O Distrito Federal que eu almejo para 2060 vem carregado e ritmo, poesia, dança e vida. As pessoas cumprimentam umas as outras com sorrisos sem mascaras e abraços sem espaço para distanciamento. Um DF representado pela roda, assim como nossos ancestrais faziam, cada um olhando para  face do outro. Atualmente o avião só possibilita um tipo de voom, o da indiferença fundamentada na hierarquia, onde somente vemos as costas de quem está a nossa frente.

Um Distrito Federal  além do plano, fora do eixo, cheio de curvas de diversos tamanhos e pesos. As cores, quando mais tiver melhor, seja dos ipês, grafites ou das pessoas ao redor.  Pois alguns são pretos e outros brancos, há também os cinzas e os policromáticos, se todas as formas de diversidades ocupassem os mesmos espaços, sem se dividir em blocos quadrados, seriamos  arco-íris por todos os lados. 

Um Distrito Federal tão politico quanto cultural, em que o poder não seja central, onde as quebradas juntas se fazem inteiras, cuidando das terras e das cachoeiras. Em 2060 o individual olhará cautelosamente para o coletivo, assim saberemos que para realizar utopias não basta olhar para frente se não reconhecermos a potência de quem está ao nosso lado. Finalmente voltaremos a cantar e a dançar alegremente em rodas, celebrando a vida, que é o que realmente importa!

Realleza (20.03.21)

Realleza - Bgirls

Entendendo a cultura como um espaço multifacetado de manifestações e etnias, Félix Valoy lança um olhar à equidade pensando na construção de um novo DF no qual sejam muitas e plurais as oportunidade de intercâmbio entre músicos de diferentes países. Cubano, o músico apresenta uma salsa como uma fagulha que fará despertar essa possibilidade de intercâmbios e a inclusão, de fato, de pessoas refugiadas.

Felix Valoy - Brasília Em Salsa

A obra apresenta a trajetória de Bárbara, abordando uma prática de destruir todos os obstáculos sociais e culturais ou qualquer outro obstáculo que implique em desigualdade ou exclusão. A partir desta prática, busca uma sociedade na qual todes tenham os mesmos direitos e igualdade de oportunidades.

Áurea Liz - Meu Nome é Bárbara

Em um território de apenas 5.802 km², há, propositalmente, uma distância não-física que separa as cidades, as pessoas, e, consequentemente, os saberes e os amores. Distância pensada para marginalizar, excluir e afastar; que determina quem não tem que adiar a felicidade e para quem chega o futuro. Distância que adjetiva os sonhos, os quais, para uma parcela da sociedade, só podem ser distantes e inalcançáveis. A incerteza inerente ao futuro é mais incerta para uns do que para outros. Se perguntar sobre o que está por vir pode ser muito doloroso quando o futuro passa e o que chega é a dor. A estrada acaba muito cedo para muitos de nós, que morrem sem conhecer a felicidade – adiada, agora, para a eternidade. Ficam para trás várias histórias por ouvir e por contar. Insistiram em nos fazer acreditar que não importa o que vem depois e que não dá para encurtar o mapa que nos leva até os nossos sonhos. A insistência incomoda. O incômodo move. Essa música é um apelo para que a gente se incomode. Para que a gente se mova tal como esse beat, que vai, meio que volta, mas anda mais um pouco. Mesmo parecendo atrasado, meio lento, nunca para. Que a gente nunca deixe de tentar subverter as distâncias, para que elas se pareçam cada vez mais com os breaks que nos fazem respirar, e, por outro lado, se distanciem mais dos ruídos que poluem cada vez mais o nosso sonhar. Que nos seja assegurada a possibilidade de não pensar sobre o depois, pois a incerteza sobre ele vir ou não partirá de nós. Que a gente se convença de que pode dar certo se quisermos e mais do que isso: que façamos acontecer.

