Obra musical produzida por Fernando Santos (Pandarus Música Brasileira), com canções e poemas de Hugo Vaz Correia e Lucas Adorno. Gravado entre 31 de outubro de 2012 e 02 de julho de 2013. Participação de Rodrigo Sobreira (violões e guitarra), Rogério Sobreira (piano, teclados, contrabaixo), Fellipe Roso (bateria), Reinaldo Soares (trompete), George Landim (gaita), Danilo Rosolem e Thiago Verano (percussão e sucata). Ilustrações por Roberto Castro.

Navio Clandestino/O Mensajero

Eu os vejo, seres vaporosos, comporem a débil platéia em seus trajes chiques – pavorosos! povoando meu sóbrio delírio, quando a fada na boca de um lírio denuncia a risível pantéia de deuses inescrupulosos nas páginas de uma revista – caras e bocas de bichos famosos.


Caras & Bocas

- música: hugo vaz
- poema: michel edere

eu escrevo trens, trens que são coisas, coisas que sentem e não têm trilhos. são trens porque não possuem nomes, mesmo dando o nome de trem para cada um, seja o gênero que for - não sinto nomes, sinto acelerado fumaçando; um apito e indo. esses trens surgem da ausência e vão preenchendo as estações: cada uma que passa é um sonho que eu perco - e os meus são imensuráveis. são assim porque neles há o melhor de mim. tudo o que vejo, a passagem entre cada cidade, são trens mais livres: dentro há trilhos velhos e
trens parados, por isso todo mundo quer ir embora. a própria cidade é um trem cheio de coisas com pessoas que sentem. as que não têm trilhos vão e
as que tem...vazio. 

/ andré pettersen: contrabaixo e percussão corporal 
/ danilo rosolem: percussão 
/ hugo vaz: percussão corporal, violão aço e voz 
/ lucas adorno: voz
 / pedro bernardi: guitarra

Guilda dos Burros

Uns Trens

- música: andré pettersen, danilo rosolem, hugo vaz, lucas adorno, pedro bernardi, thiago verano
- poema: hugo vaz e lucas adorno

tomei a sopa de sapos venenosos e fumei cachimbo de saci-pererê. roubei a velha carapuça de um sapo tomando tererê, cachimbando na avenida - avenida bagaceira do diabo velho...avenida do diabo velho; pintando telas com paletas venenosas, usando como meu pincel a vellha oral b
esbagaçada, esfrangalhada, esbugalhada...liqueflotando nos barulhos da cidade, quantificando os carbonos da fumaça - tomei a sopa de sapos venenosos. 

corre cotia, de noite, de dia, debaixo da cama da sua tia. anaxibôbalo/anaxidédalo. gerânios e gerônimos.

/ andré pettersen: contrabaixo 
/ danilo rosolem: percussão 
/ hugo vaz: violão aço e voz 
/ lucas adorno: voz
/ pedro bernardi: guitarra

Sapos Venenosos

- música: andré pettersen, danilo rosolem, hugo vaz, lucas adorno, pedro bernardi, thiago verano
- poema: hugo vaz

quantos santos cegos, surdos, mudos, belos, burros esculpidos na fachada desta catedral! tantos deles em seus nichos frios, vão esguios nas paredes, cada um por sobre um pedestal; de chinelos em seus mantos longos, cetros opulentos, cabelos tonsurados e raramente um que outro ostentando a mitra episcopal. e quem diria, pois, que a serventia de toda essa santidade não seria
a salvação da humanidade, mas sim abrigo incólume para o vasto império das cloacas, que por sobre testas, cocorutos e orelhas santas despretensiosamente aterrisam para defecar.

/ andré pettersen: contrabaixo, programação, violões aço e náilon 
/ danilo rosolem: percussão
/ hugo vaz: violão náilon e voz 
/ lucas adorno: voz 
/ pedro bernardi: guitarra

Santos

- música: andré pettersen, hugo vaz, igor vaz
- poema: max martins (Belém, PA - 1926-2009)

Agora eu vou ao mar - 
Ao Grande Banho dizia eu nos crepitosos dias da juventude  quando per verso o mar com sua folia de refolhos doidivino  vinha  à minha porta
Vinha e ficava cavando-me os olhos com seu brilho lábia e vinhos e levantando as asas exibia o sexo: sua frase envidraçada a dolorida espuma  escandecendo as grades do segredo
Do degredo Desta fala 
E o mar pavoneando-se amargo-mágico adivinhava a página Que ele lambia e bafejava  de sonho e de arrepios
Que ele escrevia aos lances 
Que ele cobria
Depois o mar se nauseou 
E esvaziou-me de sua máscara de heresia
Da maresia ...e escriturei um rio
O rio que ele esqueceu atrás da porta e era o meu nome  o último  e se perdeu 
Por fim restou-me um rastro áspero na pele
E para sempre a terra neste vaso: vasa (do mar)
Que navegar  vogar negou-me a língua morta à minha porta

