Sem Título (Homem que Levitava)

Ele tinha o dom da levitação
Não era nenhum prestidigitador
Levitava de verdade seu corpo pelo ar
Escondia do mundo essa habilidade
Mas à certa idade e certa vez
tempos depois, apesar de ser discreto
Cuidadoso e muito esperto
Foi flagrado por alguém

Flutuando pelo ar num dia de tédio
Levitando no terraço do seu prédio
Parava à certa altura, dela não passando
E com lentos movimentos laterais
De modo que, em termos de literalmente
Não se podia dizer que ele podia voar
E também não podia ficar
muito tempo acima do chão

Tinha que descer depois de algum tempo
Senão caia no mar ou na calçada de cimento
como no processo de inspirar e expirar
tinha aprendido tudo por instinto

Com medo de ser pego ou de alguém lhe abordar
passou a tentar de tarde, mas com certa vergonha
mover, com a mão aberta e distanciada
carteiras já vazias de cigarro
páginas de livros e lenços de papel
já tirando de si, por prevenção, um certo sarro
mas então uma certa tarde
Lhe veio ver um oficial

Com truculência nos olhos bem real
Que é também truculência em potencial
Questionado, ele disse que não era um ilusionista
Desses diletantes ou que se apresentam como artista
Mas ainda não sabia algo novo pra escapar
Espiando sobre o muro, ele viu outra cidade
E a morrinha da cidade
E notícia de jornal

Thiago Albuquerque: orquestração e backing vocal
Daniel Pinheiro: bilha e djembê

Romance Roubado

Sem Título (Homem que Levitava)

08 - Sem Título ( Homem que Levitava)

Quando eu chegar

Quando eu chegar não vou deixar
o Sol me ver dormir sob os lençóis azuis
Devo espalhar, eu sei, meu bem
meu triste amor a alguém
que seja como for
Será também de quem chegar
Primeiro aqui no meu coração

Eu sei cantar, mas eu não sei
Pedir amor a alguém que esteja a meu dispor
Isso eu não sei
Não sei chegar além de aqui no meu coração

Quando eu chegar

07 - Quando eu Chegar

Valsa Quadrada

Na parede o relógio
é uma lembrança que conta
o buraco sem tinta e reboco
da sala dos loucos da repartição

Nessa casa assombrada
em festa de aniversário
gerentes de hospício enchendo a barriga
estufando o peito e limpando o chão

e a orquestra então toca
uma valsa quadrada
com música do chefe
e letra do zelador
E todos dançam uma dança esquisita
Que os instrumentistas
Vão ler no papel

Nesse dia assombrado
Transcrito em cópia fiel
uns tocam as notas
uns fazem silêncio
uns vão pro inferno
outros vão para o céu

Se almoçam escondidos
outros esperam no corredor.
um serve, um arrota
um cochila, outro mente
e então o presidente passa com o trator

e a plateia então dança
e a dança insinua
um pedaço de lua para iluminar
e todos cantam a canção infinita
e leigos e artistas voltam para o lar 

Andre Moska: “silêncio” e “um serve”
Lari Xavier: “um arrota”
Jack Nilson: “um cochila”, bateria e baixo
Ranny Monteiro: “outro mente”
Coro: Jack, Lari, Ranny e Moska

Valsa Quadrada

06 - Valsa Quadrada

Bolereña

Você está sofrendo e fazendo canção
Por ter um amor que não te faz sofrer
Sua inspiração não escolhe outro tema
Rejeita razão
Quer briga, problema
O planeta explodindo em dois
pra nascer lua espraiada no céu

Você sente que ele é leve demais
E tanta leveza não cabe no céu
Sua inspiração não vê um problema
no resto de tudo
drama, dor, outro esquema
grão de areia que não te seduz
pra fazer pérola ou virar pus

você está sofrendo por um amor
que te faz sofrer por não te trazer dor
Você está sofrendo e fazendo canção
Por ter um amor que não te faz sofrer

