Biblioteca

Texto inédito de Herberto Hélder
Lido por Marina Deus, mediadora na Rede de Bibliotecas de Lisboa

Biblioteca, de Herberto Hélder

“Dizem que quando um silêncio chega e fica entre duas pessoas... é porque passou um anjo e lhes roubou a voz. A falta de luz também inventava mais tempo para as pessoas estarem juntas, devagar. Para mim, a falta de luz era estar ali com ela, de mãos dadas – os meus lábios na espera dos dela.”
Há livros que parecem pequenos, mas depois de lidos descobrimos a sua grandiosidade, quer pelas palavras, quer pelas ilustrações que as complementam. 
Esta é uma história lindíssima de Ondjaki – Uma escuridão bonita. Numa das muitas noites em que falta a luz em Luanda, dois adolescentes ensaiam o seu primeiro beijo. O beijo acontece mesmo, mas quase no final do livro. No escuro da noite, uma história de sentimentos, de sons, de cheiros, pequenino, mas que enche os olhos e o coração, de tal forma que quase conseguimos ouvir o silêncio desta noite. 
Boas leituras!

Texto e voz: Sofia Raminhos

A luz faltou de repente? "Uma Escuridão Bonita" de Ondjaki

Era uma vez….não, não vos vou contar uma história, mas desafiá-los a ler o livro Descubra as
suas origens e a partir dele, reconstruir histórias ou melhor a sua história.
De uma forma simples e com uma linguagem muito clara, mesmo para os que se iniciam nesta
viagem, os autores fornecem as ferramentas necessárias, que nos permitem descobrir os
nossos antepassados. Quem foram, O que faziam, De onde vieram.
Passo a passo, os autores apresentam os principais documentos que permitem iniciar e
avançar com a construção de uma árvore genealógica, quer sejam os registos paroquiais, os
registos sobre os expostos, os registos militares, não descurando as fontes orais ou as
fotografias de família, até aos mais recentes métodos de estudo do ADN.

Ao mesmo tempo, procuram fornecer meios de interpretação e organização dos dados
recolhidos. Como os próprios autores referem, esta construção familiar requer método, rigor,
objectividade e honestidade “para que as interpretações não sejam empoladas deixando de
corresponder inteiramente à verdade histórica”.
Esta é uma obra que nos ajuda a trilhar esse caminho, o nosso caminho, que poderá ser moroso, mas aliciante e com toda a certeza viciante. Boa leitura

Texto e voz: Manuela Ramos

Quem somos? De onde viemos? "Descubra as suas origens" de Francisco Queirós e Cristina Moscatel

Rir, rir muito, rir até chorar, rir até a barriga doer, até não ter fôlego, até cair para o lado. 
É isto que o livro Mixórdia de Temáticas de Ricardo Araújo Pereira nos faz. 

Crónicas hilariantes e divertidas que falam sobre temas mundanos, alguns atuais quem sabe, ridículos, satíricos, com um humor peculiar que só o autor tem. Diálogos estapafúrdios com a equipa da Rádio Comercial
A Violetta, a Anita que mudou de nome, as histórias trágicas do Carnaval, entre outras.. 
Há uma, muito atual, a roupa de andar em casa… 

Um Mixórdia que só visto (ou como muitos diziam que ouviam no genérico “Mixórdia de tomate e queijo”). 

Porque rir neste momento é o melhor remédio. 

Riam, riam muito…

Texto e voz: Susana Lé

Rir, rir muito "Mixórdia de Temáticas" de Ricardo Araújo Pereira

Abençoado seja o teu medo
pois é sinal de sabedoria.
Não te deixes paralisar pelo medo.
Transforma a energia em flexibilidade
e serás liberto
daquilo que temes. 

Estas são as palavras de Yoko Ono no seu livro Bolota. 
Yoko Ono essa genial artista multifacetada, tão à frente de tudo.

