Sei, eu aqui estou por Adão então
Não viro daqui sem refrão eu não
Eu almejo à gíria do pégaso
Nem tempo tenho de explicar decreto

Por ti arranjo canção, nem penso bro
Visto o vigor da translúcida vibração
5 mais 5 dá desamor
O pensamento antagónico

Eu já aqui estive há muito tempo
Não faço disto passatempo não
Além esconde o cerne da coisa em si
Estou-me nas tintas pra se li ou não li

Adão, mas por Adão mas porquê da flor
Antro de palmas a bater por essa dor
4, 3, 2, 1, zero
Eis que do segredo acelero

Sei, eu aqui estou pela minha vez
Não saio daqui sem por Hermes Três
Eu avanço em voo de um albatroz
Ai do que vem, eu acho que estamos sós

Urge da mania do ser como sou
Canto o vigor da funestíssima canção
7 – 2 dá-me um desconto
Pensamento xilofónico 
Eu estive cá desde ante o século
Não mande prosa pra o cubículo
Da coisa em si eu nunca vou esquecer
É pra viver a verdade até morrer

Ser ou não ser eis a questão, passo o xuto
Arma-se a velha a ver quem delas é mais bruto
5 emendas de S. Miguel
Comam à colherada o doce mel

Filho de Adão

05 Hierofante

Padirari bom partida portão da panóplia
Diru pa dom a ciência revira e me volta
Eu quero saber, mas para saber há um preço
Que é o de mergulhar em tudo o que não apeteço

A princípio vou levado da cova da vida
Eu unjo de roxo e fecho da trova a cortina
Transbordo da séptima no refrão da cortiça
E peço pra Deus trazer de si própria justiça

Eu escolho o segredo que justifica da causa
Eu abro do ventre, oh raios estou na menopausa
Eu livro da manha no cabaré do Amparo
Eu esqueço da ceita, às vezes até nem reparo

Eu espero na fila da sensação do negredo
Que a minha lição possa ter servido o enredo
Eis que se espuma na névoa do antepassado
O que é que acontece, eu viro o verso e trinta pago

Baralho do verso, vamos fazê-lo de novo
Da ligação tece o espírito ao cósmico ovo
Eu chamo o pastor e meto ordem no rebanho
Eu faço um pentagrama dos rebentos de estanho

Eu vos avisei que isto não fôra nunca fácil
Te lança da fonte e pena-te um pouco mais ágil
Eu te perguntei, tu percebeste dessa missa?
E tu me disseste com pontada de preguiça
O Louco projecta a baralhação do baralho
O Mago compensa no ganha-pão do retalho
A Sacerdotisa inventa de um era uma vez
A Imperatriz conclui-se da soma dos três

O Imperador atiça da chama o fervor
Levado do sério à sua musa menor
Bradamos um canto que a lição custa de ver
Mas mal acabando o sonho começa a verter

04 Imperador

Era uma vez da treva três demónios da canção
Cantavam sobre a estrela o rito da circuncisão
Da sombra invocam, banjo tocam sérios no dever
A cisma da circuncisão começa a escurecer

Do amor prazer se torna a haver jamais da transgressão
A multa cai pesada em demónios três da mão

Um deles corre a ceita a fundo urgindo por saber
E despe do umbral a cor do místico sorver
A gruta racha, o centro desvela como um trovão
A orla leva o ávido à Crística mansão

O corte da carcaça cobre as cartas do cantor
Ante Deus e seus anjos contenhamos do licor

Vivendo coisas do arco da velha pra esquecer
Rezando com desprezo, isto assim não pode ser
Do Bem se soube o Belo e desse se soube o Poder
Libertarmos da vida, isso não pode acontecer

A crença é escolha de quem por si próprio pensa à luz
Demoras no abismo, não compreendes da cruz

O demónio segreda uma sentença de feitiço
E faz de Cristo renascer perfeito aquele piço
E esfrega-lhe na cara que o que é bom é pra se ver
E que nada lhe custa do elogio verter

Esperneando contra a ira do homem ele cedeu
E suspirou de alívio do corte que ali se deu

02 Sacerdotisa

Adão eu cobiço
Não me quer crer da sentença do bispo
Na mão meto ouriço
Prende-se aos pentelhos, dói no piço

A caneta ganha ânimo
Da premissa desalinho
Devo a verdade ao bem do caminho
Vejo da porta a frincha e gatinho

Eu sou filho humano de Adão
Falácia, não faço questão
Deito pimenta no tacho de arroz
Perfumo a maravilha da sarcástica voz

E puxo da manilha o verbo
É preciso ter cérebro
Dez são destinos da purificação
22 os perigos da peregrinação

Não posso parar porque
Não sei que fazer eis que
Bate à porta do vento do mar
Bruta mania de tanto bradar

Parte a gema da clara
Sai-me sobra de esporra
Tu conheces nunca da precisão
Por que conquistar a divina da ascensão
E o para quê fica pra a história
Gravem-me na cachimónia
É Poeta Rei Filósofo
Dono da gíria que esconde o sarcófago

