Pedrão

O corpo Diz 
(Martins)

Produzido por Rodrigo Samico e Rogério Samico
Arranjo coletivo pelos músicos:

Thiago Martins - Voz e rabeca
Rodrigo Samico – Guitarras, violões, baixo e violas de 10 cordas
Ju Valença – Mineiro e efeitos
Rodrigo Felix  - Tambor, Conga, Derbake e feitos
Rogério Samico – vocal e efeitos

Gravado por Rodrigo Samico e Rogério Samico 
Mixado e masterizado por Rogério Samico


O Corpo Diz

Tereza deitada na calçada 
Na frente da porta da Caixa 
Não tem faixa 
Nem nada 

Tereza de lençol fino 
Não serve pra muito coisa 
No frio da madrugada
Mas é o que tem 
Pra quem não tem 
Nada 
É o que tem 
Pra quem não tem nada

Talvez outra pessoa Tereza, 
Pra se juntar e dividir o que não tem
Repartir o que não tem parte
Muito menos inteiro

Delirios de pedra
Nos morros de pedra
Acesa desde ontem 
Aqui mesmo em belo horizonte
Tereza gosta é de raça negra 
Canta pra lá e pra cá 
E é fã 
De noite de rua cheia,
Tereza está lá, 
Santa Tereza 
Deitada no divã 
Da calçada...


Santa Tereza

Para Débora  

A tua boca tem um segredo
Fale tudo, não tenha medo! 
Fale, que quero escutar
Vem aqui, deixa eu te olhar 

A língua passa por entre os medos 
Quente, arde, em desejo, 
Quando tudo pode em nós dois

Sei que sois agoniado 
Teu jeito destrambelhado 
Faz dos erros poesia 
Perco noite brinco dia 
E não aceito qualquer distância
Sou filho pequeno na infância 
Sorriso corrido neste rosto 
Beijando, bebendo teu gosto, 
Cantando teu amor
sou criança 

no vai e vem destas palavras,
Pisando com um pé e outro nas calçadas, 
A rua tem o cheiro que é o mesmo que o seu
Cheiro de vida, de quem nunca morreu 
Lavadeira que trabalha o dia inteiro 
E depois lavando lavanda no corpo faceiro 
Teu cheiro é de povo
Que nunca esqueceu 

Por isso tua boca não tem calmaria 
É pedra, pau, rebeldia 
É gente e mais gente cantando na praça 
- Abaixo os preços é de graça! 
Pra tudo que na cidade for mudança 
Não espera , eu sei, a esperança 
Chegar e bater nesta porta 
Da tua boca sou revolta 
de teu peito sou guerrilha 
tua rima no rádio de pilha 
noticiando nosso sexo no asfalto 
na frente de toda corporação da policia 
tomando de amor 
o país inteiro de assalto! 

A tua boca

A todos os Povos Indígenas 

tanto faz, como tanto fez 

tanto faz, como tanto fez 
se na primeira vez 
a corja suja e o português 
puxaram do chão um pano branco que cobria e descobriram que ali havia 
terra que homem branco não sabia 
e o homem branco inteligente como é 
disse logo que não queria saber da qual é 
nem em parcelas 
nem no cartão 
trago tudo aqui na minha mão 
o extermínio 
vamos dividir em sete vezes no pré-datado
mas terra, escute bem
à vista

tanto faz, como tanto fez 
se no livro de história 
a história é contada em português
e as palavras são bem branquinhas 
que nem aquele português 
seja na escola branca ou preta
tanto faz, como tanto fez

quinhentos e tantos anos depois 
o português é fazendeiro 
a embarcação é o estado brasileiro 
e com o trator do progresso 
mata índio aqui e ali
ninguém vê mais índio no brasil 
a não ser os filhos branquinhos da classe média 
na escola 
no dia 19 de abril 
lembra? 

