essa moça
quaresma

- rapaz, o que é isso que essa moça sem querer me traz? 
eu fico invocado como sua presença me apraz
e plenamente preenche-me de paz
- rapaz, eu preciso que essa moça saiba: eu sou capaz 
de me submeter ao ridículo de ir aos jornais 
e declarar essa paixão que não abarco mais
eu que não sou de espalhafatos e alardes
não posso conter tamanha solidão que me arde
não tê-la parte meu coração e isso dá na vista
admirá-la já é razão pra que eu exista
...comprei pra ela um vestido florado e enfeitado com uma fita brilhosa...

10. essa moça

pelos pátios partidos em festa
thiago e | quaresma

eu tenho pra mim que aquele amor não era só pra dizer (era nada) 
eu tenho pra mim que aquele amor não era só pra dizer (não tem nem rumo) 

tu trazias pássaros entre os dedos 
tu regias o fogo fantástico da constelação
tu brincavas com dez sóis desafinado os eclipses das almas alheias
pelos pátios partidos em festa
tu abrias o sonho louco do querer em excesso 
tu puxavas um armário aberto balançando um lençol azul
tu cantavas docemente do meio do vento 
e todo momento é uma maravilha
pelos pátios partidos em festa
tu sopravas a vida pulsando belamente 
tu andavas pela cidade e os amantes
éramos um filme de cores antigas e fortes
tu erguias a gambiarra acústica do coração
pelos pátios partidos em festa

9. pelos pátios partidos em festa

amorlâmpago
thiago e

o amor é feito de relâmpagos arremessados no escuro. o amor é feito de relâmpagos, de um clarão absurdo. o amor é um mar que não tem fim. e dentro do mar cabe tudo: o riso a dor o filme a cor um balé um jardim silêncio tambor o soco a flor o começo e o fim. o mar só fala de boca cheia. e faz chover pra fazer o mar só falar de boca cheia. e vai chover. e vai chover. o amor é feito de relâmpagos inventados na escuridão. o amor é feito de relâmpagos no barulho forte do trovão.


8. amorlâmpago

superbonder (um hino para a pós-modernidade)
thiago e

tudo que era sólido desmanchou-se no ar 
marx ninguém poderia antever 
o antídoto para a pós-modernidade 

lá vem da esquina, da quitanda, ou do mercado, 
colorido caos pós-moderno de uma civilização. 
e a gente grita: super! super! superbonder! 
e no mundo não há mais separação. 

fractal metamórfico barbitúrico colossal 
pórtico liso erudito transformusculacional. 

que cola tudo: o chão rachado do sertão, os cinco dedos da mão, as bolhinhas da água em ebulição, esse negócio de desconstrução nunca foi uma boa não. superbonder é um mutirão pela epopéia do unitário pra que tudo vire um num belo gozo sanitário, volte a terra pra pangea nesse ritual otário feito um santo salafrário. 

fractal metamórfico barbitúrico colossal 
pórtico liso erudito transformusculacional 

para o parafuso solto, superbonder! 
pra desunião mundial, superbonder! 
para os cacos de amor, superbonder! 
para o big-bang-pós-modernidade, superbonder! 

ah! houve um lindo casamento. o casal não gastou com alianças e, na hora do sim, o padre os aproximou e passou superbonder nos dois. os dois à milanesa no superbonder. os dois num rocambole de superbonder. os dois num banho-maria de superbonder. ah! e os convidados? os convidados não tinham arroz e xiringavam superbonder no casal apaixonado. ah! e a lua-de-mel? uma lua-de-mel seria floriescorregadia e o casal então teve uma lua-de-superbonder. hoje os dois vivem juntinhos até que a morte os separe. 

fractal metamórfico barbitúrico colossal 
pórtico liso erudito transformusculacional 

ei, mãe! ei, mãe! será que o superbonder foi inventado pelo mesmo laboratório norte americano e imperialista onde foi criada a gripe do frango ou, quiçá, a aids? ei mãe! quando eu crescer, eu quero ser o jorge mautner! ei mãe, eu quero ser o jorge mautner! “ei mãe...” [voz do menino fugindo da mãe dele pra não levar um pisa]


7. superbonder (um hino para a pós-modernidade)

meu bem nem venha
quaresma

- ah! assim é fácil: você apronta e pronto é só dizer foi mal. cansei de falar falou e te ouvir dizer valeu. com tanta queda, por que você não cai a real? aquela razão que eu lhe dei você deu fim, perdeu aquela fé que só eu tinha em você. de sua culpa sempre sobra um pouco pra mim. me diga: quando mesmo é que você vai crescer? meu bem, meu bem, nem venha! a vida não dá mole pra seu ninga! meu bem, meu bem, nem venha! se liga na parada ou a chance míngua! se acha no direito de ficar de mal e jururu faz bico, diz que o mundo é cruel. tem sempre um álibi novo e etc e tal... o meu estoque de paciência foi pro beleléu. desculpas tem a preço de banana. diga logo: quantas segundas chances você quer? tudo bem que perfeição não é humana, mas não permaneça nessa de esperar algo do céu. meu bem, meu bem, nem venha! a vida não dá mole pra seu ninga! meu bem, meu bem, nem venha! se liga na parada ou a chance míngua.