Preto Nuvem - Sobre Distância

A proposta da música “Arpejo para um Afro-samba” trata da continuação histórica entre a fusão da música erudita e popular, fazendo referência a um de seus momentos mais brilhantes, aos amados afro-sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes. A música "Arpejo para um Afro-samba" traz em sua construção elementos técnicos da música erudita, como ostinatos, arpejos, construções harmônicas do século XX, além de elementos rítmicos de danças tradicionais e ritmos afro-brasileiros como o Jongo e a Capoeira. A proposta ainda leva a representatividade e o alcance de um instrumentista e compositor negro ao meio da música de concerto de cunho erudito. Um meio que ainda rechaça outras formas de tradição cultural e ainda se identifica e se estabelece como cultura predominante. A música de concerto, com sua origem europeia e tradição colonial, ainda negligencia grandes compositores negros da música erudita. Tendo essa perspectiva, é importante que no futuro, em 2060, jovens negres tenham acesso aos espaços que, atualmente, não lhes são oferecidos, como salas de concertos e pontos culturais. Misturando as linguagens popular e o erudita, a música “Arpejo para um Afro-samba” estabelece pontes entre estas comunidades, reivindica equidade nos espaços da música erudita e ainda faz menção técnica e estética aos Afro-Sambas de Baden Powel e Vinicius de Moraes. Nosso sonho é que, em 2060, jovens músicos negres se inspirem e se reconheçam em figuras que antes deles puderam construir e batalhar por seus espaços através da criação artística e se sintam seguros ao entrar nessa posição de artistas livres e valorizados.

Cairo Vitor - Arpejo Para Um Afro-Samba

A canção disserta sobre uma situação recorrente nas ruas: a malandragem. Não a malandragem estereotipada, mas a que as comunidades convivem há anos. A malandragem que muitas vezes entra na dicotomia boas ações versus crime. A intenção é iluminar as mentes e corações da juventude periférica para que estes jovens não caiam nas armadilhas seculares do sistema governamental, criando um novo conceito de malandragem: a que edifica, desmistifica e constrói.

Várias Fita

Diga How - Desmistificando a Malandragem

Devido ao colonialismo europeu e a sua lógica mercadológica escravocrata, corpos pretos e dissidentes tiveram, entre muitas coisas, o seu direito ao afeto negado e essas sequelas são sentidas até hoje por esses mesmos corpos. Essa música teve o objetivo de presentear minha companheira, uma mulher preta não- binarie, em seu aniversário, e com esta mesma música pretendo levar o afeto a todas as corpas pretas e dissidentes, pois já é tempo de mudança, já é hora dessas corpas poderem amar, serem amadas, e se amarem entre si e para si. Esta é uma composição carregada de amor, mais que amor, amor entre pessoas pretas que se negam à seguir essa mesma lógica colonial que insiste em tentar nos matar, mas não conseguiram, afinal, o amor não é essa coisa que romantiza o sofrimento e a "dor de cotovelo" que o ocidente nos empurra, o amor é plural, é fluido, é caloroso e para todes.

Tiago Black - O Mar Passando Na Torneira

A música em questão, "O Lacônico e o Loquaz", tem como tema fundamental a relação entre indivíduo e sociedade. O poder da concentração da informação como arma de manipulação de atitudes e até mesmo sentimentos. "O lacônico e o loquaz quase não se falam, não se falam mais..." atenta para a intolerância vigente, o que a priori nos racha enquanto sociedade, mas que também se mostra historicamente como processo de desenvolvimento da mesma. A forma como o coletivo lida com o indivíduo é refletida na maneira como o indivíduo lida consigo mesmo - Sou deficiente auditivo congênito e necessito do uso de próteses para me comunicar e exercer minha profissão de músico (o que faço com exclusividade e paixão tem mais de 20 anos), próteses essas que fui adquirir apenas com a maior idade, após ser aprovado em concurso público onde era essencial o uso das mesmas. Não era essencial antes? Eu precisei de um emprego formal (por alguns anos) e próteses para entender que o que eu fazia desde criança era realmente o que eu tinha que continuar fazendo, apesar da loucura que, direta ou indiretamente, o meio fazia parecer - um músico surdo... Faço esse breve relato e chamo para a reflexão pois tudo na composição é conceito: A sociedade impele o deficiente a desacreditar de sua função social. A minha perda auditiva é de cerca de 60% e concentrada nas frequências médias e graves. A composição apresentada é baseada na levada do baixo, meu principal instrumento (e que trabalha naquelas frequências), costurando uma harmonia simples, porém com ritmo complexo em contraponto ao violão, o que requer estudo e dedicação para a execução, isso tudo enquanto o surdo canta que o mundo não está sabendo conversar e muito menos se ouvir - tendo ele mesmo tocado todos os instrumentos, mixado e masterizado, sozinho, em casa, em isolamento.