você com o rostinho melado de tinta guache 
peninhas na cabeça 
preparando o disfarce 
mas essa carinha branquinha 
sem marcas na face 
não engana ninguém
viu, seu burguês? 
tanto faz, como tanto fez 

desce na bica 
na pica, se liga 
quadradinho de oito 
de doze, de quatro 
com a bunda pra fora rebolando 
ninguém se importa 
mas quando viu o índio pelado na porta 
pulou da cama como se sonha e disse: 
tape logo suas vergonhas

tanto faz tupã 
como tanto fez nhanderu 
kaiowá tupinambá xucuru 
xocó truká tukano 
olha só que engano 
esse livro de história 

olha lá! 

brasília virando aldeia 
takape burduna semeia 
uma flechinha certeira da mão do guerreiro 
e num instante de repente 
a flechinha faz um buraco no peito do presidente

e aí
tanto faz, como tanto fez 
se na primeira vez foi o português 
porque agora não adianta mais nada 
você viu, a esplanada? 
foi toda retomada
os ministros nem quiseram crer 
mas acreditem 
era o caboco no poder. 


Tanto faz como tanto fez

Último ato

para o último ato
darei o ultimato
fumarei o ultimo mato
do sumo do substrato 
quebrando contrato
rasgando retrato
na parede do quarto
nas costas do farto
teu corpo molhado
seu eira nem beira
subindo a ladeira
chamando meu nome
que por um instante
não sei mais qual é

teu nome é mulher
tua boca é errante
teu cheiro é mutante
e tu sabe o que quer

quer outra mulher
pra viver por toda vida
e se sentir perdida 
a cada passo que houver
que dar nessa estrada
cercada, farpada 
de tantas prisões
não são os leões
mas sim as tigresas
amando na sala 
em cima da mesa
em um ou dois colchões

é meu amigo
sem muito sermões
e sem lição de vida
o que se quer é estar perdida
na estrada da paixão
cantando uma música nunca feita
mas logo eleita 
como a melhor canção

amando e laçando
as pernas iguais
o lugar tanto faz
e seja onde quiser

rasgando a boca do fato
explodindo o artefato
na arte do ato
de amar 
a 
quem
se 
quer.

Último ato

Deuso Deusa

11 Vale Do Jucá

quantas horas
tic
de trabalho
tac 
quantas horas
trip
de trabalho
crack
quantas horas 
tive
de trabalho 
fraco
quantas horas 
esquina
de trabalho 
sina
de trabalho
quina
quanta buzina de hora 
quanta demora
quem sabe o preço, sabe? 
que sobe salame salada salsinha 
até a calcinha de menino de preço subiu
cê viu? 
subiu
cueca de menina também 
quer bermuda de marca, mas não tem 
novecentos reais sem desconto
quando junta tudo
pronto
não sobra nada 
a camisa fica toda amarrotada 

olhe 
esse negócio de cartão 
não dá certo não 
a gente compra
divide 
               divide 
vide
                      divide 
divide 
                      vide
       divide 

                e só dívida

ninguém divide com a gente
patrão divide com a gente? 
patrão fica com tudo
e a gente
é que se vire por aí 
pelo mundo.


Quantas horas?

Circular Movimento
(Thiago Martins/Gleison Nascimento)

Peito aberto ao próprio vento
Movimento
Circular movimento
Dança ao som dos rebentos
Branca a tez desse mar
Tanta coisa há pra pintar
Tanto som por compor
Cor de rosa furta cor.

Canto brisa, danças vento
Movimento
Ocular, monumento
Enfeitei de contentos
Contas pro teu colar
Concha e dor pra te adornar
Milimétrica dor
Cor de rosa furta cor

--

Marsa é:

Thiago Martins: Violão e Voz
Rodrigo Samico: Guitarra
Rogério Samico: Baixo e Teclados
Rodrigo Félix: Percussões
Carlos Amarelo: Bateria

Gravado no estúdio Carranca, em Janeiro de 2015, em Recife/PE.
Mixado e Masterizado por Rogério Samico.

