Este álbum explora o território onde o rock de arena — com sua grandiosidade, catarse coletiva e inevitável “excesso” — encontra a reinvenção. O gênero sempre oscilou entre a potência mágica e o risco do kitsch, e é justamente nessa tensão que nasce algo novo.

Na virada dos anos 2000, o Calcinha Preta inaugurou uma estética ousada ao transformar clássicos dos anos 80 em versões de forró, fazendo com que uma geração inteira conhecesse primeiro o cover e só depois a canção original. Minha proposta segue a direção contrária: adaptar composições autorais para o inglês, preservando minha narrativa e ponto de vista originais, mas transpondo-as para a sonoridade e o lirismo da linguagem pop-rock dos anos 80 e 2000.

Esse movimento acompanha também a retomada de minha atividade como compositor — mais hobby do que profissão — e a constatação de que o sertanejo, embora distante das minhas referências de blues, rock e MPB, tornou-se o mercado mais rentável no Brasil. Essa fricção entre preferência pessoal e oportunidade de mercado acaba sendo parte do processo criativo.

O método se inspira no Working Backwards, da Amazon: começo pelo impacto desejado — como a música deve soar em um palco, ou como a letra deve ressoar em outra língua — e caminho de volta até as escolhas de melodia e timbre. Com auxílio de inteligência artificial, especialmente o Gemini, ajusto as versões em inglês ao lirismo próprio da tradição do rock internacional.

O resultado é um projeto que dialoga com fãs do rock — até os mais resistentes a qualquer flerte com gêneros populares — sem abrir mão de revisitar as intersecções culturais que moldaram a música brasileira contemporânea.

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