Tenho um primo que era cego (draft)

Perguntei eu à Maria
Quanto espaço ainda havia,
Só para ver se eu lá cabia ou estava a mais.

Ela disse: "'Tá vazia!
Foi de um gajo que eu queria,
Mas só me deu simpatia das brutais."

Preparei-me p'rá façanha,
Arrisquei um pouco em Espanha
E a coisa, embora estranha, começou.

Já no Porto usei da manha
E o amor que era montanha,
Com mais lume, O2 e lenha, incendiou.

Ponte
Mas há tipos que é só vê-los
A espalharem confusão.
Convencidos que são belos,
Não aceitam rejeição.
Habilitam-se em duelos
Sem mostrar preparação.
São galitos de Barcelos.
Não merecem compaixão. (3x)

Refrão
Cala lá o galo, Maria,
Que ele canta bem.
Eu quero vê-lo assado ao meio-dia
E trinchado também.
É o fim do coco coco ro...

Cala lá o galo, Maria,
Que ele canta bem.
Tu já tens quem te acorde de dia
P'ra quê outro alguém?
É o fim do coco coco ro...

Zé de Barcelos (draft)

É nos actos mais mundanos que o bom Pai me ensina. 
Conhecidos três insanos, larguei a batina,
E atracado aos desenganos, lancei-me na minha doutrina.

Quis no corpo da Francisca ver procriação.
O amor focou-me a vista num’ outra missão,
E eu tornei-me evangelista – um provedor da geração.

Ponte
Se a par com a menina vem a pena do dano,
Eu deixo a fé que me inclina a querer ser mais profano. 
A menos divina,
Ambígua morfina de um tirano.

Refrão
Eu uso o forno da Francisca para a multiplicação, 
Gabo-lhe os dotes de artista e faço pão (pão, pão). (2x)

Não quis eu a sordidez de quem gaba a cinta,
Mas desata a tirar três e só pára em trinta, 
Atacando a frigidez do pobre que a bramir consinta.

Pois se a tola da Francisca quer procriação,
Queira Deus que eu não resista a deitar-lhe a mão,
Que o amor navega à vista e ao largo de qualquer prisão.

Ponte
Se a fé é sucinta para a minha avidez,
Eu dou-lhe duas de tinta, decapante talvez. 
E numa distinta,
Vem ela faminta outra vez.

Refrão


Milagre Da Multiplicação (demo)

Parte 1
Do nada à fossa escura,
Passou cavalgadura,
Causando excitação.

A vida ficou dura
De tão pobre ternura
No parco coração.


No meio da folia,
Rumando em romaria,
Num autocarro, em pé.

Sorrindo, ela dizia:
“Eu sou a Ana Lea.
E o teu nome, qual é?”


Ponte 1
Para teres o paraíso
Na palma da mão,
Só faltou o que é preciso
Numa relação.


Refrão
(Hoje eu) diria
Que o passado deu-me uma alegria.
Ter-te a meu lado era tudo o que eu não queria.
Arrisco até

Dizer que um dia,
Enquadrados na fotografia,
Tu farias bem de vaca da Maria
E eu de burro do José.

Parte 2
Ainda te lembras que era Maio e que chovia?
Cantava a Rita, que era uma irritação...

Ainda te lembras dos meus olhos de agonia,
Porque não tinha dons de adivinhação?

Ainda te lembras como o meu corpo tremia,
Com a vagina na imaginação?

Ainda te lembras de uma boca que se abria,
Num improviso sem sincronização?


Ainda te lembras que era Maio e que chovia,
Num improviso sem sincronização?

Ainda te lembras dos meus olhos de agonia,
Com a vagina na imaginação?

Ainda te lembras como o meu corpo tremia,
Porque não tinha dons de adivinhação?

Ainda te lembras de uma boca que se abria?
Cantava a Rita, que era uma irritação...


Ponte 2
Tanta falta de juízo!
Tanta ralação!
Não te abria o Paraíso
Nem que fosse Adão.

Refrão

Fotografia (draft)

Parte 1
Queres fazer de conta
Que a maior afronta
Que o amor apronta
É medida a metro.

Deixa que te conte:
P’ra passar a ponte,
Tenho um bolso mais p’ró retro.

Quem sabe na síria
De qualquer lezíria
Eu domine a gíria
E me compenetre.

A guerra está morta.
Fechada esta porta,
Vai-se abrir uma fenêtre.

Refrão 1
Partir em voyage
Com pouca bagage
E atterissage
Na cidade que é très chaud.

Sair aujourd’hui
Voar à Paris,
Descer em Orly,
E abancar num bom bistrot.

Parte 2
Há-de vir o dia
Em que por magia
Eu me torne guia
E então impetre.

Mas p’ra já não mudo.
Tu p’ra partir tudo
Vais levar-me à Boite aux Lettres.

Refrão 2
Ver a Tour Eiffel,
Ouvir Jacques Brel,
Sorrir à Michelle,
Ler nos quadros do Rosseau.

Já nos bateaux mouches,
Pedir que me touches,
Beijar sur la bouche
E brincar ao Jacques Cousteau.




Refrão 3
Espreitar Saint-Vincent,
Ir ao Deux Moulins,
Sonhar com a Poulain,
E falar do Jean Reno.

Passar na Opéra,
Foder um chinois,
Chatear-me avec toi,
P’ra fazer de tudo un peu.

Parte 3
Queres fazer de conta
Que a maior afronta
Que o amor apronta
É medida a mètre.

A guerra está morta.
Fechada esta porta,
Vai-se abrir uma fenêtre...

O Engomadinho