Circular Movimento

Cd ADIEL LUNA E COCO CAMARÁ do poeta Adiel Luna.

O Coco Vai Começar

Festejo e Fé (Frederico Demarca e Marcelo Fedrá)

Juliana Linhares - Voz
Frederico Demarca - Violão
Rafael Lorga - Percussão
Marcelo Muller - Contrabaixo  
Joana Queiroz - Clarinete 
Jeferson Souza - Flauta

Arranjo - Luiz Potter

Festejo e Fé

07. Bongar - Acorda Maria

Deixa em paz quem quer amar (3:31)
BR-LGS-07-00011
Letra e Música: Wilson Freire 
Improviso: Mestre Galo Preto

Homem com homem
Não vira lobisomem 
Mulher com mulher
Não vira jacaré
Seja Maria, seja José
Cada um ama como quer

Jacaré é bicho d’água
Lobisomem é assombração 
Quando o bico homem ama
Não é nada disso não

Para que reprimir
Para que discriminar 
Seu eu amo, se tu amas
Deixa em paz quem quer amar

O amor é coisa séria
Amor vem do coração
Não importa qual o sexo
Amor faz a união

Improviso
Já disseram outrora 
Que Jesus abençoou 
Todo amor merece respeito
Eu respeito todo amor
Se o senhor ama a senhora
Se a senhora ama o senhor
Mas se ele quer amar ele
Deixa ele com o seu amor 

Não, não, não
Não vira lobisomem
Não, não, não
Não vira jacaré

Ficha Técnica

Voz: Mestre Galo Preto
Bombo: Alexandre L’Omi L’Odò 
Pandeiro: Rinaldo Aquino
Ganzá: Marcony Preto
Congas: Adriano Elias
Vocal: Dona Célia do Coco, Jaene, Sandrinha, Arlene, Adriano, Marcony, Alexandre L’Omi L’Odò, Rinaldo

O coco "Homem com Homem, Mulher com Mulher" de autoria do Mestre Galo Preto e Wilson Freire, traduz na linguagem tradicional da cultura de raiz a contemporânea discussão sobre a liberdade sexual humana, e os direitos à cidadania. Com criativa musicalidade, o Mestre Galo Preto improvisou grande parte deste coco, sendo registrado neste fonograma o espírito original da arte do Mestre, o repente.

A música faz parte do CD "Coquistas de Olinda Contra a Violência) 2007.

Alexandre L'Omi L'Odò.
Produção.
81. 8887-1496
Visite: www.myspace.com/mestregalopreto


Deixa em paz quem quer amar - Wilson Freire e Mestre Galo Preto

CD "Segura o Cordão" - Tiné (2004)

música e letra / music and lyrics: Tiné e Caçapa
arranjo / arrangement: Caçapa
produção musical / music producer: Caçapa

voz e pandeiro: Tiné
voz e violas dinâmicas de 10 cordas: Caçapa
coro e apitos: Nilton Jr.
flauta em sol e flauta baixo: Sérgio Campelo
violão baixo: Hugo Linns
guizos e maracas: Gilson Filho
bombo 12": Sid3

VENTO CORREDOR - Tiné e Caçapa (2004)

Regue-se - Lamartine Passos.
Ser Poeta - Antonio Marinho.


03 - Coracao de Poeta - Noe de Joh

Pedro Bomba (1989) é poeta e artista. Seus principais trabalhos são desenvolvidos a partir da palavra falada (spoken word) e da oralidade poética. Em 2015 iniciou pesquisa de experimentação em poesia sonora gravando o EP “Amor Coragem” e “A troco de nada e de ninguém” (2016) . É autor dos livros O chão dispõe a queda (2017), Extremamente barulhentos certos assuntos, por exemplo (2018) e Pra quem não sabia nadar (2019), Editora Castanha Mecânica. 
______

Quantas horas?

Pedro Bomba

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