Quem passou por uma guerra terá, seguramente, um mundo interior pleno de ensinamentos, de memórias, de esperanças, mas também de medos escondidos nos veios do cérebro, onde as escuridões se acumulam, ou tendo sabido processar todo o horror vivido, terá sido capaz de regressar ao âmago da vida… esse ponto exato onde o verdadeiramente importante na nossa existência se revela de forma avassaladora, mostrando-nos a grandeza do simples, a majestade existente na simplicidade mais pura, despida de todo o extra que de nada lhe serve.
Yoko Ono viveu a Segunda Guerra Mundial, e é com a lembrança curada dessa memória aterradora que inicia este livro, com um pensamento /meditação a que chama “A Parte do Céu I” e em que revela ter sido precisamente no final desta guerra, quando a fome era tanta que, tal como a própria diz: 

Era mais fácil limitar-me a ficar deitada e olhar para o céu.
Foi quando me apaixonei pelo céu, acho eu.

Ao longo deste livro, com uma simplicidade absolutamente arrebatadora, como a brancura de uma paisagem japónica, Yoko reposiciona-nos num sentido de vida com o centro na simplicidade… apenas isto… a maior simplicidade que nos seja possível. E assim vai percorrendo o Céu, a Terra, a Cidade, a Ligação (com os outros, connosco, com os objetos), o Som a Vida e muito mais.

E é, também, a partir dessa lisura que nos diz:

Primavera

Grava o som de amigos a rirem juntos.
Guarda a gravação para um dia difícil.

Talvez agora, mais do que nunca, estejamos em condições de entender o magnânimo significado destas palavras.

Text e Voz: Sofia Matinhos.

Tão simples como uma bolota "Bolota" de Yoko Ono

Então experimente a companhia de António José Bolivar Proaño, que vive na mais completa reclusão no meio da floresta. Com os índios aprendeu a respeitar a natureza, a conhecer os seus sinais e os seus caminhos.
Duas vezes por ano recebe a visita do dentista Rubicundo Loachamin, que lhe entrega bens essenciais: Romances de Amor. É desta forma que foge da fanfarronice de homens armados que procuram o lucro a destruir a floresta.
Longe de tudo, saboreia cada romance "Quando havia uma passagem que lhe agradava especialmente, repeti-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também pode ser bela."
Descubra assim, na companhia de António José Bolivar Proaño que se o vírus não tem fronteiras, a magia das palavras também não.
O Velho Que Lia Romances de Amor é uma história apaixonante do escritor chileno Luís Sepúlveda, vítima de Covid19, mas eterno na sua escrita.

Voz e Texto: Ana Porfírio

Sente-se só? "O velho que lia romances de amor" de Luís Sepúlveda

Ofício tão singular o de Hervé Joncour que algures numa pequena vila do sul de França, compra e vende bichos de seda. Tão sensível, tão incrível, esse seu mundo de hábeis tecedores da leveza.
Minúsculos ovos, milhares, que cabiam numa mão, imenso tesouro.
SEDA leva-nos por um universo encantatório, de um homem determinado e sonhador, que dá a volta ao mundo, porque sabe que o pequeno e misterioso bicho-da-seda, precisa de cuidados delicados, equiparáveis à graciosidade do seu tecido.
Ameaçados pelas pragas que dizimavam os delicados ovos, Hervé empreende uma epopeia de viagens até ao fim do mundo. E o fim do mundo era essa ilha feita de ilhas: o Japão! 
De comboio, a cavalo, de barco, Hervé atravessa fronteiras, percorre estepes, rios, cordilheiras e continentes. 
Mundos que se tocam, com parcimónia, com respeito e temor do desconhecido que cada um encerra. 
E aquele tecido fiado do nada, tão leve, tão suave, era como segurar o nada entre os dedos.

