A árvore que não dá fruto 
 É xingada de estéril. 
Quem examinou o solo?

 O galho que quebra
 É xingado de podre, mas 
Não haveria neve sobre ele? 

Do rio que tudo arrasta 
Se diz que é violento.
Ninguém diz violentas 
Às margens que o cerceiam. 
(Bertold Brecht)


Nem binarismos, nem dialéticas: irromper nos espaços dicotômicos e cavar zonas de transbordamentos deve fluir, como nos ensina Roland Barthes, de um princípio de gozo: uma explosão de pluralidades e diferenças que renuncie a simples leitura da oposição dos termos (gosto/não gosto, positivo/negativo). Isso porque, nessa perspectiva, esquivar-se do binarismo e buscar novas maneiras de ler revela uma ideia; amar uma ideia, um sentido, nos faz (per)seguir esse objeto amoroso do qual nos deleitamos. Desse modo, diz Barthes, "é preciso, pois, dissolver as confrontações e os paradigmas, pluralizar ao mesmo tempo os sentidos e os sexos: o sentido caminhará para sua multiplicação, sua dispersão [...], e o sexo não ficará preso a nenhuma tipologia [...]". A terceira margem, como local ilocalizável, constantemente derrapa num vazio que não pode ser fixado em polos contrários; esse vazio é o "entre". Ela é, antes tudo, um forte. A ideia parte do conto "A terceira margem do rio" do escritor mineiro João Guimarães Rosa. O pai de uma família, certo de sua decisão de fazer uma canoa, rema rumo à terceira margem do rio, deixando sua família à vista. Nem longe, nem perto; nem visível, nem invisível; nem material, nem imaterial; nem dentro, nem fora; entre um e outro, o pai, simplesmente, "sentado no fundo da canoa, suspendia no liso do rio". Essa terceira margem inexistente é de onde falamos quando dizemos conceitos como transbordamentos, vazios, derrapagens. É por amor a essa ideia, onde nada se conclui e sim se renova, que criamos esse podcast. Letras, Literatura e Cotidiano na UFSC: como desarmar as leituras polarizantes, tão encrustadas no nosso cotidiano, a partir dessa terceira margem? Como operar deslocamentos no fixo, pluralidade na polaridade e diferença no único? O entre-lugar que a terceira margem diz respeito, trata-se, sobretudo, de um estremecimento das ideias dicotômicas que têm tomado forma no Brasil nos últimos tempos: "meninos vestem azul, meninas vestem rosa". Decretada a morte do pensamento - essa que imobiliza qualquer ideia nas assertivas "sim/não", "azul/rosa" -, a função da terceira margem é fazê-lo voltar a se movimentar, a longas beiras, nessa água que não pára, "e, eu [nós], rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio".

Prólogo - É Greve!

As perguntas-eixo desse capítulo podem ser formuladas da seguinte maneira: de que vale o “conhecimento”, seja seu valor mercadológico ou metafísico, dentro das Humanidades? Para que serve, ou para quem se insurge, as Humanidades? O que é e para quem é destinada a Universidade? A Educação é, realmente, Para Todos, como prevê a Declaração Mundial de 1990 da UNESCO, ou, se nos permitem já a correção, como os dados do INAF nos mostram? Essas e outras questões movem argumentos como, por exemplo, o “elogio ao conhecimento” feito pelo Assistente em Sucesso Pessoal Miguel, baseando-se na Metafísica de Aristóteles. De modo geral, o último “conhecimento” eleito por Aristóteles diz respeito à ciência, que está ligada diretamente ao uso da razão. Dividida em “ciências teoréticas” e “ciências práticas”, sendo as primeiras sem propósito prático e concentradas apenas na geração inútil de saber e conhecimento, e as segundas com a finalidade de gerar um objeto ou produto, pensamos que o conhecimento é a chave para o sucesso pessoal, quer dizer, para nossa evolução enquanto seres em diferença com a condição animal que se aproxima do esvaziamento da razão. Em seguida, contrapondo e levando tais argumentos adiante, o Empreendedor em Personal Inspire (inspiração pessoal) Victor trará uma Conferência de 1998 do coach Jacques Derrida, proferida na Califórnia, USA, chamada “A Universidade sem Condição”. Victor tentará mostrar como que Derrida, fazendo uma crítica ao humanismo kantiano, pensa as Humanidades e a Universidade num contexto da segunda metade do século XX, levando em conta a globalização e todas a modificações que disso decorre nos conceitos “Homem”, “Trabalho”, etc. A Universidade “sem condição” é uma aposta do filósofo francês nas “Humanidades do amanhã”, onde a profissão de fé do professor possa ser professada com, paradoxalmente, soberana “incondicionalidade” (o paradoxo é que se é soberano, não pode ser incondicional, e se é incondicional, não pode ser soberano): sem condição do Estado, do Mercado ou da Religião. As Humanidades não devem ser palco de discriminação do saber como saber maior ou menor, como distinguia Kant, antes deve ser espaço onde todos os saberes possam se encontrar e dialogar. Por fim, passada toda essa sessão de inspiração e motivação aristotélica e derridiana, a Life Coaching Cau trará a Constituição de Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que prevê a liberdade de pensamento e expressão dentro do contexto educacional, seja na Educação Básica ou Superior. Não satisfeitos com o paradoxo da “soberana incondicionalidade”, os debatedores alertam para o paradoxo que é um documento do Estado que diz uma coisa mas faz outra.

Terceira Margem