/ andré pettersen: água, contrabaixo, guitarra e violão náilon 
/ hugo vaz: água, garrafas, violão aço e voz 
/ igor vaz: percussão

Para Sempre a Terra

- música: andré pettersen, danilo rosolem, hugo vaz, lucas adorno, pedro bernardi, thiago verano
- poema: hugo vaz

"avenida castello branco, 5 de julho de 2012, 1:08 da manhã."

levantei a tampa, mijei sentado. desatei um nó de cabrobó. segui o rastro da caçamba babando seu chorume nos asfalto: o chorume é assim, um caldinho de lixo. perdi a atenção seguindo o rastro de chorume no chão. passei por um radar rápido o bastante para me fotografar: o chorume é assim, direto da família pro lixo. 

/ andré pettersen: contrabaixo e guitarra 
/ danilo rosolem: percussão 
/ hugo vaz: violão náilon e voz 
/ lucas adorno: voz
/ pedro bernardi: guitarra

O Rastro da Caçamba

- música: andré pettersen, hugo vaz
- poema: hugo vaz

o homem da mandíbula torta esconde seus mamilos vesgos sob seu pijama, marcha a passos divergentes e canta fácil por achar que isso é simples como respirar.

/ andré pettersen: contrabaixo, palmas, percussão, violão náilon e voz 
/ hugo vaz: violão aço e voz

O Homem da Mandíbula Torta

- música e poema: hugo vaz

eu sou um homem cujo cheiro do pescoço é capim de cheiro e mato seco. com hálito de chuva e beterraba eu canto a terra avermelhada do cerrado no solfejo de um calango seco; em tardes de preguiça e rodas d'água eu canto o santo penitente do pau oco no telhado lá detrás do beco. eu sou um homem cujo peso do remorso eu trago embaixo do cabelo. tenho nessa máscara de
finos traços mais do que verdades verdadeiras, são imagens do meu erro; guardo as mentiras em garrafas, são meus náufragos afetos reescritos sobre o meu amor palimpsesto. eu sou um homem cujo queixo morde feito cabeçuda quando ferra num graveto, ou cachorro magro de costela funda quando tem na boca osso mole de galinha temperado com sujeira. eu tenho o hábito cafona de espetar no calendário aqueles dias que me foram alfinetes, ou dias aqueles, temporâneos, em que a alma se faz um piano.

/ hugo vaz: contrabaixo, guitarra, percussão e efeitos, violão náilon e voz

Hoje Faz um Piano

"Guilda dos Burros"
- música: andré pettersen, danilo rosolem, hugo vaz, lucas adorno, pedro bernardi, thiago verano
- poema: hugo vaz

queixam-se de tão cansados: vítimas de um tédio necessário em troca de um salário, mas porque se quis. gentes de opinião formada, uma elite educada...educada, muito bem, e tudo por quem? me diz. vejo que o bom da madrugada - o silêncio e a geada - é pra quem não quer dormir, ou pra quem está entre o sono e a vigília: um violão que se dedilha sob o sol de giz. infiltrei-me na guilda dos burros, onde só se faz o certo e fala-se a verdade custe o que custar; e rompi com a velha xaropada, a multidão atarefada - eu não vou citar nomes nem parafrasear.

/andré amin: voz
/ andré pettersen: contrabaixo
/ danilo rosolem: percussão
/ hugo vaz: violão aço e voz 
/ lucas adorno: voz 
/ pedro bernardi: guitarra

"Culpa - uma suíte telúrica composta para dança e palco":

I - Temas noturnos e pássaros digitais;
II - Tamanduá suicida;
III - Contraponto: a dança da floresta;
IV - Derrubada;
V - Tema cândido*;
VI - Socó-boi.

Produzida em Goiânia, de maio a julho de 2017:
- André Pettersen: captação, mixagem e masterização;
- Hugo Vaz: direção de arte.

Composição, instrumentação e arranjos por:
- André Pettersen: contrabaixo e violão aço; 
- Danilo Rosolem: percussão e efeitos;
- Hugo Vaz: harpa mexicana, vozes, violões aço e náilon, percussão e efeitos;
- Pedro Bernardi: guitarras elétricas.

* composição de Vitor Vaz André

Ilustração: Beatriz Barrientos (2015), óleo sobre tela.

Projeto MAZOMBO - Culpa

MAZOMBO é o filho da terra à qual não pertence; é quem sente saudade de quem nunca esteve; e quer voltar pra onde nunca foi.

Projeto MAZOMBO

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