Texto e voz: Adília Rivotti

"SEDA" de Alessandro ​Baricco

Escrito e composto em 1962, editado em 1963, Os Vampiros constitui o primeiro tema de Zeca Afonso claramente denunciador da repressão política e da atuação dos agentes da PIDE, que, como nos diz o poema, “No céu cinzento sob o astro mudo / Batendo as asas pela noite calada /Vêm em bandos com pés de veludo /Chupar o sangue fresco da manada”. Vampiros foi também, juntamente com O menino do bairro negro, a primeira canção de Zeca Afonso a ser proibida pela Censura.
Nas palavras do seu autor, “Numa viagem que fiz a Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa, o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e no nosso music-hall de exportação. Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja atualidade poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair. Foi essa a intenção que orientou a génese de Os Vampiros […].” (José Afonso, Cantares, coord. de Manuel Simões e Rui Mendes, Coimbra, Fora do texto, 1995, p. 102).
Germano de Sousa (ex-bastonário da Ordem dos Médicos), que na altura estudava em Coimbra, conta como surgiu a canção: “[O Zeca] ia muito à minha república, nessa altura, e um dia apareceu-me lá de manhã. Eu tinha ido para a farra, […] ainda estava na cama. Ele entra-me por ali adentro, acompanhado da segunda mulher [...]. Vira-se para mim e pergunta-me: «Sabes música?». «Ó Zeca, não, não sei […]. «E não tens um gravador?», «Gravador? Se tivesse um gravador, já o tinha posto no prego». «Eh, pá, que chatice! É que eu tenho uma música na cabeça e ainda a vou perder». Ele era assim: compunha na cabeça e, se não registava logo, esquecia-se. […]. «Ó Zeca, o que eu posso fazer é ir buscar a viola; sou um péssimo tocador, mas sempre arranho qualquer coisa. Faço uns desenhinhos das cordas no papel, tu vais-me dizendo as notas, e eu vou pondo. Nota 1 na escala tal, nota 2 na escala tal…» Assim fizemos. E ele lá se pôs a trautear”. Eram as primeiras notas de Os Vampiros. (entrevista com Germano de Sousa in Adriano Correia de Oliveira, textos, org. e coord. José Niza, [Lisboa], Público Comunicação Social SA, D.L. 2007, vol. 3, p. 30.)
A balada. Os Vampiros impressiona pela dureza e frontalidade das palavras de José Afonso, inequívocas na acusação da perseguição e prisão política. Quando um ano mais tarde, Zeca reedita a canção censurada apenas em versão instrumental, cada um dos portugueses a quem a repressão tinha batido à porta, pode continuar a cantar para si estas palavras  “No chão do medo / Tombam os vencidos / Ouvem-se os gritos / Na noite abafada / Jazem nos fossos / Vítimas dum credo / E não se esgota / O sangue da manada”. É esta a força da canção: mesmo silenciada, Os vampiros permaneceu e continua, ainda hoje, no mais fundo e íntimo de cada um de nós.

Seleção, texto e voz: Isabel Novais | Serviço de Fonoteca das BLX

Saiba mais em:
https://bit.ly/2xYlc4p

"Os Vampiros" (1963) de José Afonso

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades integra o álbum homónimo de José Mário Branco, o seu primeiro LP e que em poucos dias esgotou os 5.000 exemplares editados. O disco foi gravado em 1971 nos arredores de Paris, cidade onde o cantor se exilou a partir de 1963 para escapar à perseguição política. Mas foi em Lisboa, no Cinema Roma que foi lançado com grande impacto e uma inusitada transmissão nacional em direto pela Rádio Renascença que bloqueou qualquer possível intervenção da Censura. 
Com uma orquestração inovadora e sofisticada e uma componente irónica e irreverente, o LP Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, conjuntamente com o EP de Sérgio Godinho Romance de um dia na estrada (lançado na mesma sessão), inaugura uma nova fase da música portuguesa e de rutura com a balada acompanhada à viola que dominara o panorama musical de protesto desde os inícios de sessenta. 
Curiosamente, a faixa Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades é a única canção do álbum que não foi composta por José Mário Branco mas sim pelo amigo francês, cantor e compositor, Jean Sommer. Também o poema de Luís Vaz de Camões, monumento nacional e figura inquestionável pelas “autoridades” do Antigo Regime, é inteligentemente reconduzido por José Mário Branco a um papel interventivo, reforçado nestas palavras intrusas acrescentadas ao soneto original: “E se todo o mundo é composto de mudança / Troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança.” São palavras irreverentes, com um enorme apelo à renovação que foi certamente compreendido por toda uma geração que, em breve, abraçaria o 25 de Abril.