Vavá Afiouni - O Lacônico E O Loquaz

A proposta é uma obra fonográfica titulada como "TRANS FORMAÇÃO" e conta com trechos de entrevistas com mulheres transexuais de diversas idades e épocas diferentes. A obra narra alguns sonhos como, por exemplo, ter um parceiro amoroso, ter acesso à troca de nome no Registro Geral, dentre outros - que ainda são sonhos muito distantes para algumas mulheres trans. Também conta sobre várias dificuldades iguais em diversas épocas diferentes. A proposta do fonograma é trazer um forte impacto na sociedade em que vivemos e, com isso, mostrar que a mudança em alguns comportamentos é necessária para um bem maior. "TRANS FORMAÇÃO" é o que precisamos para que possamos viver essa sociedade melhor e é isso que precisamos para #BSB2060... uma TRANS FORMAÇÃO.

DJ Sapo - Trans Formação

"Você não é de Brasília pois não mora no Plano". Nascido, criado e tendo vivido minha trajetória musical em Taguatinga, recordo de, em alguns momentos, sentir que por morar em uma cidade satélite e não no Plano, eu não fazia parte de Brasília. Esta música traz essa provocação/reflexão de que Brasília foi construída pelas mãos de cidadãos de vários locais diferentes, de cidadãos que vieram fazer dessa cidade a sua morada e que é nosso papel lutar para que todos possamos habitar e viver de forma social neste espaço. A gênese da criação de Brasília proposta pelo presidente JK era da fusão de todos os Brasis em uma cidade só. Que possamos viver isso em Brasília é o meu desejo retratado em forma de canção e reflexão.

Dillo - Plano Marmita II

Acredito que o conhecimento seja parte essencial para o futuro, não só para nossa cidade, mas para a humanidade como um todo. Mas creio que esse conhecimento geral precise caminhar pelas águas do autoconhecimento primeiro, porque quem se conhece, se respeita. E quem aprende a se respeitar naturalmente respeita o outro. O mundo precisa de mais respeito entre as pessoas e é isso que a minha arte prega. Acredito na força de transformação que a música promove, ela auxilia na construção de uma sociedade mais plural e consciente. Isso acontece porque a música realmente cura. Ao logo da minha vida artística, o ponto de foco sempre foi trazer a consciência da liberdade, do direito das pessoas de serem o que elas querem ser, livres de rótulo e preconceitos. Todas as minhas composições trazem algo de valor agregado à poesia. Assim, acredito que a informação chega ao ouvinte de uma forma peculiar, propondo uma reflexão sobre as formas de amor, sobre superação, sobre a nossa cultura popular, sobre a cultura africana e principalmente sobre autoconhecimento.

