A Kimbanda, enquanto culto independente, possui uma história pouco definida. Sabemos que Umbanda é uma palavra que ocorre no umbundu e quimbundo, línguas bantu, dizendo respeito a magia e ao curandeirismo entre os grupos étnicos falantes dessas línguas. No umbundu, o curandeiro é chamado 'imbanda', cujo plural é 'kimbanda'. No Brasil, parece que Kimbanda costuma referir-se a um culto afrorreligioso exclusivo para manifestação de Exus, Pombojilas, e outras entidades vinculadas ao 'povo de esquerda' na Umbanda. Nessas cantigas, inspiradas pela presença do preto Zé Molambo, procuro recuperar um cancioneiro de Kimbanda que não a defina como um tipo de magia sei lei.

09 - Eu Sou Das Almas

05 - Galo Cego

04 - Galho Da Quaresmeira

03 - Flor De Santo Antônio

02 - Kimbanda Quem É Que Te Trouxe

01 - Tem Fundanga No Caminho

É incrível o carinho que muitos umbandistas tem com a linha de malandro, não só na figura do Zé mais famoso dos terreiros, mas também de outros tantos falangeiros que dão graça e beleza a essa banda. Quantos filhos de pemba não tem uma história com malandro? É livração de perrengue, conselho bem dado, consolo fraterno. É uma linha que gosta de correr ao  lado de todo mundo, entende a fundura da dor e a maresia do riso. Temos muito que aprender com essa gente, né? Camisa Preta chegou por aqui a pouco tempo, e é ainda arredio, mas deixa cá e ali uma zuela pra eu chamar por ele e seus camaradas. Conhecer a cantiga de um guia é coisa preciosa, é como uma licença pra entrever a intimidade do axé de cada um. É uma honra. Enfim, nessa brincadeira de meio compor e meio intuir, procurei pintar nessas cantigas as paisagens que permeiam o universo da malandragem - De um lado, a boemia, o morro, o carteado, o samba e a capoeira; do outro, o cais, o porto e a maré cheia em ponta de lua. Em verdade, se é costume associar os malandros a Ogum e Exu, existe uma ponte encantada entre mar e malandragem que nos falta conhecer melhor. Peço desculpa pelos desafinos, ruídos, e pela captação ruim do toque. Mas tem um pedaço grande do meu coração nessas cantigas.

Ponto De Malandra Do Cabaré

Ponto De Maria Navalha Do Cais

Ponto De Zé Pelintra Da Lapa

Ponto De Malandro Camisa Preta (Ás De Espada No Bolso)

Deixa a luz da casa acesa

Cantiga autoral de chamada para Exu Rei do Cemitério.

Pombinha Branca

Esta playlist marca um dos primeiros registros que compartilhei nesta plataforma. Ao republicá-la após alguns anos, realizei pequenos ajustes nos áudios, mantendo seu caráter caseiro, como de costume. Algumas faixas foram excluídas, pois pretendo regravá-las e organizá-las em uma futura playlist, ou se não, porque perderam sentido. São canções que não entoo com frequência atualmente, e reconheço que algumas letras poderiam ser ajustadas de acordo com meu presente. No entanto, guardo com carinho esses momentos, pois representam o início da minha incursão na composição de curimbas e também minha conexão com dona Sá Rainha. Esta playlist é uma memória que merece ser preservada.

Renda Da Noite

Bem Me Quer

Missa No Cabaré

Onde Ela Passa

MInha Porteira, Tua Porteira

Vestidinho De Sinhá

Se A Calunga Tem Um Rei

Eu Vi Sá Rainha

Quero Ver Lua Vermelha

No meio da encruzilhada um buraco se abriu x2
Olha lá menina linda,
Olha lá Exu Mirim x2

Oi toma conta, 
Oi presta conta x2

No romper da meia-noite
Tem criança andando só x2

Ponto De Chamada De Exu E Pombagira Mirim

Onze horas numa esquina
Bem de frente pra capela
Tem um moleque pequeno
Tomando conta da cancela,

Bate o sino a meia-noite,
O moleque pula e berra,
Vai chamar todos seus mano,
Meus maninhos vamos nessa (x2)

Já deu belém, blém, blém,
Já deu belém, blém, blóm x2

Ponto De Chamada De Exu Mirim #1

No portão do cemitério
Tem um moleque pendurado x2
Ele é pequeno da calunga,
É sentinela do diabo x2

Ponto De Exu Mirim Da Calunga

Os pontos reunidos nessa playlist são autorais, dedicados as falanges de marinheiro na Umbanda, em especial a do Capitão Manoel, meu companheiro de coroa. Contudo, os pontos podem ser tocados nas enjiras conforme interesse do curimbeiro. A finalidade das gravações é de manter as letras e melodias registradas, por isso, peço perdão pela qualidade do áudio, e pelos deslizes no toque e na voz. A parte disso, axé pra quem quiser ouvir essas cantigas, e agradeço de já a generosidade. Oxalá dê benção a nossa banda!

Ponto De Marinheiro Na Vibração De São Jorge

Nessa playlist compartilho os pontos de malandro que compus no dia a dia de terreiro. Em especial, pontos de Zé Pretinho, malandro da minha coroa. Quem achar conveniente o uso desses pontos e zuelas nas casas de trabalho, fique a vontade. Axé!