Seleção, texto e voz: Isabel Novais | Serviço de Fonoteca das BLX

Saiba mais em:
https://bit.ly/2VXYGk3

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (1971) de José Mário Branco, Luís de Camões, Jean Sommer

O Homem Mais Inteligente da História constitui-se um raríssimo diamante literário sobre o personagem bíblico de Jesus Cristo, cujo prisma espelha rasgos nítidos de uma autêntica abordagem revolucionária: a mente de Jesus analisada sob critérios psicológicos, psiquiátricos e sociológicos. 
Este livro permite-nos desfragmentar gradualmente a “impressão digital” do personagem, na história da humanidade, sob o olhar das ciências humanas.
Numa numa fase inicial, convida a uma leitura interessante e descontraída. Numa segunda fase, desperta a curiosidade e, em derradeira análise, revemo-nos o personagem sob circunstâncias tão realistas e contemporâneas à esfera mental do século XXI, como a capacidade de lidar com perdas irreparáveis, frustrações permanentes, como desenvolver um espírito resiliente e como proteger o complexo universo da emoção. 
Quem sofre de depressão profunda, ou sente total perda de controlo em situações de tensão extrema, ler este livro talvez lhe permita olhar aquilo que nunca pensou ver, em quem nunca tinha visto antes!

Texto e Voz: Vandiza Lopes

"O Homem Mais Inteligente da História" de Augusto Cury

Viagem entre poemas

Este é um daqueles livros que não se lê de uma só vez. Está sempre disponível a ser redescoberto. Lê-se aos poucos, ao longo do tempo. Relê-se, e torna-se a ler com outros olhos, ao longo dos anos. É um livro que nos acompanha e que nunca lemos do mesmo modo. 
Em 2001, a editora Assírio & Alvim ofereceu-nos uma antologia de textos poéticos com a qual assinalava essa data tão simbólica e alvo de inúmeras profecias: desde o início de um novo mundo ao apocalipse tecnológico.
“2001 poemas para o futuro”, é uma cápsula de pequenos textos que testemunham o evoluir do modo com a humanidade se pensa e se observa, talvez para lembrar à humanidade futura a sua génese. Integra excertos de textos fundadores das grandes crenças – religiosas, filosóficas, políticas e estéticas - de vários povos e regiões do mundo. Neste livro encontramos algumas das fronteiras que os homens colocaram entre si e de como as derrubaram.
Um poema hoje, outro amanhã. Temos um contínuo vislumbre da história do mundo e do Homem enquanto construtor da sua própria história.

Texto: Adelaide Bernardo
Voz: Adelaide Bernardo

Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o futuro​

Das cartas à poesia

Quando se fala na obra O Carteiro de Pablo Neruda deveria tropeçar-se nas palavras, ditas ou escritas. Deveria gaguejar-se ou semear reticências palavra sim, palavra não. E deveríamos fazê-lo com uma boina de carteiro, ora na mão, ora na cabeça. 
Esta história, que retrata a amizade entre um jovem carteiro e um poeta famoso, tem como pano de fundo a situação política do Chile no início dos anos 70. Mas é a poesia que tem o protagonismo. A poesia, as palavras e as metáforas, que o poeta ensina a Mario e que o ajudarão a conquistar Beatriz. Não pense que o calor e a distância fazem desanimar o jovem carteiro, há toda uma descoberta que incentiva Mario a percorrer, com a sua bicicleta, o caminho que o conduz à magia desvendada diariamente por Pablo Neruda. Aproveite e veja também o filme, adaptado deste romance de Antonio Skármeta, alguns anos mais tarde.

