João Bernardo cita o I Ching na sua música Planeta Casa 17, uma ode a sua companheira, onde diz "Governar é servir". Tal frase muito me intrigou e instigou. Ora compreendendo - a totalmente, ora o sentido me fugindo... Isso foi a alguns anos, quando entrei em contato com a sua música. De lá para cá, a frase foi fazendo cada vez mais sentido. Quando olho o compositor João, como um artesão, sem pressa, urdindo a sua obra, sem a urgência de fazer um público, ciente de que um público o encontrará, o que vem acontecendo; quando vejo o João trazendo mais uma canção, sempre nova e sempre com a sua assinatura particularíssima; quando o vejo anotando uma ideia, uma frase, num guardanapo ou gravando num celular, vejo ali um artista que se entrega, não porque queira, talvez até não queira!, mas porque é assim que se dá a sua vida, é assim que ele se redime da pequenez humana, do cotidiano labiríntico, das perguntas sem resposta. João Bernardo, pergunte para qualquer parceiro seu, na hora de fazer uma canção, fica totalmente disponível a ela, a canção é a própria vida acontecendo ali, se tocar uma buzina na hora, capaz dela entrar na composição.

Governar é servir. Sim, ele serve a música e a música o salva. Do que? Dos demônios e sombras que os poetas veem ou inventam. Vai saber! Suas músicas estão cheias de poesia. Não é que João use a música de suporte para a poesia, senão seria só poeta. Mas sem a poesia, ele seria só mais um compositor. Ou faria música de músico. Não é o caso, pois o público leigo, que não entende de música, vem se aproximando das suas. A prova disso é a sua música Queria me enjoar de você, que se tornou um web, com vários covers no youtube e já embalou casamento, formatura, pedido de noivado... o mesmo vem acontecendo com outra canção sua, Amor amora. Alguns títulos de suas canções deixam claro o seu trabalho com a palavra: Ilusão de ética, Eu tenho uma reputação a lesar, Sereia movediça, 9 da tarde, Hoje só volto amanhã e por aí vai.  As melodias remetem ao cancioneiro brasileiro. Melodias de samba, marchinha e frevo, por exemplo, se juntam a evidente influência do rock, do reggae, do pop e dos onipresentes The Beatles, uma de suas maiores paixões, junto com Caymmi, Jobim, Gil, Caetano, Chico, Djavan...

Mineiro de Belo Horizonte, radicado no Rio de Janeiro há dez anos, já gravou três discos, sendo o último com a banda Dinda, o ótimo “Ano que vem eu vou ser na avenida o palhaço que eu fui na sua vida”. No momento está produzindo seu quarto apanhado de canções que deverá ser lançado em maio de 2013.


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