Ponto De Chamada De Malandro

Ponto De Malandro #3

Ponto De Malandro #4

Ponto De Zé Pretinho

Na umbanda, as festas de Iemanjá contam sempre com o atendimento dos marinheiros, falanges à direita da pemba que trabalham na força da mãe d’água. Contudo, não é só da camaradagem e do balanço da marujada que é feita as linhas de trabalho de Janaína. Às vezes se manifestam exus de banda cruzada, que pisam na linha de ganga e na linha das águas. São os exus de iemanjá, a corja, a negrada do mar, a matula, a campagada, os piratas. Para os médiuns que os recebem, de primeira, são tão pesados quanto um preto-velho, ficam arcados, pisam mais firme que um marinheiro, sem que a tontura e a sensação de maresia escape ao transe. Com o tempo, conforme a corrente mediúnica se adapta à essas falanges, as manifestações ficam mais espontâneas e leves, e apesar de serem entidades pesadas e graves, vide o lugar de origem, logo ganham a confiança e o carinho dos cambones e assistidos. Quanto ao trabalho, desfazem aquilo que ao invés de enterrado, foi submergido, e socorrem as almas naufragadas juntos da marujada.

Ponto De Firmeza De Exu Do Mar 1

Ponto De Chamada Das Falanges De Pirata 2

Ponto De Chamada Das Falanges De Pirata 1

Uma das linhas de trabalho mais populares e representativas da Umbanda é a linha das crianças/Erês/Ibejada. Junto com os caboclos e pretos-velhos, as crianças pertencem à tríade que está na raiz das manifestações espirituais na Umbanda, e para boa parte dos terreiros, é uma das linhas mais importantes e poderosas da religião. O Erê é a boca do Orixá, é o Erê que orienta as chefias de terreiro sobre o que deve e não deve ser feito, em acordo com a vontade do Santo da casa. Contudo, ainda que tenha sua importância respeitada, muitas ‘umbandas’ se confundem ao tentar definir ou trabalhar com a ibejada, visto que são crianças; e diferentes doutrinas umbandistas tentaram lidar com esse estranhamento por variadas justificativas. Por exemplo, algumas vão afirmar que Erês são espíritos velhos plasmados em criança, ou que são encantados (nunca viveram na Terra), ou que até são crianças de fato, mas que por isso, não dão consulta e não podem fazer trabalho, feitiço, magia. Mas aí aparecem os Mirins, Erês de banda virada, do boné pra trás, e são tão mirongueiros quanto qualquer entidade de quimbanda. A confusão segue com o famoso sincretismo entre os Ibejis e São Cosme e São Damião (somado ao folclórico Doum), ou mesmo com Crispim e Crispiniano. Mas à parte do imbróglio histórico do sincretismo tradicional brasileiro, e particularmente umbandista (hoje na prática os elementos sincréticos são mais fato folclórico que ritual, pois se assume com segurança que santo é santo e orixá é orixá), um cangerê de criança é uma festa que desperta as coisas mais bonitas em praticantes e consulentes.

Ponto De Chamada De Erê (Ô Cosme, Ô Cosme, Vá Chamar Damião...)

A presença do povo cigano ainda é recente na Umbanda. Seu lugar como linha de trabalho específica, ou parte da difusa linha do Oriente, é frágil. O imaginário que dá forma ao arquétipo do Cigano nas manifestações de Umbanda é geralmente o do Calón espanhol, colorido, festivo, viajante, e que sempre foi o grupo mais presente no Brasil, mesmo que em condições nada festivas de existência. Contudo, percebe-se nas manifestações mais independentes das caricaturas que frequentam o imaginário de um médium iniciante, ciganos mais condizentes com a diversidade que caracteriza esse povo, desde o cigano sertanejo, cristão devoto de Nossa Senhora Aparecida, ao Rom dos países balcânicos, e aos ciganos primitivos de traços indianos e/ou arábicos. Tamanha diversidade, contudo, certamente levará tempo pra ser amplamente reconhecida e acolhida no circuito ritual das umbandas. E se hoje a presença dessa linha causa estranhamento nos terreiros de corte mais tradicional, em verdade não a nada a se estranhar na acolhida desse arquétipo pela Umbanda. Tendo no centro do seu ritual a manifestação de espíritos que em vida pertenceram a extratos sociais malquistos, o Cigano lhe cabe. Data do século 13 o primeiro documento a se referir aos ciganos de forma pejorativa. No holocausto, metade da população cigana foi morta, e até hoje, seu trânsito em alguns países é vetado. É famoso o mito que atribui há um cigano a forja dos pregos que prenderam Jesus ao madeiro, e que consequência disso é a penúria que boa parte desse povo vive, seja na Europa ou na América. Com isso, a presença do povo cigano na Umbanda é oportunidade excelente de desfazer esse imaginário diabólico, visto que todos os povos de Umbanda são povos de Cristo, e tem dele a benção e a licença pra corre gira no mundo. Nessas zuelas, então, minha homenagem à essa gente que admiro tanto, em especial, ao meu compare de Ori, Ramirez.

Ponto De Chegada De Cigano (ô Abre A Tenda...)

Ponto De Chamada De Cigano (ô Quem Vem Lá...)

Ponto De Chamada De Cigano (uma Carroça Encostou No Meu Terreiro...)

Na Romaria Eu Vi João Romeiro

Vou Deixar O Meu Gado Dormindo

Toada De Boiadeiro Velho

05 - Obaluaê (santo Peregrino)

Algumas playlists ficarão indisponíveis por um tempo, para reorganização e regravação das mesmas.

Willians Matos

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