“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.” 
Esta frase é de Brecht, poeta e dramaturgo alemão. Brecht morreu em 1956, e esta escrita é claramente uma metáfora. Quando Brecht fala de rio, não está a falar de um rio verdadeiro. Quando fala de um rio que tudo arrasta, quando fala de margens que comprimem o rio, quando fala de violência, de força e de compressão, mais depressa está a falar de política e de poder, do que de natureza, ou de mim. 
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Trecho da intervenção sonora de Sara Barros Leitão "Do rio que tudo arrasta", para a exposição de Samuel Ornelas - OS SAQUEADOS.

"Do rio que tudo arrasta" / intervenção sonora por Sara Barros Leitão

Com moderação da Socióloga Tânia Leão, nesta conversa (8 julho 2021)inserida na programação da Exposição OS SAQUEADOS na Casa Museu Júlio Dinis - Ovar, Sara Barros Leitão e Samuel Ornelas contextualizaram suas investigações para este projeto e suas analogias com seus trabalhos artísticos e interventivos. 

A arte é um importante gatilho de intervenção e expressão civil no combate e prevenção de cenários críticos. Qual a nossa responsabilidade pelas informações que transmitimos e qual a função da arte no panorama atual. Uma coisa é certa, a imagem e a palavra tem poder, e no que os dois expressam convocam justiça e liberdade.

Conversa / "Liberdade Ainda Que Tardia" / Tânia Leão, Sara Barros Leitão e Samuel Ornelas

... aprendi a gostar mais ainda do lugar onde nasci e saber que não existe apenas uma pátria suficiente para os pés das pessoas e podemos gostar de ambas e de todas com o mesmo carinho, porque a única fronteira realmente que as separa é o Mar. Muita gente como meu pai, como eu, atravessa-o de maneiras e propósitos diferentes, alguns em desespero por já não terem uma história tão bonita a contar de onde embarcam, muitas não chegam nem para contar suas histórias, muitas desaparecem mesmo, bem na nossa frente, mesmo na nossa frente, e como naquele país ao qual falei que abri os olhos pela primeira vez, percebi que fechava-os também para viver diariamente esquecendo o fato que as pessoas continuam e continuariam a afogar-se ...

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Trecho do texto sonoro para o projeto "leva-me este recado ao cais" 
( travessias migratórias )
Xilogravuras, desenhos e texto / Samuel Ornelas
Performance, interpretação e voz / Dóris Marcos

"leva-me este recado ao cais" / texto sonoro por Dóris Marcos e Samuel Ornelas

Trecho da carta "Travessia - As tempestades não pertencem ao mar porque passam-se pela superfície"

Por Samuel Ornelas / Livro do mestrado Sob O Som Das Gaivotas

... Sr. Esteves, num último encontro, antes de me despedir temporariamente deste lugar por onde estive durante dois anos a trabalhar, Michelet soprou que o oceano respira como eu, está de acordo com meu movimento interior, com o movimento das alturas. O que acontecerá quando a água, elemento não respirável voltar a nos asfixiar? Renasceremos? E assim será, enquanto existir mar, a convenção do começo de toda geografia terrestre.

Em Miramar, sobre areia ou pedra, proclamei o sentir de Mélanie de Salignac da vizinhança dos corpos pela ação do ar em minha face, de que o que cessa de aparecer não cessa de existir e a minha mão tornar-se-ia para mim um espelho sensível. Diderot relatou por ela e por mim que só a experiência nos ensina a comparar as sensações com que as provoca.

E, especialmente para os marinheiros na superfície da água, o farol visto do mar é a última luz que pode salvar a pintura de suas vidas. O Farol e a Capela, a Pedra e o Senhor da Pedra. As visitas, o recolhimento, as conversas de nós em um altar olhando uma vida sem fim. Somos nós Deuses? ...

"Sob O Som Das Gaivotas" / sonoplastia por Rapha L.

Sonoplastia para o projeto VIGÓRA
Livro de Artista - 10 litografias 3x cores
Edição 10 únicos exemplares

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Samuel Ornelas - litografias, projeto gráfico, voz
Tomás Dias - impressão, montagem, acabamentos
João Carvalho - sonoplastia

SAMUEL ORNELAS

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