Você está sofrendo e fazendo canção

Thiago Albuquerque: orquestração

Bolereña

05 - Bolereña

The B-Files

Everywhere the things I see are blue
All of my friends wear blue
The ground I step on is blue
The things I’ll never know are blue
My shoes were painted in this collor too
Though I spend my days with red eyes
You will see my brain is blue
And where are the colors? Do you know?
Where’s the sun? It ain’t out there
And the truth
The truth ain’t out there too

The B-Files

04 - The B-Files

John Lennon

Um menino chamado João
Queria ser John Lennon
Empregado em qualquer profissão
Queria ser John Lennon
Só podia ser feliz assim
Nem que fosse o John Lennon do bairro
Ele e mais uns cinquenta otários

Um menino chamado José
Queria ser John Lennon
Preferia Maradona que Pelé
Queria ser John Lennon
levando tiro de revolver de festim
mas não queria ser um viciado
Nem ser gordo e enfartar o miocárdio

Um menino chamado João
Queria ser John Lennon
Guitarra, piano, violão
Queria ser John Lennon
Só podia ser feliz assim
mas não queria levar tiro na cara
ou se internar para largar drogas pesadas
e não queria ser um viciado
Nem engordar e enfartar o miocárdio
Nem praticar grito primal em sua casa
Mas dar uma de herói da classe operária
mas não queria levar tiro na cara
Ou se internar para largar drogas pesadas
Pois não queria ser o truculento
Ele não ia mexer com Jesus Cristo
Ele queria apenas ser John Lennon
Pois o John Lennon é o que a gente fizer dele

Jack Nilson: backing vocal
Thiago, Jack e Ricardo: classe operária

John Lennon

03 - John Lennon

Romance Roubado

Eu, passando através do som
Vim te dizer que arde o sol
Bem ao lado da escuridão
e, no meio, a interdimensão

Vim, pensando em formas de amor
E através de imagem e som
Pra te mostrar que o meu bem, meu bem
Tem também um pouco de ar e sol
Apesar de que triste e só
Alvorada sem dia e cor

Vem, derrete o gelo polar
Me dê um beijo lunar
Roube um romance pra ler
Sei que o tempo é circular
E que ele vai te alcançar um dia também

Vem, que o tempo é circular
E sei que vai te alcançar um dia também
tecendo formas de amor
vim, através de imagem e som
Pra te mostrar, meu bem, meu bem
Pois sei que nem sempre arde o sol
No astronauta de lua e som
Circulando entre dimensão

Lari Xavier: voz oitavada
Marcelo Ramos: bandolim e violão

02 - Romance Roubado

Balada de um Homem Normal
(Ricardo Maradei/Lari Xavier)

Era um homem tão normal
Que não parecia natural
Que acordava e caminhava
Trabalhava e não julgava ter
Uma vida tão banal
Até parecia irreal
Que passava e que corria
Pois o homem não sabia que era assim
Ele vendia e atendia
E sorria e só sabia ser assim

Era o homem um animal
Que não parecia natural
Que grunhia e se servia
Que uivava pra luz da tv
Era um homem, um animal
Até parecia natural
Que acusava o que sentia
E mudava de cor pra esconder
Ele mostrava o dente e ria
E seu corpo sumia sem saber

Antigamente ele acordava de tarde
Com o corpo preso, vendo as paredes do quarto
E coisas estranhas, sem poder levantar

Era um homem tão normal
Que não parecia natural
Que tocava guitarra
Que aparecia na tv

Mas hoje em dia
depois que acaba o expediente na escadaria
ou na astronave ascendente
Ele passa no pub pro happy hour
E guarda um desgosto a tempo pro jantar
Depois se deita e dorme pra sonhar

Daniel Pinheiro: bateria
Lari Xavier: guitarra e vocais
Thiago Albuquerque: vocais

Balada de um Homem Normal

01 - Balada de Um Homem Normal

Gran Festival (demo)

Músico. Tocou nas bandas A Volta do Astronauta e StereoScope.  Lançando o disco solo "Romance Roubado".