6. meu bem, nem venha

podes crer na dúvida
quaresma

sei lá. o homem à imagem de deus - as semelhanças param por aí. sei lá. só sei que nasce nesse mesmo homem a necessidade de saber de seu surgir. quem foi que inventou o antes?! quem foi que fez o nada?! que deu sabedoria a quem pudesse duvidar?! ninguém é um ser acabado que num momento dado não sinta falta de alguém que venha completá-lo. será que as estrelas são goteiras do telhado de deus?! porque sei que as goteiras são estrelas do telhado meu. por que não duvidar daquilo que se pensa crer?! por que não acreditar naquilo que não se pode ver?!


5. podes crer na dúvida

céu %
thiago e / quaresma

o céu se brilha azul se mostra nu abraça grande e é muito alto. o céu se vê daqui se ouve aqui com qualquer nuvem pinta quadros. pra dançar no céu não precisa de um som que pensa. todo corpo nasce nuvem do ovo pra voar com consistência. o céu se biblioteca se orquestra se floresta se agora. o céu se automóvel se avião se cidade se pra fora. o céu é maior do que qualquer coisa de qualquer lugar. o céu é mais quando a gente começa a namorar. antena de tv cabelo prédio dedo aponta para o céu. só um beijo amassa o céu. a gente tem um céu dentro do peito e chama de coração. o céu é massa. céu por cento.


4. céu %

junto
thiago e

a gente junto é muito bonito. é assim uma borboleta voando pela rua quando tá ventando. a gente junto é muito bonito e o amor sai com a gente de bicicleta só pra passear. o nosso abraço levado nas asas do cometa noturno faz colorir o mundo e as fábrica funcionar. felicidade por segundo um batuque vagabundo e belo que faz sorrir. até chorar.


3. junto

ela é 
quaresma

lá vem ela. já se ouve seu perfume despertar nos falares tácteis maliciosa lábia salientes manifestações. ela finge nem ligar mas todo mundo sabe que ela gosta e faz questão de acender o fogo alheio e some sem grandes preocupações. se ela passa logo capta toda atenção pra si. a sua aparição invade todo ambiente e nem um ser sequer ousa andar pela calçada da indiferença. pra quê tanta lindeza num ser só?! não sei mas assim o mundo fica pior. isso ainda vai dar um dia motivo pra um manifesto contra a má distribuição da beleza. ela só quer ser mas o pior é que ela é. lá vai ela já se vê uma saudade perturbar e nos olhares taciturnos o principiar de confabulações. sei que ela vai voltar porque ela adora aparecer e a cada nova aparição renova minha desilusão de absorvê-la em sua proporções. quando ela some deixa o ar impregnado de toda sorte de desejo. a sua presença não permite outro assunto e a sua ausência por seu turno teima em não mudar o tom da prosa. pra quê tanta lindeza num ser só?! não sei mas assim o mundo fica pior. isso ainda vai dar um dia motivo pra um manifesto contra a má distribuição da beleza. ela só quer ser mas o pior é que ela é.


2. ela é

mundo multidão mil
thiago e / quaresma

muito móveis, muitas pessoas 
inexplicavelmente bailarinas num trovão de cores
planetariamente galáxias de um mundo só

muito móveis, muitas pessoas 
bárbaros mosaicos de flor boca pele e céu 
borboletografia de flashes, vivem pra inventar 

a dança o vídeo o beijo a diferença 
a roupa o corpo a instalação 
copo de leite o momento 
a parabólica a construção
os movimentos vários das culturas 
porque deus é movimento e mistura 
os movimentos vários das culturas 
porque deus é movimento e mistura 

zen budista muçulmano rastafári 
o punk o hippie o anarquista 
um orixá pop se conecta à world wide web 
o ruim e o máximo em expansão 
um brilho cosmos no vão

pessoas mundo multidão mil 
pessoas flashes de invenção 
pessoas mundo multidão mil 
pessoas mapas em explosão 
pessoas mundo multidão mil pessoas


1. mundo multidão mil

Validuaté é uma banda de Teresina. Mistura rock com outros gêneros musicais. Em 10 anos de carreira, lançou os álbuns Pelos Pátios Partidos em Festa (2007), Alegria Girar (2009), Este Lado Para Cima (2013) e o DVD Validuaté (2015). 

É formada por Quaresma (voz), Thiago E (cavaquinho, pandeiro), Vazin (guitarra), Jr. Caixão (guitarra), Davi Scooby (baixo), John Well (bateria)

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Validuaté

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