"Gostaria tanto
 Que os meus hormônios 
 Pudessem sentir o espírito santo"

Ei, mãe
O meu céu tá tão cinza
E ainda
que venha o sol

Mas sabe, mãe
Olha só eu queria 
achar o sentido da vida
sem me matar

Mas corre mãe
Já é hora da missa
insista 
ao seu belo senhor 

Mas sabe, mãe
Olha só quem diria 
Que Deus te daria um filho 
Tão triste assim, assim

Parado na frente do carro
Eu escuto a buzina
E um grito que diz, ai meu Deus
você tem que ir pra clínica

Flutuo pelas cores da rua
Repletas de melalina
E eu sei que nunca vão tingir
minha pele albina 

De dor!

E mãe há mais coisas
no céu e na terra
do que sonha a puta tão maquiavélica 
da nossa filosofia

E vê se não corre 
tanto assim com o carro
você não tá vendo 
o sinal tá fechado

Fechado pra minha alegria! 

Qual o nome dele?
O RG por favor,
Só aguardar 

Doutor, olha só
Essa dor tá tão viva ainda
Preciso que a sua caneta 
me dê dopamina

Algum remédio pra amar
Outro remédio pra não ver
O quanto é triste  a gente precisar
De um remédio pra poder viver

Mas eu queria tanto 
Que os meus hormônios
Pudessem sentir o espírito santo 
Assim como você, doutor 

E deitar na cama 
Sem nenhum calmante
Sem nenhuma droga de tranquilizante
Que me faça desmaiar, doutor

E se a voz da noite chega pra lembrar
Que eu sou um viciado 
E não posso parar
Com a droga do pensamento 

No calor do sol 
Acendo meu cigarro 
E com um rivotril embaixo do meu lábio 
Relaxo nesse momento 

Mas mãe, mãe, mãe, mãe

Se me encontrar no meu quarto
chorando, sorrindo ou gritando
Te peço que insista 
Não ligue pra polícia, não 
 
E se algum dia achar 
No fundo da mochila
Anti-depressivo, maconha e bebida
Não ligue pra polícia não, mãe

Mãe, eu descobri 

É tão doce morrer jovem, querida
Se meu sonho já morreu, 
Com a pele envelhecida

E é tão doce morrer jovem, amor
Se meu sonho hoje grita,
De tanto ódio e rancor 

É tão doce morrer jovem, querida
Se meu sonho  já morreu, 
Com a pele envelhecida

E é tão doce morrer jovem, amor
Se meu sonho hoje grita,
De tanto ódio e rancor 

Pra quem tem ansiedade
A sexualidade
Não é tão boa assim,
Não é tão boa assim,

Não é tão boa assim!

Doce menino 
Que um dia esse abismo quis ver

E agora é o olhar do abismo
Quem olha você

Você

Doce menino 
Que um dia esse abismo quis ver

Sem querer


É tão doce morrer jovem, querida
Se meu sonho já morreu, 
Com a pele envelhecida

E é tão doce morrer jovem, amor
Se meu sonho hoje grita,
De tanto ódio e rancor 

É tão doce morrer jovem, querida
Se meu sonho  já morreu, 
Com a pele envelhecida

E é tão doce morrer jovem, amor
Se meu sonho hoje grita,
De tanto ódio e rancor 

Um zolpidem,
Um diazepam,
Um amytril,
Um alprazolam

Os frutos do mundo, são lindos
Pena que eu não posso provar

As flores da terra, são belas
E eu nunca vou poder tocar 

E é por isso que eu sou
Esse jovem hoje com um cigarro 
Na mão

Só pra que amanhã 
Eu não seja 
Mais um velho sem atenção 

Sem atenção,
Com um cigarro na mão,

Sem atenção,
Sempre com um cigarro na mão

Um zolpidem,
Um diazepam,
Um amytril,
Um alprazolam

Vozes que gritam
E as cores que giram
No ar,

Me fazem penar

As enxaquecas 
Da minha cabeça
a rodar,

Me fazem chorar 

E os teus lábios
Repletos de espasmos
Vibrantes e calmos
Te fazem sofrer

Os meus sabores
se agarram às dores
Em mim,

Não consigo sorrir

Eu sempre brinco 
com um labirinto
Em mim, 

Não consigo sair

E os teus lábios 
repletos de espasmos
Vibrantes e calmos 
Te fazem sofrer


Alprazolam

Daniel Dolstói

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