Voz de: Ana Carolina Correia	
Texto de: Ana Carolina Correia

"O carteiro de Pablo Neruda" de Antonio Skármeta

Raposa itinerante

Mordisca-nos a curiosidade: “A Louca da Casa”. Por instantes um flash, a loucura implícita e depois, a bonança de algo que está presente na vida, no quotidiano, na Casa.
Mas, “A Louca da Casa” é sobretudo uma viagem fascinante, um revelar da criação literária, da imensa constelação de gente, escritores, acontecimentos, que povoam a memória de Rosa Montero. 
O que a faz escrever e para quem? Foi esse o sentido primordial deste livro, escrever sobre a escrita. E junta-se depois a imaginação que é a Louca Casa. Rosa é a raposa, animalzinho itinerante, a escritora que avança sem parar por assuntos diferentes. 
Lemos como se nos sentássemos à conversa, num longo serão. 
Seguimos pelo mundo, por destinos tão distantes como Santiago do Chile, Dresden, Auschwitz, Quénia... e paramos à porta de escritores, muitos, brilhantes, que admiramos, outros ainda por conhecer.
Ler e reler este livro, faz-nos sentir mais humanos, reflexivos, deixa-nos a vontade de ler, ler mais, ir à procura.
Também nos faz sorrir, “andem sempre com um livro na mão, porque quando a morte chega e vê o livro, espreita para ver o que estamos a ler... e distrai-se”.

Texto e Voz: Adília Rivotti

"A louca da casa" de Rosa Montero

Impérios, moinhos, gigantes.

 Sabe o que é perder tudo? Reconhecerá a descrição de Joseph Conrad em 'O coração das trevas'. De volta, descendo vagarosamente o rio, um homem derrotado – mas tão longe de tudo que se diria o único dono de milhas de selva impenetrável, miséria, brutalidade e mosquitos. Tambores à distância, ou o som de uma terra que acorda e adormece indiferente à sua passagem? Os olhos do homem ficaram longe, entre memórias que não se podem contar. Os olhos do homem são de vidro partido. Fora à aventura, à espera de fazer fortuna, e ninguém sabe o que encontrou. Os tempos do colarinho engomado, gravata de nó largo, passeios em Kensington ou à beira do rio – talvez já nascesse aí a febre –, trocando palavras amáveis à passagem das damas, ouvindo os homens falar em tom grave de mercadorias, câmbios e companhias de navegação. Ouro, borracha, marfim, fantasmas que transformam alguns homens em bestas, outros em propriedade (e os rasga a chicote até à submissão). Volta no barco velho, entre as margens de vegetação espessa, em direcção à costa. Depois o oceano, a casa à espera?

Texto e Voz: João Mesquita

"O coração das trevas" de Joseph Conrad

Os países da mente

Sente que a existência é pequena e solitária? Em ‘As Ondas’, de Virginia Woolf, a vida humana surge una e múltipla em simultâneo, diversa, infinita, como vagas que crescem e se afastam ao longo do dia. O sol nasce e morre arrastando consigo formas, cores, sombras, deixando por fim o céu às estrelas. A vida quase inteira é desfiada em diferentes vozes, escolhas, olhares. Eu. Eu. Eu. E tantos mundos quantas vozes. Eu. Eu. Eu. Tantas vozes quantos rostos aparentes no espelho. Memória que se reconta como uma maré lenta. Cada nome um disfarce, um nascimento, um pedaço roubado ao mundo, uma forma de o coração bater contemplando o seu objecto? Barco sobre o mar clarão fugidio, sem substância? Pertencemos à multidão de desconhecidos que sai do metro como uma imensa sombra e se estilhaça em ruído, divide os passos entre vários caminhos? Ou somos um coro, um rio que constantemente se une e dispersa, os nossos pensamentos e desejos tão particulares unidos no mesmo sonho, na mesma viagem, existindo porque o fio de uma história nos atou, cada continuando nos outros, cada fim e começo uma ilusão?

Texto e Voz: João Mesquita

"As ondas" de Virginia Woolf

O Codex 632


Codex 632 é o livro que nos apresenta a personagem Tomás de Noronha, professor perito em criptanálise e línguas antigas. Tomás é contratado para concluir o trabalho de um investigador, entretanto falecido, sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Mas as pesquisas do seu predecessor levam-no à descoberta de um segredo que envolve a figura de Cristóvão Colombo. E assim, viajamos até à época dos Descobrimentos, entre textos codificados, frases enigmáticas ou notas misteriosas que aguçam a curiosidade do leitor e a vontade de ir mais além.
Partindo de documentos reais, José Rodrigues dos Santos apresenta-nos teorias sobre a identidade e a real missão de Cristóvão Colombo, levando o leitor a inquirir qual será a verdadeira. Um livro que quanto mais desvenda, mais questiona, deixando várias teses em aberto, abordando várias áreas do conhecimento e destacando-se para além da história, da filosofia ou da medicina.
Em paralelo à demanda pela verdadeira história de Colombo, assistimos à história da vida de Tomás Noronha, um herói com pés de barro, com os seus problemas, angústias e prazeres levianos. Será que todos temos um preço? Até onde vai a nossa integridade? Tomás irá descobrir da pior forma as respostas a estas questões. Como humano que é, fará o seu percurso por tentativa, erro e aprendizagem, procurando redimir-se através da escrita. “Sê inteiro. Serei. Sê todo em cada coisa. Serei. Põe quanto és no mínimo que fazes. Porei.” Porque quando a realidade é silenciada, a ficção repõe a verdade.