Vinícius De Oliveira - Navio Chegou

"Sonho Suor: Pensando em Utopias em Tempos Distópicos" é uma poesia manifesto autoral de Igu Malagueta, onde o autor busca tensionar realidades de desigualdades de periferias do Distrito Federal com um imaginário utópico de um devir futuro com mais equidades. A poesia é narrada pelas reflexões de um jovem periférico, que, provocado pela frase de um "outdoor", nos convida a pensar juntes sobre o abismo de desigualdades que transita na mesma cidade, sob o mesmo céu e sol, mas com sombra para poucos. Numa métrica rápida, rasteira, objetiva e também figurada, assim como o dia-a-dia se mostra, a poesia vai nos trazendo para perto de um cotidiano onde se falta tempo para dormir, mas não para sonhar. Por mais que falte, a gente inventa... Até suarmos nossos sonhos. E nessa dialética sonho suor, na correria da vida, há um manifesto latente ecoado para tempos futuros, onde se almeja mais acesso e oportunidades, erradicação da pobreza e miséria com cultura, trabalho digno, educação; igualdade de gênero e liberdade aos corpos e afetos; respeito as nossas pluralidades religiosas, afetivas e raciais; direito ao básico, incentivos e insumos de nossas utopias. Um convite de respiro em meio ao caos da rotina para podermos sonhar, por mais que venha sendo difícil. A poesia é acompanhada de trilha sonora com barulhos cotidianos da cidade para uma maior imersão no universo contado. Além de barulhos cotidianos, Igu Malagueta também produziu uma música e um aboio para ficarem de texturas ao fundo no início e final da poesia.

Igu Malagueta - Sonho Suor: Pensando Em Utopias Em Tempos Distópicos

Desde 1990 atuando incessantemente no cenário artístico de Brasília, escrevi textos que contribuíram com apresentações e espetáculos diversos, levando ao público a possibilidade de reflexão sobre as questões sociais, traçando um paralelo com a vida real, a fim de proporcionar alternativas de como lidar com situações diversas, tais como: problemas sociais, violência doméstica, vícios, discriminações, exclusões, quadros depressivos, movimentos de vanguarda etc. A produção cultural de Brasília tem sido intensa, revelando grandes talentos e colaboradores, mesmo com a desvalorização da arte no cenário atual, o qual nos faz ter vontade de criar trabalhos e meios de combater as injustiças e a pouca valia de nossas poucas oportunidades.

Gelly Saigg - Orla

A obra fala sobre respeito, igualdade social, sobre precariedade em relação aos recursos básicos pra sobrevivência e etc. Acredito que, pra um mundo melhor no futuro, temos a responsabilidade de agregar conhecimento, valor. E a música, o que eu escolhi como estilo de vida, além de trabalho, leva muito isso em consideração. Uso minha música como ferramenta, pois acredito que através das minhas letras conseguimos dialogar com os movimentos, com as minorias, com pessoas que têm esperança em um mundo melhor, um futuro menos nocivo, de pessoas livres para serem o que quiserem ser, como quiserem ser.

Gabiru - Free Verse

Acreditamos que o futuro depende das ações que fizemos no passado e estamos fazendo no presente. Assim, nossa música é uma mistura dos timbres eletrônicos com os tambores ancestrais brasileiros - misto constante de passado, presente e futuro. Nossa proposta busca trazer renovação para a música brasiliense e apresenta uma mistura rítmica de instrumentos feitos de sucata com instrumentos eletrônicos, convencionais e virtuais. Ao mostrar que a música pode ser feita e criada a partir de coisas e sons inimagináveis, fugindo do padrão tradicional de criação, a proposta dialoga com as equidades para a construção de novos futuros. Esperamos contribuir para uma Brasília mais acessível – musicalmente, economicamente e socialmente falando -, de maneira que os artistas vejam que é possível fazer música em suas casas, de forma prática, barata e, acima de tudo, com qualidade. Neste duo, Felipe Fiúza e Henrique Alvim realizam uma performance de live loop, onde a música é gravada ao vivo, utilizando elementos como programação, automação, robótica, reciclagem de materiais de sucata e uso de samples.

Duo Fiúza e Alvim - BSB2060

A música "DF-2060", levanta a discussão de como a pobreza e a periferia são, muitas das vezes, romantizadas pela mídia, novelas, pessoas desinformadas, pela TV e outros meios em geral. Levanta discussões de "Como se igualar, sem equidade?", da importância do diálogo, do respeito e da empatia. Além de convocar para a tomada de ação, pensando que juntos caminharmos para uma cidade/povo melhor, que respeita as diferenças e dialoga com todas as tribos. "Fraternidade, Equidade, Dignidade, RESPEITO!"

BSB2060

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