Lembremos de Jesus Cristo
Quando entre nós caminhou
E padeceu neste mundo
Ao falar de justiça e semear o amor

Tanta sede de poder
Que a humanidade cegou
Em calamitoso desfecho
Ceifou a vida do seu próprio Salvador 

Lembremos de João Batista
Que no Rio Jordão batizou 
E pra satisfação de um desejo
Foi sacrificado apesar do clamor
 
De lá pra cá, meu irmão 
Muito pouca coisa mudou
O bem facilmente sucumbe 
Se das paixões não controlamos o ardor

Lições do passado.m4a

Imaginem, meus irmãos,
Como é que ficaria,
Se a quem manda nesse mundo
Dessem Daime todo dia

Todo grande comandante
Que não teme nem vacila
Tem que ir tomar o Daime
Sendo o primeiro da fila

Para quem é poderoso
Explorar seu coração,
Tem que estar reservada 
A mais forte apuração 

Se de nada mais valesse
Certamente serviria
Pra mostrar que em si mesmo
Mora grande rebeldia 

Verdadeira liderança 
É aquela que comanda
Olhando para si mesma
E sua autogovernança.

O primeiro da fila.m4a

Toca o Maracá,
Toca, meu irmão,
Que a sua batida
Determina a marcação 

Toca o Maracá, 
Nessa reunião,
Ritmo cadenciado
Como na respiração 

Toca o Maracá, 
Toca, meu irmão,
Mazurca, valsa e marcha
Sem qualquer complicação 

Toca o Maracá,
Nessa reunião,
Que ele é sua espada,
Não a deixe solta, não,

Toca o Maracá,
Toca, meu irmão,
Seu poder ancestral 
Se alastrando no salão 

Toca o Maracá,
Nessa reunião, 
Pra ancorar a mente
E resistir à dispersão

Toca o maracá.m4a

Todo dia eu agradeço,
Pela benção recebida,
De poder tomar o Daime
Sem temer por minha vida

Todo dia eu agradeço, 
Pela benção recebida,
De sentir a força do Daime,
Ao consagrar esta bebida

Neste mundo tão incerto, 
Tudo muda de lugar,
E o que hoje está tão perto
Amanhã pode se afastar

A experiência real 
Com o poder do sacramento
Pode se perder de vista
Se não ficarmos atentos 

Pode um dia acontecer
Que sejamos perseguidos
E que à nossa liberdade
Ninguém queira dar ouvidos 

Tampouco é absurdo
Que a pura ambição
Contamine a bebida
Na sua própria produção 

O Santo Daime é bom amigo
Pra quem quer se conhecer
Isso não é bem aceito 
Se seu vício é o poder

Como nós podemos ver
Não são poucos os perigos
Para quem segue essa linha
E nela encontra abrigo 

Pra mudança interior
Tomar Daime é um passo sério
E demanda nosso zelo
Pelo seu grande mistério

E porque nós não sabemos
O destino à nossa espera
Transformar-se é resistência 
Pra quando a barra for severa.

Não são poucos os perigos.m4a

No balançar de ternas ondas que me levam
Vejo uma majestosa estrela do mar

É mensageira de outro reino
Do fundo das águas veio 
Em cujo leito reina a mãe Iemanjá 

Mãe poderosa, força intens e planetária 
Odociaba, Senhora Iemanjá,

Vem socorrer a humanidade 
Tão perdida no furor
Jogando luz por onde quer que ela for.

Estrela do mar.m4a

É preciso ter cuidado 
Nessa nossa caminhada
Que o errado só é certo
Pra perder o caminho de casa

Muito fácil nessa vida
É levar um trupicão
Só se vendo na caída
Quanta falta de noção

Por isso tão importante
Quanto conseguir agir
É ter princípios e critérios 
Que mostrem por onde ir

Quem por eles se governa
Nunca segue a multidão
Busca a conduta certa
E sabe dizer um não  

Nesses tempos tão difíceis 
Exemplos são muito raros
Mas os erros nunca deixam
De custar-nos muito caro

Mas se nada lhe ajudar
Na hora da decisão 
Lembre que temos um Mestre
Que deixou grande lição 

Para descobrir o caminho
Numa hora nebulosa
Pense o que o Mestre diria 
De sua ideia fabulosa

O que o Mestre diria?.m4a

Mirei de olhos abertos
E me avistei na distância 
E quem de mim estava perto
Velava com solene vigilância

Meu cor-po prostrado no chão 
Em meio ao silêncio total
Nada ao redor se movia
E as cores tinham tom espiritual

Foi quando então entendi
Que na ce-na que eu via
Separava-me da matéria
E  era atendido pelos meus guias
 
Quando me aproximei
Por meio do pensamento
Me apontaram dois seres
Para me dar encaminhamento

O primeiro a se manifestar
Disse que minha jornada
Estava ainda incompleta  
Pois se apresentava uma chamada

Com o guia que ali se encontrava
Como a travessia de um rio
Cumpriria a dura etapa
De confrontar meu passado sombrio

Restou uma grande lição 
Colhida naquele momento
Que para chegar à luz
A sombra é degrau do aperfeiçoamento.

A luz e a sombra.m4a

Há certas encruzilhadas
Que são muito perigosas
Uma decisão errada
E lá se foi o tom da prosa

Em torno do nosso ser
Trava-se dura batalha
E a caminhada do viver 
É no fio de uma navalha

Um convite insuspeito 
Pode ser a abertura
De um amargo e duro pleito 
No palco da nossa alma

Pois no mundo há delícias
Que não são para provar
Da agonia são primícias
Prontas para aprisionar

Quem caminha acompanhado
Sabe bem que o tropeço 
Do deleite é complemento 
Ao cobrar seu alto preço 

E assim é que se cai
Vendo tudo que se ama
Ser levado num momento
Como chama que se esvai

Essa hora tormentosa
Com o destino se entrosa
Sua força contundente
Abre os olhos da gente

E o palco do sofrer
Pode ser da redenção 
Quando vem o entendimento 
No olho do furacão 

Essas duras travessias
Nos devolvem ao nosso eixo
Mesmo a custa da lapada
Na tábua do nosso queixo

Lapada no queixo.m4a

Hugo Gusmão

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