Em um território de apenas 5.802 km², há, propositalmente, uma distância não-física que separa as cidades, as pessoas, e, consequentemente, os saberes e os amores. Distância pensada para marginalizar, excluir e afastar; que determina quem não tem que adiar a felicidade e para quem chega o futuro. Distância que adjetiva os sonhos, os quais, para uma parcela da sociedade, só podem ser distantes e inalcançáveis. A incerteza inerente ao futuro é mais incerta para uns do que para outros. Se perguntar sobre o que está por vir pode ser muito doloroso quando o futuro passa e o que chega é a dor. A estrada acaba muito cedo para muitos de nós, que morrem sem conhecer a felicidade – adiada, agora, para a eternidade. Ficam para trás várias histórias por ouvir e por contar. Insistiram em nos fazer acreditar que não importa o que vem depois e que não dá para encurtar o mapa que nos leva até os nossos sonhos. A insistência incomoda. O incômodo move. Essa música é um apelo para que a gente se incomode. Para que a gente se mova tal como esse beat, que vai, meio que volta, mas anda mais um pouco. Mesmo parecendo atrasado, meio lento, nunca para. Que a gente nunca deixe de tentar subverter as distâncias, para que elas se pareçam cada vez mais com os breaks que nos fazem respirar, e, por outro lado, se distanciem mais dos ruídos que poluem cada vez mais o nosso sonhar. Que nos seja assegurada a possibilidade de não pensar sobre o depois, pois a incerteza sobre ele vir ou não partirá de nós. Que a gente se convença de que pode dar certo se quisermos e mais do que isso: que façamos acontecer.

Preto Nuvem - Sobre Distância

BSB2060

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