É pra deixar bem claro
Eu nem nisto reparo
Eu invoco Adão
Obrigado e adeusão

01 Mago

Adão quero conhecer
A vós, que me estão a ler
Não sei porquê, eu admito que não
Não faço nem a noção

Perante as gentes eu peco
Do sal ao bacalhau seco
Até me atrevo à tentação de quem
Sabe o Cristão muito bem

De Adão eu quero a sentença
Se foi cair na descrença
Se foi purgar-se da sombra latente
Ou se lhe haver ponto assente

Você me preste atenção
Que é também filho de Adão
Tu que escondes atrás da tua mãe
Vem ver da missa o que vem

Adão, mas quem foi Adão?
Revolvemos no refrão
Imaginamos de cor a cantar
E sentimento afectar

Porém da gíria do dom
Se vós sabeis o que é bom
Revistamos da palavra fatal
Seguindo a ritmo do Graal
Mas de Adão quero saber
Se bem me estão a entender
Avancemos lá que até já estou farto
Da bruta gíria que parto

Adão meu querido leitor
Apresento do favor
Ou não, não sei, vamos ver no que dá
O que é que o louco fará

00 Louco

Hoje acredita que tu és capaz
Vais enfrentar a Satanás
E purgar daquilo que sentes
Isto é corrido, cuida que a prosa não desmentes

Eu cismo à tentação do trovador
Canto o sagrado com fervor
E não imito a alegre casta

Eu devido por que perfaça o maior
Dos arranjos em dó menor
E sonho andar cheio da pasta
Mero signo da magnificência meu amor

Descanso não comparo com as três
Donas de casa dessa vez
Que queriam cantar-me a piroca

Lhes ensino da pujança do escritor
Engulo a sílaba com dor
E penetro em vossa fofoca
Alegria não cá canta em dó menor sabor

Eu insisto na escritura do além
Baixa da tola que aí vem
Levanta a lebre em voo lúdico



E o falcão desventra o cisne com prazer
O ganso torna-se a gemer
E o Homem corta o pêlo púbico
Conquistei do Pai favor

Durante anos preparei-me para o rap
Comprei dos saldos este cap
Meti pimenta na prosa e a flor nasceu

Devotei à conquista
Fera ardente atrás da pista do sabor
Parando pra atear a chama
Segredo disto pareceu

Meto debaixo da cama do medo
Urjo a magia em segredo
Eu espanto a Besta em qualquer passo

Derrubo a instituição da moda
Cantem-me isto ou não, sa foda
Tu vais ter que gramar, final do tempo
Arruma puto o passatempo

15 Diabo

Eu derivei-te
Da missa pura de leite
Meti na mudança da sexta
E colhi os frutos do cabaz na cesta

Bruto de engenho
Que a demonstrar às Tágides tenho
Devoro a sentença do verso
E estimo a profissão que traz do progresso

Eu durante anos
Andei a sacudir os panos
De mãos dadas ao meu hermano
Não sei como é que acabei de flow insano

Cresci deveras
Atirei do medo às feras
E pedi a Deus que me acuda
Ele lança do reverso tremenda de ajuda

Falo barato
Não tenho estofo pra o desacato
Eu peço ao irmão que resolva
Ele mostra-me o rap a cantar sobre a vulva

Demónio cento
Que a letra atiça o meu tormento
Eu navego a gíria da coisa
E de repente o verso passa a partir loiça
Chamo a cachopa
O tropa da Torre ainda me topa
E ponho-me a dizer de graças 
Pra não vir queixando de minhas desgraças

Purga da noite
A minha infância dada que foi-te 
Agora vamos ao meu desejo
Quem é da coisa boa que eu tanto cortejo

Eva gostosa
Não seja assim tão teimosa
Detesta-me como dantes
E faz da manilha cantar das restantes

Luxúria acusa
Do verso até me dá tusa
Eu tiro os testes da Sorte
E movo ao abismo da trânsmigra Morte

Eu desespero 
De amor do que da Rosa espero
E sai-me a curtição da manobra
Que a bruxa não é bem vinda nesta ‘nha obra

Meto no Carro
Acelero o mantra ao catarro
Da pasta cheio de sonho
Batendo com Lúcifer desse medronho
Eu num instante
Desventro a manilha da estante
E dou-te da dica que escutas
E não gastei cêntimo nenhum das putas

Eu desapego
Passo de unicórnio a borrego
Caminho entre a gíria do creme
A barriga gorda do gato já geme

Eu com efeito
Nunca busquei tesouro perfeito
E nutro estar grato por tudo
Eu marcho em sentido desse corpo ossudo

Eu nem despeço
Tu gira o disco que te apeteço
Ai bruta mania do moço
Que liberta o preso de seu calabouço

21 Universo

Limpo a caneta
Preparo pra tornar um profeta
Anuncio a chegada de Hórus
Canalizo a sentença da ponta dos poros

Faz o que entendes 
Lança ao abismo e busca os duendes
Canta o que te apetece do ventre
Ligação com o espírito Akáshico entre

