estremece
Finalizo esta prece
Do fundo do tacho eu rapo
Um chasque bueno a esta terra
Que toda grandeza encerra
No velho estilo farrapo

Sacristia De Guapos

Eu, Raimundo Silveira da Luz, escritor, poeta, letrista e compositor, busco através. destas linhas que escrevo um apoio financeiro para custear a produção da gravação em mídia digital contendo poesias nativista, sob o título de nativas que em suas rimas buscam exprimir de maneira diferenciada o linguajar pitoresco do homem campeiro que habita a querência continentina.
Vejo desta forma um meio de propagar a chama cultural que  nos vergaram nossos antepassados, para que não se perca jamais  essa herança de valor incalculável, força motriz que impulsiona um povo rumo ao futuro sem perder suas origens levando a outras plagas o estandarte apoteótico do tradicionalismo; Em forma de agradecimento escrevo uma poesia que fale sobre a empresa patrocinadora do projeto cultural.

Nativas

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