Composta em 2007 (e em constante mutação) quando fiz uma visita à fazenda onde nasci e cresci. Fala, quem sabe, do abandono,  do tempo e do pó.


Despertar

 Voz, violão  por Thobias Lieven;  cajon por Felipe Andrade. Feliz Aniversário, Audir Blanc!

Ensaio - Corsário

Canto do Ipê Amarelo (Décio Marques) - Thobias Lieven

Felipe Andrade - Cajon e Thobias Lieven - Voz e Violão.

Fotografia (Leoni) - Thobias Lieven/Felipe Andrade

Nas idas de 2011, quando ainda não imaginava que primaveras árabes poderiam ser elaboradas por governo(s) imperialista(s),  compus esta canção (e a chamei "Primavera Árabe") pensando que a manhã havia chegado naquela parte do mundo. Aqui, nossa jornada de junho chegou a ser chamada de primavera também. Fica só a rala esperança de que ela chegue! 

Alvorada

Quando chega a manhã, é 
pra te mostrar que a tua refeição
não te sustenta mais
e quando chega a luz do sol
pra te mostrar que a escuridão
nunca deixou

A lâmpada da sala
mesmo acesa, fingindo um farol
Ou uma ilha
Falsa ilha na escuridão

Que se use a esperança como norte contra o que lhe mata 
É pena que do sépia do mercúrio a cidade esteja farta
Pois 

a luz
das estrelas
aparece na escuridão

as estrelas 
aparecem na escuridão

as estrelas
aparecem
na escuridão

Alvorada - Thobias Lieven (2011)

O Passar dos Anos 

Lembra?
Esse mundo era gigante
E a esperança em nossa volta
Tinha a inocência das infâncias
Que abandonam pouco a pouco
Como um pedestre indiferente
Sob o olhar de quem tem fome 
Como quem finge que não sente
Como quem se diz inocente

Lembra?
Agente achava importante
Dizer ao mundo que essa gente
Que se tornou arrogante
Seria esquecida lentamente...
Que não havia quem roubasse
Nossa alegria em ser gente
Nosso futuro em qualquer parte
A juventude em nossa mente

Um dia ouví meu coração me chamar
Dizendo “veja, essa criança já foi!
Você já não precisa mais acreditar
Só feche os olhos e lembre que foi bom”

Era o meu peito cansado de sonhar
Contra a corrente que lhe tira o amor
Morrendo pelo meu salário de sal
Envelhecer sem descobrir quem eu sou


Thobias Lieven - O Passar Dos Anos

Dalva
(Thobias/Lucielly lieven)
<Gravado em casa, no Audacity. Voz e instrumentos por Thobias Lieven>

Numa roda de capoeira
ou brincando na beira do mato
nunca se deitava cansado
esse menino levado
 
Levava vida de incerteza
caminhava num solo rachado
levando na cabeça um litro d'água
que já tinha acabado

Caminhava a pé pra sua casa
que era todinha palha, pau e barro
que só tinha uma porta, 
uma janela e um quarto

Lá de baixo da paineira 
que ficava na frente da porta
esperava cansada 
sua mãe, chorosa

e ela finalmente fez
o que tão pouco tinha feito
botou o litro d'água do lado
lhe deu um abraço e um beijo

e o menino ia perguntando
"mamãe, o que é que você tem?
eu sei que a água é pouca agora,
mas dá pra gente e pra papai também"

"Menino levado,
escuta essa sua mãe que chora:
termina de me dar o abraço
e vai lá dentro buscar sua sacola"

E o menino ia perguntando
"Mamãe, pra onde agente vai?
Por quê que anda chorando tanto?
Por quê que vamo sem papai?"

"Papai tá dormindo
do lado daquela estrela
foi simbora, avoando,
agarrado no cometa"  

E o menino não acreditava 
queria tanto ter ido junto!
Simbora pra São Paulo
viajar no poeirão, ganhar o mundo

E o menino não acreditava
sentia o peito moribundo
"Você que sempre me levava, papai!
Porquê que não levou eu junto?"

Até hoje esse menino trabalha 
descendo e subindo ladeira
e à noite, quando o céu se espalha, 
o menino fica olhando pra quela estrela
à noite, quando o céu se espalha, 
o menino fica olhando pra quela estrela

Dalva (Thobias Lieven/Lucielly Lieven)

Músico da noite e eventos, compositor amador. Moro em Vitória, ES.

Thobias Lieven

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