Texto e Voz: Manuel Guimas

"O Codex 632" de José Rodrigues dos Santos

Inquisição. Cristãos-Novos. Europa seiscentista. Lisboa 1510. Eis uma leitura apaixonante para os amantes de um bom enredo com veracidade histórica.

Lisboa 1510. Nasce Beatriz de Luna ou (Gracia Nasi), filha do Banqueiro Português. Num mundo em convulsão, numa Europa dividida entre a Fé e o Ouro.
Política. Religião. Economia. São os pilares da sociedade de ontem e de hoje. A eterna luta entre o bem e o mal. Na escrita e no pensamento, as épocas convergem. E, o passado interliga-se com o presente. E nós, todos os dias, aprendemos um pouco mais. Desejamos sentir paixão pela vida. Luta pela liberdade. Amor sem limites. Felicidade.
Por isso viaje. Viaje no tempo e no espaço. Entre o passado e o presente. Saboreia este incrível romance cheio de suspense onde encontra toda a paixão, mistério e aventura, bem doseados num enredo histórico fascinante.
Lendo vive. Viaja e sonha.

Texto e voz: Ana Guerreiro

Viagens no Tempo "A Senhora" de Catherine Clément

Guia para o bem-estar e uma vida longa

Está preocupado com o envelhecimento saudável? Então o livro Yoga - para um envelhecimento saudável, de Baxter Bell e Nina Zolotow, pode ser uma boa leitura para si.  A partir da história da vida de Nancy, mulher muito ativa, este livro ajuda a perceber o envelhecimento, apresentando um conjunto de ferramentas para manter esse envelhecimento saudável. Será uma ajuda excelente para praticar posturas, que se poderá realizar em casa, assim como uma sequência de posições de yoga para cada fase do corpo, exercícios respiratórios, meditação, etc. Servirá como ensinamento para aquilo que devemos fazer em cada fase da nossa vida, ajudando-nos a prevenir alguns tipos de doença e a contornar situações, que nos possam causar algum desconforto. Ao longo do livro vamos aprendendo como o Yoga pode ser a resposta para muitos problemas relacionados com a força, flexibilidade, equilíbrio, saúde cardiovascular, gestão de stresse, entre muitos outros. Aproveite os exercícios práticos que, beneficiarão de igual modo, novos e velhos. 
Boas leituras.

Texto Maria José Afonso
Voz Natacha Lopes

"Yoga - para um envelhecimento saudável" de Baxter Bell e Nina Zolotow

Para a Passagem do tempo…, sugere-se o livro de Thomas Man, a Montanha Mágica.
História mágica sobre a subjetividade da passagem do tempo, do tempo real, do tempo próprio de cada coisa, de cada local, dos acontecimentos, emoções ou mesmos dos pensamentos.

Viagem interior de um jovem alemão honrado e ávido de experiências, que nos leva ao topo das montanhas mais altas para nos falar do sentido da vida, da consciência da passagem do tempo, assim como da problemática que é a existência, a sua brevidade e da morte.

Mas não é um livro para passar o tempo, dado que a sua leitura não é fácil, quer pelas suas referências filosóficas, religiosas e históricas, quer pela própria extensão da obra (oitocentas e muitas páginas).

No entanto trata-se de uma obra magnífica, onde ao longo da história somos envolvidos em conflitos e emoções que nos questionam constantemente, que abalam a montanha de cada um de nós.

Um Clássico da literatura que todos deveriam ler.

Boas leituras.​

Texto e voz: Isabel Piedade

BLX - Bibliotecas de Lisboa

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