Produz receita
Os Deuses querem ver obra feita
Mentaliza que não há pecado
Toda a via é potência do bradar do fado

Unge a manilha
Prediz cócega daquela urtiga
Te experimenta da cova da prenha
Passa à frente da fila sem tirar da senha

Curva-te aos poucos
À quezília do mundo dos loucos
Vem de missa travada de dentro
E lhes dita das contas que cabem ao centro

Joga da bola
Faltas um dia destes à escola
E recrias todo o teu feito
Não te preocupa não se sair imperfeito
Baralha a coisa 
Espera um quitos que a musa te poisa
Quero saber se tu estás pronto
Pra lutar contra a maldade do confronto

Levanta, Deva
Isto gravado que deva
Eu desatino da piça
E estrago da manilha o papel da cortiça

20 Aeon

Baixa o tom, eu falo primeiro
Era uma miúda no recreio
Estava a brincar com seus botões
Desligada de suas razões

Oito resmas pra preencher
Do que mais possa a musa haver
Miúda, purga da tua vez
Ensina da soma dos três

De onde dói é de onde há valor
De onde habita a seiscenta cor
Devas, vem-te, e cospe à racha
Que o partido não paga taxa

Sente, pensa e repetiu
Cabal crença a que assentiu
Faz-te um homem ou uma mulher
Faça-se o que você quiser

Bruta miúda que concebeu
Bruta gíria que intrometeu 
Sagaz rima da supressão
Vulgar estima da tentação

Eu não sei que dela fazer
Mete-lhe um beat por trás sem ver
Dança o flow da condessa atroz
E dispara da sombra a voz
Escura púrpura do recreio
Desalinhas do vão anseio
Empresta-me a tua tesão
Desatinas do meu refrão

Desafio a melhor fazer
Desando que tenho comer
Vagando de feliz passeio
Desapego do devaneio

08 Ajustamento

Parte-me o coração agreste flor
Apetece canção de amor
Atende de mim Deus
Que a cisma corre aos Céus

Eu vou-te relembrar que peste for
Pra não mais macular esta dor
Porque o vão desamor
Não me assiste da cor

Posso não ter razão mas canto
Da alegre decisão, que espanto
Será que te abusei?
Só sei que nada sei

Atrevo-me de cor e pálido
A buscar do cantor o phalo
À conquista de amor
Domando do fervor

Sei da criação Deus curvar-se
E a um de filhos seus prostrar-se 
Como que anima o rodeio
E na sombra põe freio

Bruta mão de tigela desvenda
Em Adão a costela faz fenda
E da magia então
Nasce Eva no refrão
Eva esconde da dor, segura
Que o caminho de amor perdura
Eva estuda da ceita
Acha dela imperfeita

Ela deita por baixo da manta
Toca no contrabaixo que espanta
Eva duro dever
Que Adão soube merecer

03 Imperatriz

Eu estou doente
Premissa não há que contente
Eu desventro a manilha da copa
E desvendo o segredo tu tropa me topa

Porque construo
Se no final Torre destruo
Eu pergunto da minha certeza
E te estalo na cara, ‘tás de piça tesa

O Hierofante
Já vinha a respeito perante
A purga do segredo no cio
A trova lhe transbordou como que de rodopio

Vendo da bola
Quem faltou à trova da escola?
Eu passo a chama do candelabro
E da destreza mitigando as portas abro

Bruto gorila
Ai mania da asneira que fi-la
Então quanto falta da prece
Perguntam as gentes que a trova apetece

Cala-me a boca
E na ponta da piça me toca
Tu te engraças da sombra da coisa
E começas-me a bater que a tusa não poisa
Branco sagrado
Deliberado pelas ordens do fado
Aquela Torre sofreu de raio
E não brinca que aqui não papagaio

Eles mereceram
Da justiça divina conceberam
Tem cuidado como te exaltas
Cai fundo quem leva expectativas altas

16 Torre

Maculo o caderno do sagrado
O tempo pára do pecado
Dos vinte cêntimos café está pago
Onde é que eu da dor afago?

Demora a estalar a truta do pavão engenho
Tenho cuidado com o leitor prenho
Acendo as arfantes do abismo trinta
Reduzo da ceita a pó de tinta

É espetacular, não diga que não
Sem barafustar, eis questão
O esquadro para que é que serve aqui?
Pra notar das rondas que medi

E eu passo muito tempo neste cio
Faço questão, calo do pio
Quem vem, quem vem eu vejo vir a vir
É coisa de coração partir

As três cuecas de alfinete cruz
As tretas que a tragédia luz
E eu fico ali especado a ver de frente
Como que um puto contente

E é estranho como o amor se perfaz
É preciso ser-se mordaz
E as tréguas com a minha proporção
Se alcançam da flor de um dom
Eu canso mas não paro pra esquecer
Eu danço, pois me querem ver
Eu farto até da rima com pavão
O verso ‘tá rezingão

As trevas não, aqui eu não bradei
Pra quem foi isto só eu sei
Eu canto tudo de novo outra vez 
E acendo dos meus porquês

06 Enamorados

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